Molha mais andar ou correr na chuva?

Quando começa a chover e você precisa sair da chuva para se abrigar em algum lugar, o que molha mais: correr ou andar? Se a chuva for vertical e constante, é melhor correr, pois quanto menos tempo ficar debaixo d’água, menos ensopado você fica. No entanto, outras variáveis podem mudar essa resposta.

Sob outro ponto de vista, o fluxo de água sobre o indivíduo diminui ao andar devido à diminuição do ângulo de inclinação da chuva em relação à direção vertical, em seu referencial. Assim, se a pessoa está andando, menos água a atinge a cada segundo. No entanto, ela conclui seu percurso em mais tempo. Se ela está correndo, mais água a atinge a cada segundo, mas em compensação o percurso é concluído em menos tempo.

Cálculo do total de água recebida durante movimentação na chuva. Fonte: Minuto da Física
Cálculo do total de água recebida durante movimentação na chuva. Fonte: Minuto da Física

A medida que você sai do caminho de uma gota em queda, você entra no caminho de outra. Daí a quantidade de chuva que cai sobre a sua cabeça é constante, independente da sua velocidade. O total de chuva recebida é igual ao total por segundo que você recebe na cabeça vezes o tempo que você passa na chuva, mais a quantidade de chuva recebida frontalmente por metro, vezes a distância percorrida. Assim, para ficar o mais seco possível ao ir de um ponto a outro, você deveria tentar reduzir a quantidade de água caindo na sua cabeça.

Importante também é que nem toda precipitação pluviométrica é vertical, muito menos constante. Além do ângulo e da constância da chuva, é preciso considerar ainda a absorção de água, já que nem toda gota que cai é completamente absorvida por quem está se molhando. Esses pontos foram abordados no estudo “Andar ou correr na chuva: um problema não-trivial“, de autoria de Henrique Patriota, Alberto Carlos Bertuola e Paulo Peixoto, publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física em 2013.

Massa de água que é absorvida por um paralelepípedo representando a pessoa se movimentando (em unidades do valor limite, que representa o produto entre densidade da água e dimensões do paralelepípedo) em função de sua velocidade (em unidades da velocidade de queda da chuva). Fonte: Patriota et al. (2013)
Massa de água que é absorvida por um paralelepípedo representando a pessoa se movimentando (em unidades do valor limite, que representa o produto entre densidade da água e dimensões do paralelepípedo) em função de sua velocidade (em unidades da velocidade de queda da chuva). Fonte: Patriota et al. (2013)

Nesse estudo, verificou-se que o aumento da velocidade de percurso numa chuva vertical eleva a fração da massa de cada gota absorvida pela região frontal do indivíduo. Assim, existe uma “velocidade ideal” para se molhar o mínimo possível: mover-se acima ou abaixo dela representa se molhar mais. Considerando-se a velocidade de queda da chuva como 9m/s, essa velocidade fica em 2,4 m/s aproximadamente – o que corresponde a algo intermediário entre andar e correr.

Dentre os fatores levantados que podem interferir no resultado do problema são:

  • A chuva é vertical ou há vento (chuva inclinada, e em qual direção)?
  • Pode-se aproximar a chuva como sendo homogênea (mm/h como constante, distribuição do tamanho de gotas)?
  • Trata-se de uma garoa, de um temporal ou de algo intermediário?
  • Quais são as características físicas do indivíduo (altura e área corporal)?
  • Ele está vestido com que tipo de tecido (bom absorvedor ou não de água)?
  • A roupa é justa ou folgada? Há dobras (aumento de superfície de contato com a água)?
  • Como ele se move (correndo, andando, rápido, devagar…)?
  • A distância a ser percorrida é curta, média ou longa? E o que significa ser “curta”, “média” ou “longa”?
  • O percurso é feito em linha reta? Horizontalmente, subindo, descendo?

Assim, devido a tamanha complexidade, tudo precisaria ser muito bem controlado e algumas simplificações ainda seriam necessárias para tornar possível a realização do experimento. A melhor recomendação que os autores desse estudo têm é: “tenha à mão um guarda-chuva”.

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