Passeios em Parelheiros

Pode parecer estranho para alguns, mas a cidade de São Paulo, uma das maiores do mundo, tem uma grande região rural em seu extremo sul, que faz fronteira com municípios do litoral e  tem vista para o mar. Além disso, tem aldeias indígenas, cachoeiras e uma cratera resultante de uma colisão de um meteorito com a Terra. Veja alguns passeios e aventuras para se fazer na região.

Paróquia de Santo Expedito e Nossa Senhora de Aparecida em Colônia. Foto: ViniRoger
Paróquia de Santo Expedito e Nossa Senhora de Aparecida em Colônia. Foto: ViniRoger

Seguem algumas sugestões de atrações turísitcas em uma ordem para serem visitados, partindo-se da região do autódromo de Interlagos. Para chegar lá, deve-se pegar a avenida Interlagos e seguir em suas “continuações”: av. Senador Teotônio Vilela e av. Sadamu Inoue até chegar no centro de Parelheiros. De lá partem duas Estradas importantes na região: Estrada da Colônia e Estrada Engenheiro Marsilac.

Paróquia Santa Cruz

Parelheiros recebeu este nome devido às diversas corridas de cavalos (parelhas) entre germânicos e brasílicos. Antes era conhecido como Santa Cruz, porque existia uma cruz no local. A Igreja de Santa Cruz, construída em 1898, foi tombada como patrimônio histórico do distrito, conservando até hoje suas características originais. Fica próxima ao terminal de ônibus e é o ponto de partida para todos os passeios da região.

Cratera da Colônia

Por determinação e convite do governo imperial, um grupo de 200 imigrantes chegou a São Paulo em 1827 para o estabelecimento de uma colônia agrícola. Sua principal atividade econômica era estração de madeira bruta para serrarias instaladas em Santo Amaro. Sem o apoio do governo e enfrentando toda sorte de dificuldades, a colônia entrou em rápida decadência, levando muitos a deixarem a região. Possui como principais atrações históricas o primeiro cemitério protestante do Brasil e a Igreja da Colônia.

Essa colônia está localizada em uma depressão de formato circular que mede cerca de 3,6 km de diâmetro. Depois de décadas, descobriu-se que sua formação deve-se à queda de um corpo celeste no local, há cerca de 36 milhões de anos. No local, vivem cerca de 40.000 pessoas e existe um Presídio Estadual. Veja alguns estudos sobre a Cratera de Colônia clicando no link.

Existem dois mirantes “principais” da cratera, ambos com o caminho indicado por placas. O mirante mais fácil de chegar está com acesso indicado na Estrada da Colônia logo que se chega no bairro partindo de Parelheiros. O outro mirante (apresentado no vídeo acima) está na Estrada da Cratera, cujo acesso está na “continuação” da Estrada da colônia (Estrada da Barragem), à direita em uma Estrada de terra, depois de passar pela parte urbana do bairro (Av. José Lutzenberg, veja no Google Maps clicando no link). Essa Estrada da Cratera liga a Estrada da Barragem com a Estrada Eng. Marsilac (próximo ao bairro Embura).

Borboletário

No começo de 2015, foi inaugurado o primeiro Borboletário da cidade de São Paulo, com mais de 250 mil metros quadrados e duas mil borboletas. O Borboletário Águias da Serra permite estar no mesmo espaço que elas e ainda aprender muita coisa interessante sobre seus hábitos e desenvolvimento. Ainda oferece outras atrações, como passeio de caiaque, fazendinha (podendo alimentar o burro, vaca e cavalo), parquinho infantil, parede de escalada, arena de lama e trilha na mata atlântica. Abre de final de semana e feriado, exceto se estiver chovendo.

Entrada do Borboletário, dentro do espaço Águias da Serra. Foto: ViniRoger.
Entrada do Borboletário, dentro do espaço Águias da Serra. Foto: ViniRoger.

O Borboletário fica na Estrada da Ponte Alta, 4300. Partindo da Paróquia de Santa Cruz, vira-se à direita para pegar a Estrada Engenheiro Marsilac. Seguir nessa Estrada por algum tempo no sentido Marsilac – cuidado em uma parte com uma bifurcação para a Estrada do Cipó, que vai para Embu Guaçu. Chegando ao Embura, siga as placas para o mirante da ponte alta, que fica na Estrada da Ponte Alta – só depois do mirante que aparece uma placa indicando que é para seguir à direita.

Mirante da Ponte Alta

A região possui duas linhas de trens: a Mairinque-Santos e o ramal de Jurubatuba. Veja um pouco sobre a história das linhas para entender melhor como era e como ficou a situação ferroviária na região.

A São Paulo Railway – SPR ou popularmente “Ingleza” – foi a primeira Estrada de ferro construída em solo paulista, ligando Jundiaí a Santos. Construída entre 1862 e 1867 por investidores ingleses, tinha inicialmente como um de seus maiores acionistas o Barão de Mauá. Hoje a linha funciona de Paranapiacaba, passando como trem metropolitano da CPTM pelo ABC e vai até o Brás e Luz, continuando via zona norte até Francisco Morato e Jundiaí.

A Estrada de ferro Mairinque-Santos, projetada desde 1889, quebraria o monopólio da São Paulo Railway para ligar o interior ao litoral. Foi iniciada em 1929 e terminada em 1937, com a ligação das duas frentes, uma vindo de Santos e outra de Mairinque. Com o fim da Sorocabana e a criação da Fepasa, em 1971, a linha foi prolongada até Boa Vista, no fim dos anos 80 (retificação do antigo ramal de Campinas). Houve tráfego de passageiros entre Mairinque e Santos até cerce de 1975, e mais tarde entre Embu-Guaçu e Santos, até novembro de 1997. A linha opera até hoje sob a administração da Ferroban.

O ramal de Jurubatuba, pertencente à E. F. Sorocabana, foi construído entre 1952 e 1957 para encurtar a distância entre a Capital e Santos. Partindo da estação de Imperatriz Leopoldina, a linha seguia até Evangelista de Souza, na Mairinque-Santos, no alto da serra, para dali descer para o porto. Transportando passageiros e cargas desde a abertura da linha em 1957, o ramal acabou por se tornar uma das linhas de subúrbio da Capital. Atualmente, funciona somente o trecho que vai de Osasco até o Grajaú, com os trilhos retirados do restante do trajeto – a estação Autódromo foi construída próxima de onde estava a estação Cidade Dutra. Além das estações São Bernardo e Interlagos, foram também construídas as estações de Casa Grande, Colônia e Barragem. Depois vieram as estações de Grajaú e Varginha em 1992 pela Fepasa.

Construída para atravessar a linha férrea em segurança, a Ponte Alta proporciona uma linda paisagem da região. Para chegar ao mirante, veja o caminho para o Borboletário. Veja mais sobre as estações ferroviárias clicando no link.

Vilas de Marsilac e Evangelista de Souza

Seguindo a Estrada Engenheiro Marsilac até o final, atinge-se uma pequena vila com uma praça com o ponto final do ônibus “Marsilac”, que sai do terminal Varginha, um posto da Polícia Militar, comércio local e moradores. No local havia a estação Engenheiro Marsilac (chamava-se Embura durante a construção), inaugurada em 1934. Seu nome homenageia um dos engenheiros projetistas do ramal, José Alfredo de Marsillac, que ficou praticamente cego devido a um acidente na época da construção do trecho.

Já antes de 1986 a estação foi demolida; no seu lugar hoje há um campinho de futebol. Alguns metros antes, foi construída uma nova estação, chamada pelos habitantes do longínquo bairro de Marsilac de “estação nova”. Em 1998, a estação já tinha sido demolida: o tráfego de passageiros no trecho foi suprimido no final de 1997.

Continuando a linha de trem no sentido Santos, existe a estação Evangelista de Souza, também o destino final do ramal de Jurubatuba. Recebeu esse nome em homenagem ao Barão de Mauá e foi entregue em 1935 como um edifício construído em madeira, com sua versão em alvenaria somente ficando pronta no ano seguinte. Recebeu trens de subúrbio até cerca de 1980, enquanto que, vindo de Mairinque, os trens de passageiros foram suprimidos por volta de 1973. Em 1997, com a suspensão da linha Embu-Guaçu-Santos para passageiros, a estação deixou de atender passageiros.

Depois de uma reforma feita pela América Latina Logística (ALL), na estação funcionava o bar, os escritórios de supervisão do pátio, tecnologia operacional, e escritório da via permanente. Em 2014, voltou a ficar abandonada.

Para chegar na estação Evangelista de Souza (coordenadas -23.930885, -46.647827), era possível partir de Marsilac e seguir uma Estrada de terra que margeia a linha de trem. Fazia-se o caminho afastando um pouco às vezes mas mantendo a Estrada de ferro sempre à esquerda até um cruzamento e seguindo paralelo ao outro lado. Porém, devido à duplicação da ferrovia, esse caminho ficou muito estreito depois de um certo ponto, obrigando a um grande desvio por algumas quebradas pelo outro lado da linha, partindo de Marsilac, pegando uma tal “Estrada do jipe do negão”. Pode-se optar pela sequência Estrada da Colônia – Estrada da Barragem – Estrada Evangelista de Souza. Também dá para pegar o ônibus do terminal Parelheiros para “Barragem”, descer no ponto final e andar 6,5 km pela linha do trem até lá. Veja esse relato de um visitante de Evangelista de Souza e esse vídeo do Café Ferroviário mostrando a estrada de ferro de Marsilac até o trecho de Serra.

Núcleo Curucutu (Parque Estadual da Serra do Mar)

Mirante no Núcleo Curucutu (maio/2023). Foto: ViniRoger
Mirante no Núcleo Curucutu (maio/2023). Foto: ViniRoger

Criado em 1977, o Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) é a maior área de proteção integral de toda a Mata Atlântica, da qual restam pouco mais de 7%. O Núcleo Curucutu do PESM protege 26.000 hectares de floresta atlântica. Dentro do Núcleo é possível realizar a Trilha do Mirante que atinge o cume da Serra do Mar e faz divisa entre os municípios de São Paulo e Itanhaém com 2,1 km de extensão (ida e volta) e vista do oceano e das praias em dias com boa visibilidade. Também possui a Trilha da Bica, com 1,4 km que leva a uma bica d’água, e a Trilha do Telégrafo, que faz parte do projeto que interligará os Núcleos Curucutu e Itanhaém do Parque. Essa última não está aberta à visitação, mas a Trilha do Mirante pode ser percorrida após agendamento no site de reservas da Fundação Florestal.

Localizado na Rua da Bela Vista, 7090 (antiga Estrada da Reserva), a linha de ônibus que deixa o visitante a 11km do Parque (local mais próximo) é a 6L02, Term. Parelheiros – Jd. Eucaliptos. De carro, deve-se seguir até o Borboletário e continuar na mesma Estrada até o final – coordenadas -23.985688, -46.743063.

SelvaSP

O SelvaSP Parque de Aventura possui uma área de 17 mil metros quadrados de natureza preservada e a Cachoeira de Marsilac. Tem estrada de asflato novo até a entrada, estacionamento próprio, restaurante, trilha auto guiada com 2 pontes pênsil, Passeio de Caiaque e Stand Up Paddel (prancha com remo) em área limitada do rio, Falsa Baiana por cima do rio Capivari, tirolesa, e outras atrações. Por ser uma área particular, é necessário agendar e pagar um valor – veja mais no site do SelvaSP.

Cachoeira do Marsilac com prainha (Fevereiro/2023). Foto: ViniRoger
Cachoeira do Marsilac com prainha (Fevereiro/2023). Foto: ViniRoger

Solo Sagrado

Por volta de 1940, a região passou a receber também imigrantes japoneses, que vieram para explorar a agricultura. Cortado por Estradas sinuosas e estreitas, é pontilhado por sítios e fazendinhas que produzem lenha, hortaliças, flores e plantas ornamentais. Entre essas, os buxinhos, que se prestam para bonsai e topiaria, a arte de esculpir em árvores, as tuias – árvores de natal vendidas com raiz e símbolo da vida eterna.

Hoje, a Igreja Messiânica, de origem nipônica, tem seu maior templo fora do Japão: o Solo Sagrado de Guarapiranga, inaugurado em 1995. Em área de 372 mil m² às margens da represa, pretende proporcionar um encontro harmonioso entre o homem e a natureza, com ênfase na contemplação e elevação espiritual. O templo foi construído em forma de anel, sustentado por 16 pilares de 18 metros de altura, simbolizando todas as direções do mundo. Uma torre representa a ligação entre o divino e o terreno.

Solo Sagrado. Fotos: ViniRoger
Solo Sagrado. Fotos: ViniRoger

Para chegar no Solo Sagrado, basta virar à direita no começo da avenida Sadamu Inoue conforme placa indicativa e seguir as outras placas.

Ilha do Bororé e Áreas de Proteção Ambiental

Na verdade é uma península que fica no extremo sul da capital paulista, no entorno da represa Billings. Como o bairro tem mais difícil acesso por asfalto, existe uma balsa que travessa a Represa Billings ligando a Ilha do Bororé à Avenida Dona Belmira Marim. A viagem dura no máximo cinco minutos e é de graça. No final de semana, a espera é grande, devido ao grande movimento. Do terminal de ônibus Grajaú sai uma linha de ônibus que utiliza a balsa.

Na região de Parelheiros existem diversas cachoeiras como Jamil, Usina, Virgens, Forno, Túnel 24 e outras, além dos rios Capivari, Monos, Branco, dos Campos e outros afluentes. Inclusive, há duas aldeias indígenas Pyau (Krucutu) e Tenondé Porá (Morro da Saudade), de um subgrupo guarani, com cerca de 1.000 pessoas, localizadas na Estrada da Barragem e que mantém vivas sua língua, cultura, religião.

Veja mais informações no site da APA Capivari – Monos.

10 comments

  1. Excelentes locais para quem gosta de natureza e da curiosidade de estar ainda numa metrópole. Existe ainda a cachoeira do Jamil, no rio Capivari-Monos. A Cachoeira do Sagui, das Virgens entre outras.

  2. Obrigado!
    A região é Maravilhosa, o Ar puro, encantador ao chegar em Varginha parece a cidades de filmes ou seriados, uma cratera do alto…cheia de mato ao redor. Fácil Acesso. Centro de SP, Vinte 23 de Maio, Interlagos, Teotônio Vilela(siga pelo autódromo), SADAMU INOUE , somente em parelheiros curva no cruzamento com igreja….vire a esquerda e vai embora aí placa ou Marsilac ou Varginha. Boa sorte . Local abençoado por Deus:D e pra quem gosta de pedalar , rodoanel do lado, para que mora ABC(maúa) , diadema. fácil chegar, ou Itapecerica, Osasco, Barueir… ou qualquer local que esteviver entre o Rodoanél. Boa sorte!

      1. Para chegar na colônia, pode-se ir até o Terminal Santo Amaro e pegar o ônibus para Vargem Grande (6091-10), que faz ponto final lá. Também dá para ir até o Terminal Varginha (do terminal Santo Amaro e da estação Grajaú da CPTM saem ônibus para lá, assim como de outros terminais) e então pegar o 6L05-10 Barragem ou o 6073-10 Jd. Santa Terezinha, que passam lá.

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