Manutenção das Terras Indígenas é fundamental para a segurança hídrica e alimentar em grande parte do Brasil

No início de dezembro de 2024, o Instituto Serrapilheira divulgou sua primeira nota técnica, que aponta que as chuvas das Terras Indígenas da Amazônia contribuem para 57% da renda agropecuária do Brasil. O levantamento foi feito por um grupo de pesquisa em ecologia tropical que mostra, a partir do cruzamento e análise de diversos dados (MapBiomas, IBGE, Funai, etc) que a degradação ambiental nas Terras Indígenas pode comprometer R$ 338 bilhões da economia nacional.

As Terras Indígenas da Amazônia desempenham um papel essencial na formação das chuvas que abastecem cerca de 80% das áreas dedicadas à agropecuária no Brasil. As árvores amazônicas bombeiam água do solo para a atmosfera, formando nuvens que causam chuvas locais. O excesso de umidade é transportado pelos ventos alísios para o interior da floresta, onde o ciclo de reciclagem solo-atmosfera se repete até os ventos alcançarem a cordilheira dos Andes. Lá, são redirecionados para o sul e sudeste da América do Sul, transportando um fluxo de umidade comparável ao rio Amazonas, conhecido como “rios voadores”, que abastece de chuvas regiões distantes, como o Pantanal, a bacia do rio da Prata e partes do Sudeste.

Funcionamento dos rios voadores. Fonte: Instituto Serrapilheira
Funcionamento dos rios voadores. Fonte: Instituto Serrapilheira

O ciclo natural de geração de chuvas na Amazônia depende da conservação das florestas nativas, que bombeiam umidade para a atmosfera. No entanto, o aumento do desmatamento e do aquecimento global tem causado secas mais frequentes e intensas, reduzindo a água disponível para reciclagem e ameaçando o colapso das florestas amazônicas. Isso compromete a redistribuição de umidade para outras regiões do Brasil e da América do Sul, agravando déficits hídricos que já impactam 37% das áreas de agricultura de sequeiro no Brasil, especialmente durante períodos críticos de cultivo. Com o agronegócio projetado para representar 21,8% do PIB nacional em 2024, a preservação da Amazônia é essencial para a segurança hídrica, alimentar e econômica do país.

A agricultura e a pecuária estão entre os setores que mais dependem de recursos hídricos no Brasil, tornando a chuva indispensável para essas atividades. Em 2021, os estados mais beneficiados pelas chuvas provenientes das florestas amazônicas alcançaram uma renda agropecuária de R$338 bilhões, representando aproximadamente 57% do total nacional.

A agricultura familiar também tem um papel de destaque, com sua participação ultrapassando 50% do valor total da produção em vários estados afetados por essas chuvas. Isso significa que as precipitações originadas nas Terras Indígenas contribuem significativamente para a segurança alimentar do país, já que grande parte da produção dos pequenos agricultores abastece o mercado interno.

O desmatamento e a degradação das florestas nessas áreas reduzem a geração dessas chuvas, causando sérios riscos à segurança hídrica, alimentar, energética e econômica do Brasil. Preservar essas florestas é essencial não apenas para proteger a segurança hídrica e alimentar, mas também para garantir o funcionamento da cadeia produtiva do agronegócio, que é responsável por uma parcela relevante da economia nacional.

Estados como Rondônia e Mato Grosso estão entre os mais beneficiados pelas chuvas originadas nas Terras Indígenas, mas, paradoxalmente, também figuram entre os que mais desmataram suas florestas desde 1985, o que agrava ainda mais os riscos associados à perda desse recurso vital.

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