Apesar do nome do post sugerir blusas e casacos de lã, vamos falar sobre malhas aéreas. O conjunto de itinerários cumpridos pelas companhias aéreas em períodos regulares é chamado de malha aérea. A demanda, calculada através da frequência de voos e o potencial de passageiros, é que define a operação. Para isso, é realizado um estudo de mercado, geralmente elaborado pelas próprias companhias. E daí podem surgir mudanças na malha aérea.

A Azul Linhas Aéreas Brasileiras mantém uma malha especial de voos durante o inverno. São feitos ajustes temporários nas cidades mais impactadas pela meteorologia, das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, e, em menor escala, do Nordeste. Segundo sua assessoria de imprensa, as mudanças foram planejadas a partir do histórico de fechamento de alguns aeroportos destas localidades. Essas dificuldades de operacionalidade no terminal acontecem no outono e no inverno (entre maio e agosto), período com muitas restrições devido a condições meteorológicas ruins, e consequentemente espera-se evitar cancelamentos de voos.
Em 2016, várias cidades tiveram seus voos de saída/chegada com horários alterados e algumas alterações de modelos de aeronaves operantes, sendo que Cascavel e Pelotas chegaram a ter um voo cancelado cada. Em alguns casos, a cidade pode nem ser impactada diretamente por fenômenos meteorológicos restritivos à operação, mas pode ser destino de outra que está impactada, o que leva a um efeito em cascata (casos de São Paulo e Belo Horizonte). Veja a lista:
- Vitória da Conquista (BA)
- Juiz de Fora (Zona da Mata – MG)
- Ipatinga (MG)
- Governador Valadares (MG)
- Belo Horizonte (Confins – MG)
- Bonito (MS)
- Três Lagoas (MS)
- Dourados (MS)
- São José do Rio Preto (SP)
- Ribeirão Preto (SP)
- São Paulo (Campinas – SP)
- Foz do Iguaçu (PR)
- Cascavel (PR)
- Londrina (PR)
- Maringá (PR)
- Curitiba (PR)
- Criciúma (SC)
- Chapecó (SC)
- Passo Fundo (RS)
- Caxias do Sul (RS)
- Pelotas (RS)
- Santa Maria (RS)
Essas condições meteorológicas ruins estão relacionadas à baixa visibilidade durante o pouso.
Para o avião pousar sem o auxílio de equipamentos (o chamado voo visual), a legislação brasileira estabelece um mínimo de 5 mil metros de visibilidade e 450 metros de teto (a distância entre o solo e a base das nuvens). Já em pousos por instrumentos, os números são menores e variam com três fatores: a carta de aproximação usada (que determina o percurso que o avião realiza antes da aterrissagem e estabelece os valores mínimos de teto e visibilidade), o tipo de equipamento de auxílio à navegação no aeroporto e os recursos do avião/tripulação.

As condições meteorológicas nos aeroportos são avaliadas de hora em hora por um meteorologista do órgão regulador (em menos tempo no caso de nevoeiro, chuva forte, rajadas e outros fenômenos importantes). Quando o teto ou a visibilidade está abaixo do mínimo previsto nas cartas de aproximação, o meteorologista informa a torre de controle, que fecha as pistas e suspende pousos e decolagens.
Ao receber orientação de não pousar, o piloto precisa mudar a rota para o aeroporto alternativo (previamente indicado no plano de voo), mas em certos casos a melhor alternativa pode ser voltar ao aeroporto de onde a aeronave decolou para distribuir os passageiros em outros voos.
Por quê justamente esses aeroportos tiveram voos alterados?
Baixa visibilidade, teto baixo e chuva são fatores que podem causar atrasos ou mesmo fechamento do aeroporto por alguns minutos, que é o suficiente para causar atrasos e remanejamento de voos por várias horas – inclusive em aeroportos que estejam esperando ou recebendo voos dele. Cada aeroporto tem suas peculiaridades, principalmente com relação à intensidade de vento de proa/cauda e de través – não fecha aeroporto, mas pode impedir pouso e decolagem.
Durante o inverno, é mais comum a ocorrência de nevoeiro radiativo na região sul e algumas áreas dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Isso acontece devido ao resfriamento radiativo da superfície terrestre durante o período da noite (o chão perde calor a uma rapidez maior se comparado com o verão). Durante esse período do ano, é comum a ocorrência de frentes frias na região, derrubando as temperaturas e inibindo a formação de nuvens devido à alta pressão atmosférica. Sem nebulosidade, as camadas de ar próximas à superfície perdem calor mais facilmente. Isso diminui a temperatura do ponto de orvalho, ou seja, a umidade relativa do ar aumenta devido à redução de temperatura e as gotículas de vapor d’água ficam mais próximas. Assim, é mais provável a ocorrência de nevoeiro.
Desse modo, os pousos e decolagens devem evitar horários próximos da madrugada. Ness período, a temperatura do ar e temperatura do ponto de orvalho estão mais próximas e a probabilidade de haver nevoeiro (inclusive mais denso e/ou mais duradouro) é maior.
A chegada de frentes frias pode também formar nevoeiros frontais (devido ao transporte de ar frio sobre uma região) e chuva, tanto convectiva quanto estratiforme – nesse caso, gerando nuvens baixas e persistentes.
Além disso, cidades de serra (como Caxias do Sul) ou de vale (como Chapecó) possui alta incidência de nevoeiro graças ao relevo. Morros e vales podem forçar a subida de ar úmido, que esfria e forma neblina. Corpos d’água próximos aumentam a umidade no local e também a probabilidade de ocorrência do fenômeno. Essa questão de morros é muito frequentes nos aeroportos de Minas Gerais.
Com relação aos aeroportos de MS, Bonito tem também o aporte de umidade da região dos Chacos e Pantanal, enquanto que Três Lagoas recebe umidade do rio Paraná, represado na região.
Por fim, Vitória da Conquista também está sujeita a nevoeiros. A região situa-se entre a região mais úmida do agreste (próxima ao litoral) e o semi-árido nordestino. O ar úmido chega à região por ventos originados na região litorânea e encontra o frio noturno que faz parte da grande amplitude térmica, típica de regiões secas. Nessa época do ano, a umidade não é suficiente para formar chuvas, somente nuvens baixas, e então aparecem os nevoeiros.
Veja mais sobre o tema no post sobre Redução de visibilidade em aeroportos.
Contornando o problema – Procedimentos de Pouso por Instrumento
O ILS (do inglês Instrument Landing System) é um sistema de aproximação por instrumentos, que dá uma orientação precisa ao avião que esteja na fase de aproximação final duma determinada pista. Consiste em dois sistemas distintos: um deles mostra a orientação lateral do avião em relação a pista (localizer), e o outro mostra o ângulo de descida, ou orientação vertical (glideslope). O sistema é baseado na transmissão de sinais de rádio que são recebidos, processados e apresentados nos instrumentos de bordo do avião. Dessa forma, é possível realizar um pouso com menores valores de teto e visibilidade horizontal.
No Brasil, dos 15 principais aeroportos (responsáveis por 95% da movimentação no País), todos possuem o ILS, exceto o Santos Dumont (no Rio de Janeiro), por conta de questões geográficas, como a proximidade com o Pão de Açúcar. No total, são mais de 40 aeroportos com o equipamento.
Dos aeroportos do sul do país, Santa Maria (RS), Joinville (SC), Londrina (PR) e Foz do Iguaçu (PR) possuem o equipamento categoria 1, Porto Alegre (RS) tem categoria 2 e Curitiba (PR) segue para categoria 3. Note que, da lista de aeroportos com voos alterados, a maioria não possui ILS. Mas mesmo aeroportos com ILS tiveram mudanças nos voos. Isso porque muitos voos que partem para essas cidades saem de Porto Alegre e Curitiba e também nevoeiros mais densos continuam fechando os aeroportos. Quanto maior a categoria, menor as restrições para pouso.
Curitiba possui o aeroporto que mais fecha por causa de nevoeiro. Além de estar em um clima subtropical, tem seu aeroporto construído em uma região com relevo de altitude e relativamente próximo ao mar, o que cria mais condições favoráveis para a formação de neblina.
Fontes