O Brasil possui muitos cantores e compositores com temática regional e que geralmente não fazem parte do grupo dos “mais tocados” nas rádios e televisão no Brasil todo, somente na própria região. Mas nem por isso deixam de ser cultura e ter qualidade. Esse post é para falar de um artista da região amazônica.
Nicolas Júnior é natural de Santarém no Estado do Pará, onde, aos 12 anos, começou a tocar violão de maneira autodidata. Aos 15 anos, foi estudar em um internato em Ouro Preto D’Oeste/RO, onde deu início às suas composições.
Em 1998, foi para Manaus, onde ia passar só um mês para fazer um curso técnico de áudio e vídeo num estúdio. Descobrindo que não tinha muita aptidão “para aquele monte de botão”, chegou a atuar anteriormente como assessor administrativo e no setor de vendas. Após dois anos, o estúdio em que trabalhava faliu e Nicolas decidiu apostar na carreira musical, compondo jingles para campanhas publicitárias e cantando em barzinhos da cidade.
Lançou seu primeiro disco em 2000 (intitulado “Nicolas Jr.”) e o segundo em 2002 (intitulado “Simetria”), dentro do Projeto Valores da Terra da Fundação Villa Lobos. Até então, a rotina regional era cantada de forma contemplativa e romântica. Em 2005, em uma parceria com os jornalistas Aldísio Filgueiras e Joaquim Marinho, põe em prática o projeto de lançar um disco totalmente irreverente e diferente de tudo o que se estava acostumado a ouvir na cidade.
Conhecido por suas músicas críticas e bem-humoradas sobre o cotidiano amazônico (particularmente do manauara), Nicolas coloca em pauta temas de política, cultura, linguagem e culinária da região no álbum “Divina Comédia Cabocla“. Por exemplo, uma de suas músicas mais conhecidas é “Geisislaine“, que fala de uma moça que é produto social e não se deixa interferir pela ditadura da moda. Veja esse trecho, que também serve para ilustrar o regionalismo da linguagem:
“E na cabela uma fita verde e branca
Que nós ganhemo de lembrança
Da amazônia celular”
Na mesma linha, “Rubenilson” mostra o diálogo bem humorado de um casal e a preguiça do marido em fazer as tarefas. No final da música, fica difícil não dar risada das reações de ambos.
O nome do álbum “Divina comédia cabocla” faz menção à Divina Comédia, de Dante Alighieri, na qual o protagonista é levado para uma exploração ao mundo espiritual, dividido em inferno, purgatório e paraíso. A analogia fica evidente na música “Viagem Insólita de Um Caboclo“, que conta da viagem do eu-lírico para as “bandas do sudeste”. Seu primo fica contando “vantagens” da urbanização extrema, enquanto que o amazonense levanta a bola do rio Amazonas, culinária e outras coisas (que não são bem “vantagens”, mas que mostram o bom humor da canção):
“A piscina lá de casa
É que é demais já muito grande
Fica até dificultoso pros menino tomar banho
A bicha mede 3 km de largura
Ela nasce no Peru e vai bater no Oceano”
Em certas músicas, o regionalismo é tão extremo que fica difícil para quem não está acostumado acompanhar. “Feira da Panair” fala o nome de dezenas de peixes vendidos na Feira da Panair, localizada no centro histórico de Manaus. “O Amazonês” contém toda uma descrição de um típico amazonense:
“Sou amazônes, num é ‘fuleragi’
Eu sou bem dali e dou de ‘cum força’ na farinha
E sou ‘inxirido até o tucupi”
Em “Quizumba“, a letra consegue ser composta praticamente só de termos regionais, que vão construindo as rimas e a realidade regional.
Nicolas teve suas canções gravadas por grandes interpretes da música amazonense, como David Assayag, Grupo Carrapicho, Cinara Nery, Amilcar Azevedo, Lucilene Castro e Fátima Silva. Gravou o CD “Divina Comédia Cabocla 2” em 2009 e em 2013 o álbum “Mãos”, baseado em grandes nomes da arte mundial que usaram as mãos para expressar seus talentos
Conheça você também as letras e músicas de Nicolas Júnior clicando no link e na playlist de vídeos abaixo:
Fontes