Super Aurora boreal de maio de 2024

Nas noites de 10 a 12 de maio de 2024, várias regiões do Hemisfério Norte testemunharam uma poderosa tempestade geomagnética com consequente formação de aurora boreal. Noticiada como a maior tempestade solar dos últimos 20 anos causa, gerou também uma rara aurora austral na Argentina e no Chile. Mas o que causa esse fenômeno e por que está tão forte agora?

Aurora boreal vista no Museu Nacional de Edimburgo, na Escócia, na sexta-feira (10) . Foto: Jacob Anderson / AFP
Aurora boreal vista no Museu Nacional de Edimburgo, na Escócia, na sexta-feira (10) . Foto: Jacob Anderson / AFP

Tempestades geomagnéticas

As auroras boreais e austrais são fenômenos luminosos que ocorrem nas camadas mais altas da atmosfera da Terra, conhecidas como termosfera e exosfera. No Hemisfério Norte, são chamadas de auroras boreais, enquanto no Hemisfério Sul são chamadas de auroras austrais. Esses espetáculos de luz são resultado da interação entre o vento solar e o campo magnético terrestre.

O Sol desempenha um papel crucial nesse processo, enviando luz e partículas em direção à Terra. Por sua vez, o campo magnético da Terra age como uma espécie de escudo protetor, desviando a maior parte da energia e das partículas emitidas pelo Sol. Sem esse campo magnético, a vida na Terra seria inviável devido à exposição excessiva à radiação solar.

A interação entre as partículas carregadas do vento solar e os gases da atmosfera superior, como oxigênio e nitrogênio, resulta na emissão de luz de diferentes cores, como verde, vermelho, azul e púrpura. As auroras geralmente ocorrem em altitudes de 90 a 150 km na termosfera e são mais comuns nas regiões polares. Em algumas ocasiões, grandes ejeções solares podem causar tempestades geomagnéticas, que são classificadas de G1 a G5 conforme sua intensidade e efeitos (veja mais nesse documento do Met Office sobre tempestades geomagnéticas).

As tempestades geram interferências que podem afetar as comunicações e causando interferências em dispositivos como satélites, faixas de rádio de até as frequências de GHz e o Sistema de Navegação Global (GNSS – frequentemente conhecido como GPS). Isso porque a ionosfera é uma parte dinâmica da atmosfera superior que atua como refletora para comunicações de longo alcance e alta frequência (HF). Durante uma explosão solar, o aumento da radiação de raios-X do Sol faz com que a ionosfera absorva em vez de refletir sinais, interrompendo os sistemas de comunicação no lado iluminado da Terra. Mesmo durante períodos de atividade solar tranquila, a turbulência na ionosfera pode resultar na dispersão de ondas eletromagnéticas, interrompendo sistemas de comunicação. Os “radio blackouts” podem ser categorizados em diferentes níveis de acordo com sua intensidade e impacto nas comunicações (veja mais nesse documento do Met Office sobre radio blackouts).

A Nasa, a agência espacial norte-americana, explica ainda que durante esses eventos sistemas de detecção militar e de controle de tráfego aéreo também podem ser afetados, com riscos potenciais para a segurança e sua operação eficiente. Fora isso, os campos magnéticos associados às tempestades geomagnéticas também induzem correntes nos chamados condutores longos, como linhas de transmissão de energia elétrica, podendo provocar apagões, e são prejudiciais para astronautas e outros satélites em órbita.

A maior tempestade solar já registrada foi o “evento de Carrington”, de 1859, que destruiu a rede telegráfica nos Estados Unidos, provocou descargas elétricas e uma aurora boreal visível em latitudes inéditas, até a América Central. Em outubro de 2003, tempestades geomagnéticas “extremas” causaram apagões na Suécia e danificaram transformadores de energia na África do Sul. Já em 2015, uma outra explosão solar deixou fora do ar por alguns instantes radares de aeroporto no país europeu. Os efeitos serão sentidos principalmente nas latitudes norte e sul do planeta, mas o alcance exato dependerá da força final da tempestade.

Essas tempestades ocorrem em um momento em que o Sol está se aproximando do pico de um ciclo de 11 anos de atividade intensificada, com cerca de 100 tempestades geomagnéticas severas por ciclo solar. Ao contrário das erupções solares, que viajam à velocidade da luz e são capazes de alcançar a Terra em oito minutos, as ejeções de massa coronal viajam a um ritmo mais lento, de 800 km por segundo.

Auroras do início de maio

A causa de tudo isso pode ser encontrada em uma mancha solar enorme e extremamente ativa. Chamado de AR3664, ele lançou diversas explosões solares nos dias anteriores. A mancha solar tem a largura de 16 Terras lado a lado, tão grande que você pode vê-la a olho nu. Houve muitas ejeções de massa coronal liberadas nesta explosão de atividade. Pelo menos cinco delas foram direcionadas à Terra e poderiam se combinar em uma ejeção de massa coronal ainda mais rápida do que as emitidas anteriormente.

O perfil do Met Office Space no X divulga essas ocorrências na região do Reino Unido (“Northern Lights” como chamam lá). Para os dias 10 a 12 de maio, foi anunciado que “com a previsão de muito céu limpo, há uma boa chance de ver a Aurora na metade norte do Reino Unido, e talvez mais ao sul com fotografias de longa exposição. No entanto, como as noites são mais curtas, a duração de quaisquer avistamentos pode ser limitada”. Veja essa publicação com as probabilidades de aurora para sexta e sábado:

O Instituto de Geofísica da Universidade de Fairbanks, no Alasca, também previu uma elevada atividade atividade geomagnética com auroras extensas. Segundo o instituto, “se as condições meteorológicas o permitirem, serão visíveis auroras boreais muito ativas desde Tromsø, na Noruega, até tão a sul como Dublin e Hamburgo, e visíveis a baixa altitude no horizonte até tão a sul como Paris e Munique”. Na Europa, há relatos nas redes sociais de aurora boreal em Budapeste, na Hungria, e em Reix, na Suíça e em Londres, no Reino Unido. Houve relatos também no norte de Portugal. Nos Estados Unidos, há registros da aurora boreal no estado do Massachussets.

Aurora Boreal em Edimburgo (Escócia). Foto: Sav Hand
Aurora Boreal em Edimburgo (Escócia). Foto: Sav Hand

Apesar da probabilidade ser baixa de ver em latitudes menores, existem registros de ocorrência em Portugal na noite de 25 para 26 de janeiro de 1938 (Lisboa, Porto, Esposende, Barcelos e Madeira) e 21 de janeiro de 1957 (Matosinhos, Viana do Castelo, Trancoso, Meda e Unhais da Serra). Uma aurora tingida de rosa surgiu no céu da Figueira da Foz (Portugal) em 6 de novembro de 2023:

A agência de Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) emitiu um aviso de tempestade geomagnética do tipo “severo” pela primeira vez desde janeiro de 2005. O alerta foi de nível G4, o segundo nível mais alto em uma escala que vai até o G5, ou “extremo”. Na Argentina, a tempestade solar provocou uma raríssima aurora austral, que pode ser vista no Ushuaia, ao sul do país. No Chile, o fenômeno foi visto na região de Los Lagos e na Patagônia chilena.

Para observar uma aurora boreal, tem de olhar para a direção do pólo (norte se estiver no hemisfério norte), para um horizonte limpo e sem poluição luminosa. O céu limpo (completamente ausente de nebulosidade) é um requisito fundamental pois as auroras formam-se muito acima do nível de formação das nuvens. Você pode verificar a previsão de aurora (mais a situação atual e histórico recente) no site da NOAA/SWPC – Aurora – 30 minutes forecast.

Fontes

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