Furacão Kirk e seu impacto na Europa

No começo de outubro/2024, partes da Florida preparavam-se para o impacto do furacão Milton, cujos ventos chegaram a atingir 290 km/h. Enquanto isso, o furacão Kirk dirigia-se a caminho para a Europa. Embora o Kirk já não fosse classificado como um furacão, e sim como uma tempestade extratropical, ainda é causou perturbações em partes do continente.

Imagem de satélite fornecida pela NOAA mostra o furacão Kirk na quarta-feira no Oceano Atlântico
Imagem de satélite fornecida pela NOAA mostra o furacão Kirk na quarta-feira no Oceano Atlântico

A principal fonte de energia de um furacão é o calor latente liberado pela evaporação de águas oceânicas quentes. Isso o classifica como um sistema tropical, com uma estrutura simétrica e um núcleo quente. Tem uma estrutura simétrica com um olho claro no centro, cercado por uma parede de nuvens, e ventos mais intensos concentrados próximos ao centro. Pode causar ventos devastadores, marés de tempestade e inundações em áreas costeiras.

Ciclones podem variar de tempestades tropicais a furacões, dependendo da intensidade e da localização. Quando o furacão se move para latitudes mais altas, pode ocorrer uma transição chamada de ciclogênese extratropical. Como o sistema meteorológico está em um local com águas mais frias, os processos de energia frontal começam a dominar.

O ciclone extratropical obtém sua energia principalmente a partir dos contrastes de temperatura entre massas de ar frio e quente, ou seja, da dinâmica frontal, sendo considerada um sistema de núcleo frio. Sua energia vem de interações na atmosfera, não do calor oceânico. Possui uma estrutura assimétrica e seus ventos mais fortes e chuvas podem estar longe do centro.

Campo de ventos e isóbaras com ciclone extratropical Kirk atingindo a península Ibérica em 09/10/2024. Fonte: Windy/ECMWF
Campo de ventos e isóbaras com ciclone extratropical Kirk atingindo a península Ibérica em 09/10/2024. Fonte: Windy/ECMWF

Ao chegar ao continente europeu, Kirk começou a afetar o norte de Portugal e o noroeste de Espanha a partir da noite de terça-feira para quarta-feira. Foram observados ventos muito fortes e chuva intensa mesmo antes da chegada do sistema principal no final de terça-feira. Na quarta-feira, mesmo o sul de Portugal observou ventos intensos com chuva durante algumas horas como efeito distante da passagem do sistema.

Nas palavras do meteorologista Lars Lowinski à Euronews Green:

“Embora não seja invulgar ver furacões no Atlântico tropical em outubro, Kirk [como furacão] foi invulgarmente intenso para um sistema tão a leste da principal área de desenvolvimento, que é mais próxima das Caraíbas nesta altura do ano (…) O facto de uma tempestade tão intensa poder desenvolver-se tão a leste pode, de facto, ser outro sinal de que as alterações climáticas estão a ter efeito, uma vez que as temperaturas da superfície do mar estão acima da média em grandes partes do Atlântico Norte.”

Na mesma semana do ciclone Kirk, chegou a Portugal a depressão Berenice, menos intensa mas ainda merecendo atenção. O nome foi atribuído pela AEMET (Serviço Meteorológico de Espanha) a uma depressão localizada entre o arquipélago dos Açores e a Península Ibérica, e que às 16UTC de dia 11 de outubro estava centrada aproximadamente à latitude de 43°N e 21°W, com uma pressão atmosférica mínima de 986hPa. Desta vez as regiões mais afetadas foram o Centro e Sul do território continental, assim como o arquipélago da Madeira. Até ao final do dia de sábado, grande parte dos distritos dessas regiões estiveram sob aviso amarelo devido à chuva, por vezes forte, acompanhada por trovoada.

Uma depressão é uma área de baixa pressão atmosférica em seu centro em relação às áreas circundantes. Dessa forma, o ar converge e sobe, resultando em nuvens e precipitação, assim como os ventos giram em torno deste centro. As depressões podem ocorrer em diferentes escalas, desde pequenas áreas locais até grandes sistemas de baixa pressão associados a tempestades. Apesar de um ciclone também se formar em torno de uma área de baixa pressão, ele é um sistema meteorológico mais organizado e intenso que uma depressão.

Interessante notar aqui também que furacões podem gerar impactos indiretos em outras regiões distantes de sua área de atuação. Em agosto/2024, o furacão Ernesto, situado na região das Caraíbas, pôde influenciar o clima na Península Ibérica devido às mudanças que sua passagem causou na configuração atmosférica. À medida que o furacão se deslocava para o norte, próximo à Terra Nova, ele interagiu com os sistemas de alta e baixa pressão, alterando os padrões de circulação de ventos. Esse deslocamento atmosférico criou condições para que uma massa de ar quente fosse arrastada do norte da África em direção à Península Ibérica. Essa advecção de ar quente intensificou as temperaturas já elevadas, resultando em uma onda de calor significativa em Portugal, com máximas acima dos 40°C nas regiões do centro e sul do país. No Algarve, a água do mar atingiu os 25,7°C em Faro.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.