O surrealismo é um movimento artístico e literário que surgiu na Europa, principalmente na França, durante os anos 1920. Ele se caracteriza pela expressão do pensamento e da imaginação sem a lógica e a razão que regem o mundo real, buscando expressar a realidade interior do artista.
Os artistas surrealistas buscavam explorar o mundo dos sonhos, da fantasia, do subconsciente e do irracional, a fim de criar obras que fossem além da razão e das convenções sociais. Eles também se engajaram em atividades políticas e sociais, com o objetivo de transformar a sociedade e as estruturas que reprimiam a liberdade humana. Entre os principais nomes do surrealismo estão Salvador Dalí, René Magritte, Max Ernst, André Breton e Luis Buñuel.

No movimento surrealista, as nuvens frequentemente assumem um papel simbólico de ambiguidade e transformação. Elas representam um estado de fluxo, de mudança constante, uma imprecisão que permite a coexistência de várias realidades possíveis.
As nuvens no surrealismo são frequentemente retratadas de maneira irreal ou fantástica, como nuvens que parecem sólidas e pesadas, ou nuvens com formatos incomuns e surreais. Elas também são muitas vezes usadas para criar um senso de atmosfera onírica e misteriosa.
Em algumas obras surrealistas, as nuvens podem representar uma forma de liberdade, um convite para explorar o desconhecido e o inconsciente. Em outras, elas podem ser um símbolo de opressão, representando a força da natureza ou a sensação de estar preso em uma realidade opressiva e insuperável.
Em suma, as nuvens no surrealismo podem ser vistas como um símbolo da incerteza, do desconhecido e da transformação constante, evocando emoções e sentimentos complexos que refletem a natureza do movimento surrealista em si.

“Um Cão Andaluz” é o filme surrealista lançado em 1929 por Luis Buñuel e Salvador Dalí. Buñuel e Dalí tiveram a inspiração para a criação do curta-metragem em seus sonhos. Buñuel relatou ter sonhado com uma nuvem que cortava a lua como uma lâmina cortando um olho, enquanto Dalí sonhou com formigas saindo de suas mãos. Eles se uniram e conseguiram dinheiro emprestado da família de Buñuel para realizar o projeto.
O filme resultante desafiou os padrões cinematográficos da época e não possuía um significado claro. De acordo com o Manifesto Surrealista, a criação de enunciados deve envolver uma distância entre seus significados. O curta-metragem expressava o inconsciente de maneira crua e impossibilitava qualquer interpretação objetiva.

Nas pinturas, os surrealistas também abusaram de nuvens em diversas obras. Em uma dos quadros de René Magritte, “A Vitória”, ele evocou a estranheza e ambiguidade latentes na realidade. Uma porta se fundindo à paisagem parece querer sumir, mas uma nuvem consegue atravessá-la por estar aberta. Outra ambiguidade ocorrem em “O Império da Luz”. Nele, percebe-se que o anoitecer caiu na metade inferior da imagem, com um poste brilhando pacificamente. Acima, nuvens brancas pairam sob um céu azul de um belo dia.

Na pintura “A Queda”, René Magritte apresenta os homens de chapéu-coco, famosos em suas telas, caindo do céu, como uma chuva. Considerada uma das mais conhecidas do pintor, e revela o espírito jocoso de pintura surrealista. Um paradoxo os homens caírem do céu com uma expressão absolutamente serena de quem não se abala com a improbabilidade do fato. Outro quadro que remete a nuvens e chuva é “Depois da água, as nuvens” (1926) – inversão lógica desde o título da obra.

O quadro “O falso espelho” mostra que ele não é um espelho que se limita a reproduzir as aparências – ou seja, um espelho da realidade. É preciso ir além daquilo que se esconde. Nele, o olho humano está superdimensionado e, ao invés de proporcionar uma visão do que está por dentro da alma do homem, reflete o que está fora: um céu com nuvens. Outro exemplo de visões opostas ou extremas.
Outro quadro que trabalha com essa questão de visões opostas é “Grelots roses, ciels en lambeaux” (1930), exposto no Museo Reina Sofia (Madri). Magritte inclui as nuvens juntamente com outro de seus motivos preferidos: os sinos/guizos (grelots), que evocam a infância do pintor. Nessa pintura, eles flutuam no ar ocupando metade do quadro, desprovidos de seu peso, função e escala habituais, conferindo-lhes uma aparência irreal e onírica. A técnica precisa, quase fotográfica, contribui para congelar a imagem no tempo e espaço. A outra metade da cena é ocupada por um céu repleto de esponjosas formações de nuvens, que contrastam com a majestosa rotundidade do espaço preenchido pelos sinos esféricos. A diferença cromática – azul intenso para o fundo nuboso e salmão elétrico para o espaço dos sinos – contribui para a sensação geral de desconcerto e inquietude que emana da obra, característica das mais bem-sucedidas visões surrealistas.

Em 1936, Dalí pintou “Man with His Head Full of Clouds” e “A Couple with Their Heads Full of Clouds”, que lembram muito esse quadro de René Magritte. Essas e outras pinturas do artista podem ser vistas no site Salvador Dalí Art Gallery.

Fontes