A crise financeira e estrutural do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) ameaça o funcionamento das estações meteorológicas no Brasil, comprometendo a coleta de dados essenciais para a previsão do tempo e o monitoramento climático. Com o menor orçamento de sua história em 2024, apenas 25% do necessário para sua operação, o órgão já enfrenta o fechamento de unidades centenárias, como a estação de São Simão (SP), além da paralisação prolongada de estações como a de Bom Jesus da Lapa (BA), afetando setores estratégicos como agricultura, aviação e gestão de desastres.

Uma estação meteorológica é um local equipado com instrumentos para medir e registrar as condições atmosféricas em um determinado ponto. Para conhecer melhor o que é uma estação meteorológica, veja o post Estação e instrumentos meteorológicos disponível aqui nesse link. Dentre os seus principais instrumentos, estão:
- Termômetro: mede a temperatura do ar.
- Barômetro: mede a pressão atmosférica.
- Psicrômetro: determina a umidade relativa do ar.
- Anemômetro: mede a velocidade do vento (intensidade, direção e sentido).
- Evaporímetro: mede a evaporação.
- Pluviômetro: quantifica a precipitação (chuva).
Também existe a denominação de estação de radiossondagem, ou estação de sondagem atmosférica. Esse é um local dedicado ao lançamento periódico de radiossondas, dispositivos equipados com sensores que medem variáveis meteorológicas como temperatura, umidade, pressão atmosférica e velocidade e direção do vento à medida que sobem pela atmosfera, geralmente presos a um balão de hélio ou hidrogênio. O envio dos dados é realizado através de ondas de rádio para uma antena receptora, de onde são reenviados para outros locais – sistema de radiossondagem da Vaisala conhecido como Metox.
No Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) é o responsável pelas estações meteorológicas, assim como previsões meteorológicas e climatológicas, segurança hídrica e energética. Prestes a completar 115 anos, o órgão lida com uma grave crise estrutural. Em 2024, o INMET recebeu o menor orçamento de sua história, cerca de 25% do valor necessário para o correto funcionamento da instituição, comprometendo a manutenção de estações meteorológicas e a entrega de diferentes serviços no setor.
A coleta sistemática desses dados é essencial para compreender padrões climáticos, validar modelos meteorológicos, monitorar mudanças ambientais e fornecer informações críticas para setores como agricultura, aviação e gerenciamento de desastres naturais. Apesar disso, a atividade vem recebendo cada vez menos investimento ao longo dos anos. A redução forçada, portanto, não só inviabiliza o funcionamento do INMET, como também prejudica a economia e a segurança da população.
O fechamento das estações meteorológicas convencionais, muitas centenárias, sob a alegação de modernização ou de “digitalizar” a instituição, é outra consequência do planejamento inadequado. As estações convencionais e as automáticas são complementares, cada uma com funções específicas que garantem a precisão dos dados meteorológicos. Além disso, o patrimônio público referente às estações encontra-se, por vezes, em situação de abandono e entregue ao vandalismo por falta de recursos humanos e financeiros para a sua operação. Em resposta, os servidores até realizaram um Dia Nacional de Paralisação em 30 de outubro de 2024.
Mesmo assim, várias estações seguem com pane por vários meses e algumas até já foram fechadas. A estação convencional de São Simão (SP) ficou mais de quatro meses sem coletar dados devido à falta de funcionários em meio a um cenário de abandono e sucateamento. Aberta nos anos 1920, a unidade é uma das duas existentes na região de Ribeirão Preto (SP) encerrou as atividades em 31 de outubro do ano passado, depois que a única funcionária que atuava no local há 40 anos se aposentou. A estação é uma das 19 no Brasil fechadas pelo instituto desde 2022.
Bom Jesus da Lapa
A estação meteorológica de Bom Jesus da Lapa (BA, código A418) está localizada a 447,75 metros de altitude na avenida Agenor Magalhões, entre as ruas Miranda e da Caixa D’água. Ela já foi mais completa por ter três estações em uma, por realizar também lançamentos de radiossondas, e o terreno recebia capinagem duas a três vezes por ano.

No entanto, estação meteorológica automática (EMA) segue como em “pane” na página do INMET e a estação convencional está parada desde 10/04/2024. Toda a estrutura já vinha sofrendo com falta de reparos, desde a limpeza do terreno até manutenção de equipamentos. No dia 08/02/2018, a automática foi acessada pelo meteorologista amador Evandro Batista, e desde então vem entrando em contato com INMET para pedir reparo na EMA da sua localidade, informando seu estado de funcionamento falhas de comunicação perdas de dados.
Em conversa com a última equipe de manutenção que esteve na cidade em 2024, foi afirmado ao Batista que logo outra equipe voltaria para a manutenção; já sobre a convencional, não houve informação de quando voltaria a ser reativada. O abrigo meteorológico, o pluviógrafo (sem a proveta para as medições) e outros equipamentos já precisavam de manutenção, incluindo a falta de diagramas para registros dessas variáveis meteorológicas. Com relação à automática, o sensor do anemógrafo necessita de cuidados, e o transmissor que envia os dados para Brasília está com defeito. O local sofre com a questão de vandalismo, como quebra de vidraças, e roubo, como de um ventilador e equipamentos. A Polícia Federal já fez a perícia do local.
A desativação de estações meteorológicas e a falta de manutenção dos equipamentos são reflexos diretos do subfinanciamento do INMET, comprometendo não apenas a precisão dos dados meteorológicos, mas também a segurança da população e a economia do país. Enquanto o governo não reverte os cortes orçamentários e reestrutura o órgão, a tendência é de um agravamento da situação, com mais unidades fechadas e um impacto crescente na qualidade das previsões e estudos climáticos no Brasil.
Fontes
- INMET – Catálogo de estações automáticas
- Sindesf-SP – Servidores do INMET convocam Dia Nacional de Paralisação para 30/10 contra o desmonte e corte orçamentário
- g1 – Sucateada e sem funcionários, estação do Inmet que funcionava desde os anos 1920 é fechada em SP
- Bom dia Brasil – Inmet fecha 19 estações meteorológicas em três anos