Um fenômeno ocorrido no século XIX e que explica muito da situação atual do continente africano é a chamada Partilha da África. Entre as décadas de 1880 e 1910, os principais países europeus reivindicaram territórios e áreas de influência militar e econômica. Essa disputa pela África esteve entre os principais fatores que deram origem à Primeira Guerra Mundial.
A escravidão esteve presente no continente africano muito antes do início do comércio de escravos com europeus na costa atlântica, através dos árabes. Os árabes conquistaram todo o norte africano, provocando a propagação do islamismo e da língua árabe na região. O restante da África, localizado abaixo do deserto do Saara, ficou conhecida como África Subsaariana.
Consta que o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou a venda mais de 11 milhões de indivíduos. O investimento europeu em guerras geradoras de escravos modificou profundamente a África e também as Américas. Cidades atacavam outras cidades, escravizando a população. No início do século XIX, havia forte pressão para que o tráfico de escravos africanos fosse extinto. Estudiosos afirmaram que a escravidão era deficitária pois empregava uma enorme quantidade de capital humano que produzia muito abaixo daquele gerado por homens livres, e também não gerava mercado consumidor para os produtos vendidos pela classe burguesa. Esse movimento, ao contrário do que se poderia esperar, não extinguiu a escravidão no continente africano, mas fez nascer o modo de produção escravista dentro da própria África.
A partir do momento que o continente africano não podia mais fornecer escravos, o interesse das potências colônias inclinou-se para a sua ocupação territorial. Muito se deve à exploração de riquezas minerais e agrícolas, até então só parcialmente conhecidas. Inicialmente, a região toda havia sido dividida entre várias companhias privadas que tinham concessões de exploração. Por exemplo, a Guiné estava entregue a uma companhia escravista francesa; o Alto Níger era controlado pela Companhia Real do Níger, dos britânicos; a África Oriental estava dividida entre uma companhia alemã e uma inglesa. Cecil Rhodes era o chefe da companhia sul-africana, que explorou a atual Zâmbia e Zimbabwe e fez a seguinte declaração: “todas estas estrelas… estes vastos mundos que se mantiveram fora de alcance. Se pudesse, anexaria outros planetas”.
A industrialização provocou avanços significativos nos transportes e comunicações, especialmente na utilização de Vapores, ferrovias e telégrafos. Os avanços médicos também foram de grande importância, em especial, a descoberta da cura para as enfermidades tropicais.
Conferência de Berlim
Atendendo ao convite do chanceler do II Reich alemão, Otto von Bismarck, 12 países com interesse na África encontraram-se em Berlim entre novembro de 1884 a fevereiro de 1885, para a realização de um congresso. Com a aliança entre a Alemanha e o Império Austro-Húngaro (e mais tarde formando a Tríplice Aliança com Itália), fixou as regras para um maior controle efetivo dos territórios estrangeiros. para garantir a propriedade de qualquer território no continente, as potências europeias tinham de ocupar de fato a parte desejada. Assim, ocupações e acordos foram feitos, fronteiras foram estabelecidas. Até 1914 a África encontrou-se quase que inteiramente dividida entre os principais países europeus (vide mapa).
Essa apropriação provocou mudanças profundas não apenas no dia-a-dia, nos costumes, na língua e na religião dos vários grupos étnicos que viviam no continente. Também criou fronteiras que, ainda hoje, são responsáveis por tragédias militares e humanitárias já que não foram respeitadas as diferenças étnicas, históricas e geográficas. A conquista da África foi entremeada de tenaz resistência nativa. A mais célebre delas foram as Guerras Zulus, travadas no século 19 pelo rei Chaka (que reinou de 1818 a 1828) na África do Sul, contra os ingleses e os colonos brancos boers. Uma prática comum de dominação também era a de se aproveitar da rivalidade entre grupos étnicos locais ou criá-la, se fosse inexistente, e tomar partido de um deles. Com o apoio do escolhido, a quem forneciam armas e meios para dominar os rivais, os europeus controlavam a população inteira.
Existem duas regiões sem raízes na disputa europeia pela África. A Libéria, fundada e colonizada por escravos vindos dos EUA libertos com a ajuda de uma organização privada chamada American Colonization Society, entre 1821 e 1822, na premissa de que os ex-escravos americanos teriam maior liberdade e igualdade nesta nova nação.Estes colonos criaram um grupo de elite da sociedade da Libéria, e, em 1847, fundaram a República da Libéria, que instituiu um governo inspirado nos Estados Unidos, nomeando Monróvia como sua capital, homenageando James Monroe, o quinto presidente dos Estados Unidos e um proeminente defensor da colonização (inclusive a bandeira lembra a dos EUA).
A Etiópia, um Estado monárquico com raízes no século X a.C., foi o outro dos países que mantiveram sua independência. Quando as outras nações africanas receberam sua independência, muitas deles adotaram cores da bandeira da Etiópia. Teve as suas fronteiras redefinidas com a Somália Italiana (atuais Somália e Eritreia), fugazmente ocupada pela Itália entre 1936 e 1941, e a Somália Francesa (moderno Djibouti). No período após a queda da monarquia, a Etiópia transformou-se em um dos países mais pobres do mundo.
Descolonização
A independência de muitas regiões tornou-se possível após 1945, devido a exaustão em que as antigas potências coloniais se encontravam ao terem-se dilacerado em seis anos durante a Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945). A independência das colônias portuguesas em África iniciou-se em 1973 com a declaração unilateral da República da Guiné Bissau, que foi reconhecida pela comunidade internacional, mas não pela potência colonizadora. As restantes colónias portuguesas ascenderam à independência em 1975, na sequência da Revolução dos Cravos.
Fontes
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