Embora seja possível absorvê-la pela comida, a maior fonte da vitamina D é o sol. Isso porque os raios ultravioleta B (UV-B) emitidos pelo Sol desencadeiam uma série de reações químicas que produzem vitamina D no organismo. No entanto, tomar muito sol agride e envelhece a pele, pode até causar câncer de pele – um dos tipos mais comuns no Brasil.
O assunto vitamina D esteve em pauta durante a pandemia do COVID-19 devido a sua reconhecida atuação no funcionamento do sistema imunológico, responsável pela resposta do nosso corpo a infecções. É ele que atua no controle de vírus e bactérias nocivos ao organismo. Especialistas afirmam que não existe “reforçar o sistema imune”; basta mantê-lo saudável e em condições ideais que já é o suficiente para enfrentar qualquer infecção. No entanto, um sistema imunológico em bom funcionamento não é garantia de que a pessoa não irá ser infectada pelo coronavírus.
Breve histórico
Uma das hipóteses mais aceitas para explicar a evolução das cores de pele nos humanos modernos (Homo sapiens) associa um balanço de prejuízos e benefícios trazidos por um pele mais clara ou mais escura frente ao grau de incidência solar em diferentes regiões do planeta.
No continente Africano, como os raios solares são abundantes, os indivíduos com pele mais escura acabaram ganhando uma vantagem adaptativa, associada a uma proteção extra contra a radiação solar, mas sem sofrerem prejuízos nutricionais, já que a grande exposição solar ainda garantia taxas adequadas de vitamina D diárias mesmo com a barreira extra imposta pela eumelanina.
Já na Europa, como a incidência solar é mais baixa, as pessoas com pele mais clara (nascidas com variações genéticas para uma menor produção de melanina oriundas ou não dos migrantes de pele escura da África) acabavam se sobressaindo por produzirem uma maior quantidade de vitamina D em condições de baixa luminosidade solar do que os indivíduos de pele mais escura carregando a barreira extra de eumelanina.
Depois da descoberta das vitaminas A, B e C, o nome “vitamina D” foi dado para o novo composto descoberto no início do século 20. Na verdade, a vitamina D não é uma vitamina, e sim um pré-hormônio com a mesma estrutura de esteroides. Todo o organismo possui receptores para a vitamina D, sendo importante para mais de 2500 funções celulares. A atuação mais conhecida é na absorção do cálcio na formação dos ossos, mas atua também na prevenção de doenças degenerativas, respiratórias, autoimunes, cardiovasculares e até interfere no humor.
Com a revolução industrial no século 18, as pessoas passaram a ficar cada vez mais tempo em ambientes fechado, sem receber a luz do sol diretamente. Crianças da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e má-formação dos dentes, sintomas do raquitismo. Somente no início do século 20 é que perceberam a relação entre a luz solar e o tratamento contra essa doença.
De modo geral, a concentração deve ficar entre 40 e 60 ng/ml de sangue, sendo necessário de 1000 a 2000 unidades por dia. Países nórdicos, mesmo com menos iluminação solar em boa parte do ano, não apresentam altos índices de raquitismo devido à dieta de seus habitantes, rica em óleo de fígado de bacalhau, rico em vitamina D. No entanto, é possível extrair de 10% a 20% das necessidades diárias somente de alimentos, sendo a maioria obtida através de exposição ao sol.
Radiação ultravioleta e camada de ozônio
O espectro ultravioleta é classificado como a região entre 200 e 400 nm, onde:
- UV-A: entre 400 e 320 nm, responsável pela pigmentação da pele (bronzeado)
- UV-B: entre 320 e 280 nm, responde pela maioria dos efeitos biológicos
- UV-C: entre 280 e 220 nm, conhecida pelos efeitos bactericida e germicida e são encontrados em lâmpadas germicidas e em alguns arcos de solda, mas não na luz solar na superfície da terra.
A região entre 220 e 170 nm é o comprimento de onda mais eficiente para a produção de ozônio. Isso acontece na atmosfera superior (entre 15 e 35 km acima da superfície da Terra) através de processos fotoquímicos, gerando a conhecida camada de ozônio. Com isso, essa radiação mais energética não chega à superfície. Quando o ozônio é formado próximo à superfície, é considerado um poluente por atacar as vias respiratórias e outras superfícies. Veja mais sobre ozônio e poluição no link.
Como o sol vira vitamina?
Os raios ultravioleta B penetram na epiderme (camada mais externa da pele) e reagem com uma substância presente nela, o 7-Dehidrocolesterol, que se transforma em vitamina D3. A vitamina cai na corrente sanguínea e vai até o fígado, onde é transformada em calcifediol. Dali, segue para os rins, onde é convertido em calcitriol, a forma ativa da vitamina D. Finalmente, é distribuída pelo corpo por meio do sangue.
Existem várias polêmicas nos estudos relacionados à vitamina D, mas um consenso é da preferência pelo banho de sol em vez da ingestão de pílulas contendo o composto. A conversão de compostos na pele ao receber raios UV-B do sol é um processo autorregulado que foi desenvolvido ao longo de toda a evolução do ser humano. Assim, evita-se o risco de intoxicação com vitamina D – o excesso no organismo é eliminado pela urina e pelo suor, mas pode provocar vários problemas ao longo do tempo, como insuficiência renal. O Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos diz que a máxima quantidade tolerada de vitamina D no organismo não deve ultrapassar 4000 IU/dia, mas essa quantidade pode variar de pessoa para pessoa, conforme idade ou tipo sanguíneo.
A suplementação deve fazer parte da rotina de pessoas que tenham deficiência de vitamina D e, por algum motivo, não consigam ou não possam tomar sol – por exemplo, devido a um histórico de câncer de pele. Também pode ser uma necessidade para pessoas obesas, pois a vitamina D acaba sequestrada pela gordura, e para idosos, que perdem a capacidade de sintetizá-la à medida que a pele envelhece e afina.
Como tomar sol?
Quanto mais escura a pele, mais melanina ela tem e maior a filtragem natural dos raios ultravioleta. Para pessoas de pele branca, 15 a 20 minutos de sol por dia, sem protetor solar, são o suficiente – sempre tendo o cuidado de não passar do ponto e ficar vermelho. Para quem tem um tom de pele intermediário, cerca de 30 a 40 minutos, e pele negra, até 1 hora. As peles escuras produzem até seis vezes menos vitamina D do que as peles mais claras. Note que, quanto mais a pessoa estiver bronzeada, mais difícil fica a produção da vitamina.
Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. Não precisa expor o rosto, que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena.
Quando se está em latitudes maiores (fora dos trópicos), a quantidade de radiação solar que chega em superfície é menor, o que também deve ser considerado no tempo de exposição. Quanto maior a latitude, mais importante é a época do ano para considerar no que diz respeito à insolação.
Existem superfícies que bloqueiam parcialmente a radiação ultravioleta. Até 90% do UV-A atravessa as nuvens, mas o UV-B não. Mesmo estando a meio metro dentro da água, a radiação ainda é de 40% se comparada com a superfície. Os vidros geralmente filtram uma boa parte dela, mas não bloqueiam completamente. Se passar o UV-A e não o UV-B, pode até lesionar a pele mas não chega a gerar vitamina D em quantidade considerável.
Com relação ao vestuário, roupas escuras absorvem mais luz, gerando mais emissão de radiação infravermelha e, por isso, aquecem mais. Materiais sintéticos como poliester, nylon e dacron, são menos transparentes à UV-B e à UV-A e, por isso, são mais protetores. Existem roupas especiais que bloqueiam tanto UV-A quanto UV-B, o que é uma vantagem com relação a um protetor solar FPS30, que bloqueia apenas UV-B e precisa ser reaplicado em intervalos de no máximo duas horas.
Qual é o melhor horário para tomar sol?
Com o medo do câncer de pele, o uso de protetor solar aumento consideravelmente. No entanto, um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a produção dessa vitamina. A poluição também atua bloqueando a luz solar, dificultando a chegada dos raios solares em superfície.
Embora os médicos advirtam sobre tomar sol entre 10h e 16h, por conta do risco de se desenvolver queimaduras, lesões oculares e doenças cutâneas, entre as mais perigosas o câncer de pele melanoma, o horário mais propício para se estimular a obtenção da vitamina D é entre 10h até às 15h, pois é nessa faixa que a incidência de raios UV atinge seu pico. No início e no final do dia, os raios solares chegam fracos, devido ao ângulo de inclinação da Terra.
Nossa pele não tem sensor para sentir o impacto dos raios ultravioletas como existe para os raios infravermelhos (calor), então existe o risco de exposição prolongada. Assim, situações como o sol de verão perto do meio dia ou algumas horas de exposição sem proteção devem ser evitadas. Assim, note que não é aconselhável tomar sol uma vez só por semana durante muito tempo para “ficar valendo” pelo resto da semana sem sol.
Existem protetores solares orais que são cápsulas feitas da planta olypodium leucotomos (samambaia originária da América Central). A cápsula bloqueia parte dos leucotrienos do corpo, que causam a vermelhidão na pele após a exposição solar. Ou seja, elas reduzem o impacto que os raios UV podem causar na pele, mas não bloqueiam o Sol.
Fontes
- Cor da pele, Vitamina D e Evolução
- UOL – Zinco e vitamina D têm papel na imunidade, mas não protegem do coronavírus
- Super Interessante – A origem da Vitamina D
- Wikipedia – Vitamina D
- UOL – Entenda quanto e de que maneira é preciso tomar sol para obter a vitamina D
- Juchem et al. (1998) Riscos à Saúde da Radiação Ultravioleta
- O Clima Entre Nós – #21 Sol, home office, pandemia e a sua vitamina D
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