Cientistas descobriram microplásticos nas gotículas de nuvens em regiões montanhosas japonesas, revelando que essas partículas desempenham um papel crucial na formação de nuvens. A degradação desses microplásticos na atmosfera superior libera gases de efeito estufa, destacando sua potencial contribuição para o aquecimento global.
Microplásticos são pequenas partículas de plástico com menos de 5 milímetros de tamanho. Eles podem ser divididos em duas categorias principais: microplásticos primários, que são fabricados com esse tamanho para uso em produtos como esfoliantes faciais e produtos de limpeza, e microplásticos secundários, que resultam da degradação de plásticos maiores no ambiente devido à ação do sol, vento, água e processos químicos.
Os microplásticos são encontrados em grandes quantidades nos oceanos, onde representam uma ameaça significativa para a vida marinha. Os animais marinhos muitas vezes confundem microplásticos com comida, ingerindo-os acidentalmente. Isso pode levar a danos nos órgãos, toxicidade e morte.
Quando os animais marinhos ingerem microplásticos, eles entram na cadeia alimentar. Estudos mostraram que microplásticos foram encontrados em amostras de água, sal, mel e até mesmo em amostras de fezes humanas. Seres humanos que consomem frutos do mar podem, portanto, estar ingerindo microplásticos também. A pesquisa sobre os efeitos diretos dos microplásticos no corpo humano ainda está em estágios iniciais, mas há algumas preocupações.
Alguns tipos de plásticos contêm produtos químicos tóxicos em sua composição, que podem ser liberados quando os microplásticos são ingeridos. Estes produtos químicos podem ter efeitos adversos na saúde humana, incluindo distúrbios endócrinos e câncer. Além disso, microplásticos também têm a capacidade de absorver poluentes químicos presentes em seu ambiente. Quando ingeridos, podem liberar esses poluentes no corpo humano, potencialmente aumentando a exposição a substâncias tóxicas.
Microplásticos na atmosfera
A poluição por microplásticos ocorre na maioria dos ecossistemas, mas a sua presença em nuvens de grande altitude e a sua influência na formação de nuvens e nas alterações climáticas são pouco conhecidas. Apesar de a maioria dos estudos sobre microplásticos ter se concentrado em ecossistemas aquáticos, poucos exploraram seu impacto na formação de nuvens e nas mudanças climáticas como “partículas em suspensão”.
Cientistas japoneses liderados por Hiroshi Okochi, professor na Universidade Waseda, conduziram um estudo sobre a trajetória dos microplásticos atmosféricos à medida que circulam pela biosfera. O trabalho, publicado em agosto na revista Environmental Chemistry Letters, destaca a preocupação com os microplásticos na troposfera, que são transportados e contribuem para a poluição global.
De acordo com os pesquisadores, cerca de 10 milhões de toneladas desses fragmentos acabam no oceano e chegam à atmosfera. Isso implica que os microplásticos podem ter se integrado às nuvens, contaminando praticamente tudo o que consumimos, já que são dispersos por meio da “chuva de plástico”.
Para examinar o papel dos microplásticos na troposfera e na camada limite atmosférica, os pesquisadores coletaram amostras de água de nuvens nas regiões do topo e das colinas do sudeste do Monte Fuji, bem como no cume do Monte Oyama. A altitude nessas áreas variava de 1.300 a 3.776 metros.
Utilizando técnicas avançadas de imagem, a equipe identificou microplásticos na água das nuvens e investigou suas propriedades físicas e químicas. Eles detectaram nove tipos diferentes de polímeros, além de um tipo de borracha. Na maioria das amostras, o polipropileno, um plástico resistente usado em embalagens, brinquedos e diversos produtos, estava degradado e apresentava grupos carbonila (C=O) e/ou hidroxila (OH).
Além disso, observou-se uma presença abundante de polímeros hidrofílicos, que têm afinidade pela água, na água das nuvens. Isso sugere que esses microplásticos atuam como “núcleos de condensação de nuvens”. De acordo com os pesquisadores, essas descobertas confirmam que os microplásticos atmosféricos desempenham um papel crucial na rápida formação de nuvens, um processo que pode eventualmente influenciar o clima global.
O acúmulo dessas partículas na atmosfera, especialmente em regiões polares, pode provocar mudanças significativas no equilíbrio ecológico do planeta, levando a uma séria perda de biodiversidade. Os microplásticos degradam-se muito mais rapidamente na atmosfera superior do que próximo ao solo, devido à intensa radiação ultravioleta. Essa degradação libera gases de efeito estufa. Portanto, as descobertas deste estudo podem ser utilizadas para avaliar os efeitos dessas partículas nas projeções futuras do aquecimento global.
Fontes
Revista Galileu – Microplásticos são encontrados em nuvens — e podem agravar crise climática
Phys.org – New study analyzes airborne microplastics in clouds
Wang, Y., Okochi, H., Tani, Y. et al. Airborne hydrophilic microplastics in cloud water at high altitudes and their role in cloud formation. Environ Chem Lett 21, 3055–3062 (2023). https://doi.org/10.1007/s10311-023-01626-x