Qual é o passado por trás das nossas compras envolvendo cartão eletrônico e transações via internet? Inicialmente, praticava-se o escambo: simples troca de mercadoria por mercadoria, sem equivalência de valor. Algumas mercadorias, pela sua utilidade, passaram a ser mais procuradas do que outras. Essas mercadorias eram aceitas por todos e assumiram a função de moeda, circulando como elemento trocado por outros produtos e servindo para avaliar-lhes o valor como uma referência. Exemplos desse tipo de “mercadoria-moeda”: sal, gado, cacau (América Central). A palavra capital (patrimônio) vem do latim capita (cabeça), e a palavra salário (remuneração) tem como origem a utilização do sal, em Roma, para o pagamento de serviços prestados, inclusive por soldados. No atual arquipélago de Yap, moedas gigantes de pedra eram utilizadas como dinheiro (veja mais no post As moedas gigantes de Yap e o Bitcoin).
Os utensílios de metal passaram a ser mercadorias muito apreciadas, já que sua produção exigia domínio das técnicas de fundição e a obtenção do metal em lugares específicos e essa tarefa não estava ao alcance de todos. Assim, no século VII a.C., surgiram as moedas na Antiga Grécia, utilizando ligas de prata e ouro. Nelas podem ser observados aspectos políticos, econômicos, tecnológicos e culturais, sendo de grande importância em estudos arqueológicos e históricos. As peças possuíam valor intrínseco, ou seja, possuíam o valor comercial do metal utilizado na sua confecção. Durante muitos séculos os países cunharam em ouro suas moedas de maior valor, reservando a prata e o cobre para os valores menores. Estes sistemas se mantiveram até o final do século XIX, quando o cupro-níquel, bronze-alumínio, aço inoxidável, alumínio e outras ligas metálicas passaram a ser muito empregados, passando a moeda a circular pelo seu valor extrínseco, isto é, pelo valor gravado em sua face, que independe do metal nela contido.
Com a utilização do valor extrínseco, surgiu o papel-moeda: dinheiro na forma de papel, emitido pelo governo e também chamado de “nota” de dinheiro ou cédula. A cunhagem de moedas metálicas ficou restrita a valores inferiores, necessários para troco. Em 1170, os chineses usaram as primeiras notas de banco do mundo, em razão da falta de cobre, que tornaria insuficiente a quantidade de moedas. Inicialmente cédulas de depósito bancário, que expressavam uma quantidade de moeda metálica depositada em algum banco, e que por razões de praticidade e segurança, eram utilizadas nas transações comerciais.
Quando assumiram o monopólio da moeda, os Governos assumiram também a prerrogativa da emissão do papel-moeda, que a princípio deveria guardar equivalência com as reservas de metais preciosos do país. Na chamada era do Padrão Ouro, que vigorou do século XIX até a Segunda Guerra Mundial. Nele, todas as notas em circulação no Brasil seriam garantidas pelas reservas de ouro do governo, de tal modo que a qualquer momento uma pessoa pudesse ir ao Banco do Brasil e trocar suas notas pelo equivalente em ouro. Posteriormente, a Conferência de Bretton Woods, em 1946, colocou o Dólar como a principal referência do sistema monetário internacional e criou instituições como o Fundo Monetário Internacional para tentar regular e estabilizar o mercado monetário. Câmbio é a operação em que moedas de países diferentes são trocadas a partir de uma determinada proporção chamada de Taxa de Câmbio (veja o país e as respectivas moeda e taxa de câmbio no site do Banco Central do Brasil).
Numismática
A ciência que estuda as moedas, cédulas, medalhas e qualquer evento que a elas se refira, direta ou indiretamente, identificando-as, analisando-lhes a composição e, enfim, distribuindo-as cronológica, geográfica, histórica e estilisticamente chama-se Numismática. Para colecionar:
- Escolha uma área de interesse: países, períodos históricos, comemorativas, etc.
- Estude a respeito em livros e catálogos (nacionais e internacionais, tanto de moedas como de cédulas).
- Adquira novos exemplares: feiras de antiguidade e lojas especializadas são bons locais. Peça moedas e notas a amigos e parentes que vão ao exterior e ficam com “sobras” de dinheiro local.
- Busque sempre obter exemplares em bons estados de conservação: existe uma classificação da moeda/cédula conforme seu estado de conservação. Veja a tabela a seguir:
Sigla | Classificação | Estado de conservação |
---|---|---|
FC/FE | Flor de Cunho/Estampa | Moeda absolutamente impecável, sem apresentar o mais pequeno vestígio de manchas, mossas, ou qualquer desgaste; Cédula não circulada, nova e sem dobras. |
S | Soberba | Moeda ainda em perfeito estado, mas mostrando algumas marcas muito leves, sem nenhum vestígio de arranhão e/ou batida; Nota de mínima circulação, semi nova com leve dobra. |
MBC | Muito bem Conservada | Moeda com marcas típicas de circulação, mas ainda com detalhes nítidos. Alguns riscos e arranhões; Cédula pouco circulada com algumas dobras ou amassadas ou levemente sujas. |
BC | Bem Conservada | Relevo na gravura com consideráveis sinais de desgaste nas superfícies mais elevadas, mas com todos os pormenores em visíveis incluindo a legenda e data; Nota já circulada onde se admite dobras, sujeiras, manchas, e até riscos, mantendo-se contudo os desenhos e cores visíveis. |
R | Regular | Moeda com marcas de batidas e arranhões comprometedores, somente utilizável na falta de exemplar de melhor estado; Cédulas com rasgos. |
UTG | Um tanto Gasta | Moeda com bastante desgaste, com várias partes não mais visíveis como data, legenda, etc… Só é válida numa coleção no caso de moedas muito raras; Todos os problemas são muito comprometedores, mas ainda dá para saber qual é a nota. |
G | Gasta | Poucos detalhes visíveis podem confirmar que é uma moeda; o mesmo com relação à cédula. |
Para limpeza de moedas sujas, água, sabão neutro e uma escova de dentes macia bastam no caso de poeira e gordura (e enxugue bem antes de guardar). Em moedas de prata, pode-se usar um pouco de pasta de dente. No caso de uma cédula não muito antiga ou Flor de Estampa, pode-se lavá-la com uma esponja macia e detergente neutro (manchas de caneta podem sair após limpeza de algodão embebido em álcool). Após saírem as manchas e as sujeiras superficiais, você as coloca para secar entre duas folhas sulfite em branco e coloca o conjunto dentro de uma lista telefônica, colocando um peso em cima para que sequem sem o sinal da dobra na cédula, durante 24 horas.
- Acondicione bem: Moedas devem fugir da umidade e de colisão entre as mesmas. Existem álbuns especiais para moedas, com folhas plásticas de vinil, ou mesmo envelopes de papel e plástico para uma moeda, além e caixas de madeiras e ferro. Existem também álbuns com folhas plásticas coladas em certos pontos de modo a formar vãos para encaixar as cédulas. Uma opção para ter uma “cópia da imagem” da moeda é colocar um papel fino em cima da moeda e passar o lápis em cima várias vezes pra deixar marca e facilitar catalogação.
- Fique atento às raridades: erros de impressão ou de cunhagem podem aumentar bastante o valor de uma moeda ou cédula. Conhecendo bem, a numismático pode ser um bom investimento. A moeda de ouro comemorativa à coroação de D.Pedro I, de 1822, por exemplo, com valor de 6.400 réis ao ser cunhada, está cotada hoje a US$ 180 mil, devido a sua raridade e valor histórico. A moeda comemorativa de prata em homenagem a Ayrton Senna, lançada em dezembro de 1995, com valor de face de R$ 30, valia R$ 180 em 2001 (um aumento de 500% em cinco anos). Para avaliar um exemplar, consulte catálogos e especialistas.
Elementos de uma moeda
* ANVERSO, VERSO OU FACE (CARA) – É o lado principal da moeda, onde encontram-se o o nome, as imagens e o brasão.
* REVERSO (COROA) – Lado oposto ao anverso, onde se encontra normalmente a efígie e elementos secundários.
* BORDO – Espessura da moeda que pode ser serrilhada, ornada ou com legenda.
* CAMPO – Espaço central de ambos os lados das moedas.
* CONTORNO – Orla onde se apresenta a legenda.
* EXERGO – Parte inferior de uma moeda, às vezes delimitada por uma linha horizontal, onde em geral se encontram a data ou a marca da casa de cunhagem ou, ainda, a sigla do escultor.
* GRAVURA – Inscrições, imagens ou cenas representadas na moeda.
* LEGENDAS – As palavras representadas na moeda. Muitas vezes aparecem abreviadas.
* LETRA MONETÁRIA – Letra ou inicial que indica a Casa da Moeda onde foi cunhada.
* MILÉSIMO – Unidade que indica o teor do metal (ouro e prata) que compõe a liga.
* MÓDULO – Diâmetro da moeda.
* ORLA – Moldura que delimita o campo da moeda. Trata-se de uma linha mais alta para impedir que a gravura sofra desgastes.
* TÍTULO – Quantidade de metal nobre contido na moeda.
Elementos de uma cédula
* ESTAMPA – Indica a diferença de impressão, tamanho, feitio, desenho, coloração, ornatos, efígie, alegorias de cédulas do mesmo valor. Nas cédulas brasileiras antigas, encontramos a inscrição “Estampa”, seguida de uma numeração. Nas cédulas atuais, a estampa é representada por uma letra “A” ou “B” nos cantos superior esquerdo e inferior direito seguido de uma numeração.
* SÉRIE – Cada grupo de cem mil cédulas de um mesmo valor e tipo formam uma série, a qual é expressa em números. Nas cédulas atuais apenas a letra designa a estampa e os quatro primeiros números indicam o número da Série da referida cédula.
* NUMERAÇÃO – Todas as cédulas são numeradas de 000.001 até 100.000 em cada série. Nas cédulas atuais os seis últimos dígitos à direita da letra indicativa da estampa, representam o número da cédula.
* AUTÓGRAFO – Durante um período, no início do padrão Cruzeiro (1942 à 1953), todas as cédulas para que pudessem entrar em circulação e ter seu curso legal, deveriam receber assinaturas individuais de funcionários da “Caixa de Amortização”. Apenas em 1953, as cédulas receberam outro elemento para se tornarem legais que foram as Micro-Chancelas.
* MICRO-CHANCELA – É a assinatura dos encarregados pela emissão das cédulas, são impressas em tamanho reduzido na própria cédula. Atualmente podemos ver as micro-chancelas do presidente do Ministro da Fazenda e do Presidente do Banco Central do Brasil.
* EFÍGIE – É a representação da figura humana, real ou simbólica existente na cédula.
* FUNDO DE SEGURANÇA – É a impressão fraca mono ou policromática, incluindo ou não algarismos inscritos simetricamente em desenhos tramados. Trata-se do desenho da nota, feito para dificultar falsificações.
* VALOR – Indicado geralmente em números nos cantos das cédulas, tanto no anverso quanto no reverso, geralmente também expresso por extenso. Nas cédulas atuais, em circulação, os valores estão expressos nos cantos inferior esquerdo e superior direito, no anverso da cédula.
* PAPEL – O papel utilizado no fabrico das cédulas é especial e de qualidade superior, com maior capacidade para suportar tração (ser puxada e não rasgar com facilidade) e que contém elementos de segurança contra falsificações, fibras coloridas que podemos ver se olharmos com muita atenção nas cédulas.
* MARCA D’ÁGUA OU FILIGRANA – É o efeito produzido no fabrico do papel, visível contra a luz nas partes claras das cédulas, geralmente com o desenho da efígie já existente na cédula.
* FIO DE SEGURANÇA – É um fio de metal ou plástico acrescentado entre as fibras do papel, geralmente em posição vertical. Atualmente os fios em nossas cédulas são magnetizados e contém uma inscrição assim : “Banco Central do Brasil”.
* CARIMBO – Sobre impressão utilizada após a cédula ser impressa e muda seu valor nominal ou facial a exemplo dos recentes carimbos triangulares de cruzados novos para mostrar a retirada dos 3 zeros, modificando o valor facial da cédula já impressa em estoque na Casa da Moeda.
* DIMENSÕES – As cédulas variam de tamanho, existindo cédulas pequenas de cerca de 5 cm até as de 40 cm de comprimento. Este também é um elemento da cédula que muito auxilia na sua classificação.
Veja mais sobre notas e moedas no Brasil na 2ª parte desse artigo (amanhã).
Uma curiosidade: Logo após a 1ª Guerra Mundial, o Regime Imperial da Alemanha foi substituído pela República de Weimar (1918-1933), na qual a hiperinflação era assustadora: em 1923, a taxa de inflação chegou a atingir mais de 30.000% ao mês (em novembro de 1923, eram necessários 4 trilhões e 200 bilhões de marcos para comprar 1 dólar)! No final de 1923, 300 máquinas de produzir papel estavam funcionando a pleno vapor, e em 150 gráficas 2000 prensas imprimiam dinheiro dia e noite.
Nos EUA, já foram lançadas notas de 500, mil, 10 mil e 100 mil dólares, mas desde 1969 não são emitidas. As de 10 mil existem apenas 345 em circulação, e as de 100 mil são utilizadas somente para transações entre o Banco Central e o Departamento do Tesouro. Uma variante do brasão maçom aparece no verso da nota de 1 dólar. Nela, o esquadro e o compasso se resumem no triângulo que encabeça a pirâmide e representa a Santíssima Trindade. O olho em seu interior tem o mesmo significado da letra G: é Deus onisciente (God), que tudo sabe e tudo vê. A explicação: três dos primeiros dos Estados Unidos e principais articuladores da independência do país – George Washington, Thomas Jefferson e Benjamin Franklin – eram maçons.
A nota quadrada não é da Mongólia, mas sim do Quirquistão.
Obrigado, Herbert! Na minha coleção estava escrito certo, na transcrição acabei me equivocando. Abraço.
Achei muito interessante esta matéria, como estou começando minha coleção agora, é uma matéria muito útil.
Que legal que está começando uma coleção, é uma atividade que motiva conhecer mais sobre o mundo e nos ajuda a ter mais organização. Obrigado pela visita!
Gostaria de saber a origem de algumas moedas que meu irmão comprou no mercado persa do chile chamadi BioBio quen podeeia me ajudar meu whatsapp é 81 998148942, e meu email é mariogaldino@gmail.com , sou numismata iniciante e gostaria muito da ajuda de vocês. Agradeço qualquer resposta