Compartilho aqui uma foto bem curiosa de nuvens que foi enviada pelo meteorologista amador Evandro Batista Rodrigues Pereira. Parece que o céu virou uma pista de pouso ou uma estrada, delimitada por linhas de bordo e uma linha de divisão de fluxo seccionada ao centro. Vamos entender um pouco mais da situação aeronáutica e meteorológica para entender as condições de formação desse fenômeno.
O que aconteceu nesse caso foi a formação de três trilhas de condensação devido à passagem de aviões. Os aviões passaram em um intervalo de tempo de poucos minutos e a uma certa distância entre si, formando a curiosa imagem.
Uma das causas está relacionada a gases quentes que saem das turbinas e encontram ar mais frio ao redor, onde o vapor d’água, resultado da queima do combustível, condensa ou sublima (forma partículas de gelo). Elas também pode se formar devido à queda de pressão e temperatura nos centros de vórtices que partem das pontas das asas. Quando o ar está saturado com vapor d’água e temperatura abaixo de -45°C, o que geralmente acontece é a formação de cristais de gelo.
Essa foto foi tirada na manhã de 5 de agosto de 2021 em Bom Jesus da Lapa/BA. Uma consulta ao site Flight Radar 24 pelo próprio fotógrafo no horário da foto evidenciou uma rota com algumas aeronaves passando sobre o local. Em consulta ao instrutor de escola de aviação Marcelo Rodrigues, ele encontrou um desses voos, o LA3357 (BSB/REC), através do mesmo site e foi possível verificar que estava em altitude de cruzeiro a 39 mil pés.
Para saber qual carta meteorológica observar, convertemos a altitude do nível de voo: 11887 metros ou 200 hPa aproximadamente. O site Earth Nullschool apresenta uma visualização das condições de tempo no mundo todo. Consultando o site para o local, dia, horário e nível de 250 hPa (o mais próximo do voo), a temperatura está em -41.8°C – a consulta está disponível nesse link.
Na análise da carta sinótica de 250 hPa desse dia, disponível no site do CPTEC/INPE, observa-se um padrão de circulação anticiclônica no leste da Região Nordeste do Brasil. Em 500 hPa, observa-se uma ampla circulação anticiclônica sobre grande parte do Brasil Central, padrão típico para esta época do ano. Este tipo de circulação favorece movimentos subsidentes na camada e dificulta a formação de nebulosidade significativa e favorece o entranhamento do ar seco da camada média da troposfera para os níveis inferiores.
O cenário sinótico explica o céu claro, em que a pouca umidade disponível para formação da nuvem estava associada à passagem das aeronaves. Nuvens finas de cristais de gelo, aspecto sedoso e formada em altos níveis da troposfera são chamadas de cirrus. Além do gênero cirrus, ela pode receber também a classificação homogenitus por ser gerada através da ação humana.
O Evandro, autor da foto, também faz captura de imagens de satélite em casa usando uma antena feita artesanalmente usando materiais reciclados! Mas isso é um assunto para outro post =)