Iron Maden – Empire of the clouds

A banda britânica Iron Maden é uma das mais conhecidas do gênero de heavy metal do mundo. Muitas de suas composições são inspiradas em fatos históricos e histórias assustadoras. Sua música “Empire of the clouds” tem fenômenos meteorológicos como pano de fundo para contar uma história de um acidente aéreo com dirigível – lembrando que o vocalista Bruce Dickinson é piloto de avião e um amante da aviação. “To ride the storm, to an empire of the clouds”.

Dirigível R101 no mastro de amarração. Fonte: The National Archives UK
Dirigível R101 no mastro de amarração. Fonte: The National Archives UK

R101 foi um dirigível britânico, o segundo da série R100 fabricado pela Royal Airship Works. Quando foi construído, era o maior dirigível em operação, com 223 metros, e só foi superado pelo LZ 129 Hindenburg cinco anos depois. O primeiros testes com a aeronave foram realizados em 14 de outubro de 1929. Após alguns voos teste, a aeronave finalmente faria sua viagem inaugural rumo a Carachi (então Índia, atual Paquistão) no dia 5 de outubro de 1930 com o ministro do ar e outras autoridades a bordo no que seria mais uma demonstração de poder do Império Britânico.

A previsão do tempo na manhã de 4 de outubro foi geralmente favorável, prevendo ventos de sul a sudoeste entre 32 e 48 km/h a 2 mil pés (610 m) sobre o norte da França, com condições melhorando no sul da França e no Mar Mediterrâneo. Embora a previsão do meio-dia indicasse alguma deterioração da situação, isso não foi considerado alarmante o suficiente para cancelar a viagem planejada.

Uma chuva fina começava a cair quando, ao anoitecer durante a partida. Após um aparente problema de pressão do óleo ainda na mesma noite, o tempo piorou e chovia muito. Uma atualização da situação meteorológica foi recebida às 20:40. A previsão se deteriorou severamente: ventos de sudoeste de até 80 km/h, com nuvens baixas e chuva para o norte da França e condições semelhantes no centro da França. Às 22:56 o motor traseiro foi religado. A essa altura, o vento havia subido para cerca de 71 km/h com fortes rajadas, mas um outro relatório meteorológico recebido logo após o dirigível cruzar a costa foi encorajador sobre as condições climáticas ao sul de Paris.

Já sobrevoando a França, por volta de uma da manhã, uma mudança de curso levaria diretamente sobre um pico de Beauvais a 770 pés, uma área notória por condições de vento turbulento. Após duas da manhã, o dirígivel entrou em uma sequência de dois mergulhos. Uma grande tempestade arrancou seu revestimento externo e deixou os reservatórios de hidrogênio abertos. Isso gerou um incêndio que derrubou o dirigível, provocando a morte de 48 das 54 pessoas a bordo. O acidente fez o programa do governo britânico de desenvolvimento de dirigíveis fosse encerrado. O local do acidente possui até hoje um monumento em homenagem às vítimas.

Capa do álbum "The Book of Souls" e a capa do jornal Daily Mirror sobre o acidente
Capa do álbum “The Book of Souls” e a capa do jornal Daily Mirror sobre o acidente

“Empire of the clouds” é a música com maior duração da banda (mais de 18 minutos) e foi composta pelo próprio vocalista para finalizar o álbum “The Book of Souls” (2015). O título da música provavelmente possa ter inspiração no livro de mesmo nome do escritor James Hamilton-Paterson, publicado em 2011, que fala sobre a decadência da aviação britânica após a segunda guerra mundial.

Além da história em si, é interessante notar como a música é trabalhada, desde sua introdução feita no piano. Em sua letra, todas as etapas que o R101 passou desde sua construção até a sua queda são contadas detalhadamente e de forma poética. Os momentos de “transição” em que a música passa são representações sonoras de cada momento da aeronave (sua decolagem, o incêndio, sua queda). Por volta de 7 minutos de música, é possível observar os ataques musicais tocando SOS em código Morse – depois o SOS volta mas de forma bem mais caótica. Com a queda da aeronave já acontecendo, a música fica bem mais intensa.

Ao longo de três anos de construção, notaram a necessidade em colocar uma cobertura mais pesada para evitar perda de ar. Originalmente para ser um veículo de cargas, alteraram para incluir uma pesada cabine de luxo para passageiros. E na manhã do fatídico voo, apressaram-se intencionalmente para escapar da tempestades – que já sabiam não ser favorável ao voo. Após uma troca mal combinada de tripulação sobre o Canal da Mancha e um voo inclinado boa parte do tempo, houve a queda. Veja essas e outras curiosidades no vídeo do canal Tomar uma – IRON MAIDEN: A HISTÓRIA DE EMPIRE OF THE CLOUDS (part. Aroldo Glomb). A música pode ser ouvida no vídeo incorporado a seguir e a letra pode ser observada com sua tradução nesse link.

Em 2014, Bruce Dickinson começou a apoiar a construção de um dirigível chamado “Airlander”, ao tornar-se acionista da empresa “Hybrid Air Vehicles”. Como diferenciais, ele conseguiria ficar no ar por dias, com eficiência de combustível e poluição sonora mínima, sem ser preciso uma pista de pousos e decolagens. Curiosamente, o dirigível de 92 metros sofreu um acidente em 2016 e outro em 2017, em apenas seis voos até então. Como o projeto foi feito na mesma época das gravações do “The Book Of Souls”, essa pode ter sido uma das inspirações para Bruce escrever essa faixa, principalmente por conta do trecho final: “The dreamers may die, but the dream lives on”.

Fontes

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