A rosa dos ventos é uma imagem que representa os quatro sentidos fundamentais e seus intermediários, correspondendo à volta completa do horizonte. Nela estão representados os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais, que também podem ser representados por valores de 0 a 360º a partir do norte.
Com relação aos pontos cardeais, seu nome vem do latim “cardinalis”, que significa dizer “principal, chefe, essencial”, que por sua vez vem de “cardo” (peça em torno da qual alguma coisa gira). Já os nomes dos pontos vem do germânico:
- Norte vem de “nurtha-” (talvez do Indo-Europeu “ner-“), que significa “esquerda”, porque uma pessoa de frente para o lugar onde nasce o sol fica com a mão esquerda apontando para o Norte
- Sul vem de “sunthaz”, que significa “relativo ao Sol”, pois na Europa o Sol é associado às regiões mais distantes (opostas) do Norte
- Leste vem de “austra-” (do Indo-Europeu “aus-“, que significa “brilhar” com a ideia de “alvorada”), que significa “para o lado do nascer do sol”, “para o oriente” – . esse “aus-” acabou passando para “est” em Francês (ou “l’est”, “o leste”) e daí para o português (este ou leste, que confunde menos com a palavra “oeste”)
- Oeste veem de “we-st-” (do Indo-Europeu we-) e significa “ir para baixo, descer”, pois é isso que o Sol aparenta fazer em seu movimento no céu ao fim do dia
Para estabelecer uma direção mais precisa, são usados os pontos que se encontram no meio dos pontos cardeais. Esses pontos intermediários são denominados de pontos colaterais e seus nomes são formados por uma composição dos pontos cardeais adjacentes: Sudeste (entre sul e leste: SE), Nordeste (entre norte e leste: NE), Noroeste (entre norte e oeste: NO) e Sudoeste (entre sul e oeste: SO).
Para ser mais preciso, pode-se utilizar os pontos subcolaterais, que ficam entre um cardeal e um colateral (vide a figura com a rosa dos ventos), ou mesmo os “quarter-winds” (por exemplo, entre o norte e o nor-nordeste é o “norte pelo leste”). A forma mais clara e precisa de identificar uma direção/sentido é utilizar números em graus, cuja numeração inicia no norte e completa uma volta de 360º no sentido horário (conforme indicados os principais valores na figura da rosa dos ventos).
Ventos
E de onde vem o nome “rosa dos ventos”? O termo “rosa” vem das figuras ricamente ornamentadas utilizadas nas primeiras formas de representar as direções. Em outras fontes, também é utilizado o termo “stella maris” (ou “estrela do mar”) como referência à rosa dos ventos.
Alguns povos, como os hebreus, nomeavam as direções conforme acidentes geográficos importantes para os antigos israelitas que viviam na região da Judeia. O Leste é referido como “Kedem”, que deriva de “Edom” (“vermelho”), e pode ser uma referência à cor do Sol nascente, ou as falésias de arenito vermelho da terra de Edom para o leste; Norte é referido como “Saphon”, de Monte Zafom, no extremo norte da Síria; Sul é muitas vezes referenciado como “Negev”, do deserto de Negev, ao sul, e do Oeste é yam (“mar”, ou seja, o Mar Mediterrâneo).
Ainda falando de oriente médio, o “sharav” (em hebraico, ou “khamsin”, em árabe) é o nome de um vento muito quente que vem do deserto. Nesses dias, as autoridades recomendam que as pessoas evitem sair às ruas, deve-se tomar muita água e evitar exposição ao sol. Isso porque o organismo humano não está em balanço térmico com o ambiente, implicando em reações fisiológicas e neurológicas que causam grande desconforto ao corpo.
Dentre os gregos, as primeiras formas de representar as direções estavam relacionadas aos lugares de onde vinham os ventos, trazendo assim as características daquela região. Por exemplo, o vento de uma região marítima traz umidade. Essa informação é muito importante para a agricultura e navegação, que dependia do vento para ir de um ponto a outro.
Na mitologia grega, os ventos (em grego “Anemoi”) eram comandados por Éolo, deus dos ventos (tanto as brisas leves quanto as piores tempestades). Note aqui a origem de duas palavras comumente associadas ao vento: anemômetro (aparelho que mede o vento) e eólico (relativo ao vento, por exemplo, energia eólica, que é gerada pela força dos ventos). Na mitologia grega, o nome do conjunto de divindades que representava o vento era chamado “Anemoi”, enquanto que na mitologia romana era chamado “venti” – daí que vem a palavra vento.
Cada um dos deuses do vento estavam associados a um dos pontos cardinais a partir da sua direção de origem, cada um associado a várias estações e condições climáticas. Inicialmente eram só o deus do vento norte e o deus do vento sul, mas logo surgiram deuses para as outras direções. Nas obras de Homero, são quatro deuses (um para cada ponto cardeal), sendo que ele subentende outros quatro, e com Aristóteles já são oito direções consideradas – depois ele adiciona dois “meio-ventos” referentes a pontos sub-colaterais (Thrascias para NNW e Meses para NNE), mas somente um “contrário” (Phoenicias para SSE).
O sistema de Aristóteles tem algumas diferenças dos deuses que estão representados na Torre dos Ventos construída em Atenas, pois outros autores classificaram os ventos de outras formas até o período de sua construção. Assim, os deuses lá esculpidos são os seguintes:
- N – Bóreas (ou Aparctias)
De acordo com Hesíodo, Bóreas era filho de Astreu e Eos (deusa da aurora), e irmão de Euro, Zéfiro e Noto – além de várias estrelas, destacando-se Eósforos, a estrela da manhã. Frequentemente representado como um senhor velho, alado, com cabelos e barba esvoaçantes e bagunçados, tinha temperamento violento. Isso é condizente com os ventos que vem do norte na península grega, que são frios e mais intensos na chegada do inverno. Também carregava uma concha, o que permitia fazer barulho a uma grande distância – talvez o uivo do vento. A aurora boreal recebe esse nome por estar na região do círculo polar norte.
- NE – Kaikias
Representado levando um escudo cheio de granizo, o que leva a crer que trazia tempestades severas (talvez associadas a chegadas de frentes frias).
- E – Apeliotes
Amigo dos fazendeiros por trazer chuva leve, é representado carregando frutas e grãos.
- SE – Eurus
Esse deus não é mencionado por Hesíodo como os filhos de Eos e Astreu, e sim por Higino. Seu nome entre os marinheiros romanos era Subsolanus. O vento dessa direção traz calor e chuva, por isso diziam ser um vento de má sorte. Era representado usando roupas pesadas.
- S – Notos
Como estava associado também com as tempestades de verão e início de outono, Notus é frequentemente representado com um vaso, algumas vezes mostrando água sendo derramada. É responsável por trazer o calor e, por consequência, associado ao verão (lembrando que, no hemisfério norte, a região tropical fica ao sul). A aurora austral acontece ao sul do globo terrestre, sendo que seu nome vem do latim “Auster”, o equivalente romano do deus Notos.
- SW – Lips
Representado carregando a proa de um navio, simbolizando o auxílio aos navegadores. O vento sudoeste soprava direto para o porto de Pireu, impedindo que as embarcações a vela saíssem navegando mar afora.
- W – Zéfiro
Foi casado com Íris (a personificação do arco-íris e mensageira dos deuses) e vivia numa caverna da Trácia. Na mitologia romana, este deus era associado a Favônio, que tinha domínio sobre as plantas e as flores. Ele aparece na obra “Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli (1485), alado e abraçado a Flora (Chloris). Como a chegada da primavera na Grécia possui ventos predominantes de oeste, faz todo o sentido essa relação entre Zéfiro e Flora, a divindade associada às flores – no caso do quadro, também está associada Vênus, deusa da fertilidade.
- NW – Siroco (ou Argestes)
Era representado carregando uma urna cheia de cinzas quentes que poderia derramar. O siroco atualmente ainda é o nome do vento quente, muito seco, que sopra do deserto do Saara em direção ao litoral Norte da África, comumente na região da Líbia. Este fenômeno causa gigantescas tempestades de areia no deserto e manifesta-se quando baixas pressões dominam sobre o mar Mediterrâneo.
Torre dos Ventos
Também chamada de Horológio de Andrônico, a Torre dos Ventos está localizada na ágora de Atenas. É feita em mármore de planta octogonal e provavelmente foi construída por volta de 50 a.C. por Andrônico de Cirro. Com doze metros de altura por oito de diâmetro, era coberta antigamente por um cata-vento com o desenho de um Tritão, que indicava a direção do vento. No friso, relevos representavam as oito divindades gregas para o vento, segundo sua direção.
No interior da torre havia ainda um relógio de água (clepsidra), movido pela água que vinha da acrópole. Nos primeiros tempos do cristianismo, a torre foi usada como campanário de uma igreja bizantina anexa, destruída por um incêndio. A torre dos ventos estava semi-enterrada e chamuscada quando foi escavada e restaurada por arqueólogos no século XIX.
Baseada nela, existe uma torre dos ventos no topo do antigo Radcliffe Observatory, em Oxford (Inglaterra). No Vaticano, também existe uma torre dos ventos, mas que recebeu esse nome provavelmente por causa da instalação de um complexo anemoscópio em seu topo que funcionou durante pouco tempo.
E falando em torre dos ventos, existe também um elemento importante da arquitetura de casas da região do Golfo Pérsico que recebe o mesmo nome. Nesse caso, uma torre com muitas aberturas é construída acima do nível do telhado. Desse modo, deve direcionar o vento para dentro da casa, permitindo assim a troca do ar mais aquecido de seu interior por um ar mais fresco. Veja um pouco mais sobre seu funcionamento nesse link.
Ventos em outras culturas
O escritor romano Sêneca, em sua obra “Naturales quaestiones” (ano 65 d.C.), menciona os nomes gregos de alguns dos principais ventos, e passa a notar que um estudante romano Varro disse que havia doze ventos:
- N – Septentrio
- NNE – Aquilo
- NE – Caecias
- E – Subsolanus
- SE – Vulturnus
- SSE – Euronotus
- S – Auster
- SSW – Libonotus
- SW – Africus
- W – Favonius
- NW – Corus
- NNW – Thrascias
Com o crescimento das navegações de Gênova e Veneza depois do ano 1300, era comum utilizar as seguintes direções, também relacionadas com a origem dos ventos:
- N – Tramontana (atrás das montanhas dos Alpes)
- NE – Greco (que vem da Grécia, que está a nordeste da Itália)
- E – Levante (nascer do Sol)
- SE – Scirocco (do árabe “al-Sharq”, que significa leste)
- S – Ostro (do latim “Auster”)
- SW – Libeccio (variante do vento grego “Lips”) ou Garbino (do árabe “al-Gharb”, que significa oeste)
- W – Ponente (pôr do Sol)
- NW – Maestro (de mistral, vento frio que sopra sobre a costa do Mediterrâneo a noroeste)
Outras culturas também relacionaram deuses aos ventos ou simplesmente deram nomes próprios a ventos de direções mais marcantes para a circulação atmosférica local.
Na mitologia egípcia, Amun era o deus criador do vento, Qebui era o deus do vento norte (representado como um homem de quatro mãos ou um carneiro alado com quatro cabeças) e Shu era o deus do vento e do ar. Conforme a época ou região, um deles era o deus venerado.
Entre os astecas, Ehecatl era o deus dos ventos, enquanto que Ehecatotontli era o deus das brisas. Também existia um deus para cada direção do vento: Mictlanpachecatl (N), Tlalocayotl (E), Vitztlampaehecatl (S), e Cihuatecayotl (W).
As ruínas maias de Tulum possuem o Templo Dios del Viento (do Deus do Vento), de frente para o Mar do Caribe. Por ser uma região muito suscetível a ocorrência de furacões, é de se esperar um templo assim na entrada da baía local.
Atualmente, é comum o vento que traz características importantes para atmosfera local receber um nome próprio. Por exemplo, na região de São Paulo, existe um vento quente e seco chamado de noroeste, por vir dessa direção. Quando esse vento atinge o litoral paulista, ele desce a Serra do Mar e aumenta ainda mais de temperatura, causando grande desconforto aos moradores da região. Mais palavras usadas para nomear ventos em diferentes regiões do mundo podem ser vistos nesse link.
Fontes
muito bom trabalho. Profundo, informativo. Vou estudar para tirar ideias para meu texos
Legal, que bom que gostou. Obrigado pela visita!
MUITO BOM!!!