O fenômeno das fake news tem se tornado uma questão crucial no mundo contemporâneo, afetando a percepção pública e a formação de opiniões. De maneira curiosa, podemos traçar paralelos entre essa problemática moderna e o clássico literário “Dom Quixote de La Mancha”, escrito por Miguel de Cervantes no século XVII. Ambas as situações envolvem distorções da realidade, a influência da percepção subjetiva e as consequências dessas crenças para a sociedade.
Dom Quixote é um personagem que vive num mundo de ilusões, acreditando ser um cavaleiro andante em uma época em que essa figura já não existe mais. Ele distorce a realidade ao seu redor, vendo gigantes onde há moinhos de vento, castelos onde há estalagens. As fake news, de maneira similar, são distorções da realidade, disseminando informações falsas ou enganosas que levam as pessoas a acreditarem em fatos inexistentes ou deturpados.
Tanto Dom Quixote quanto as fake news destacam a poderosa influência da percepção subjetiva. Dom Quixote interpreta o mundo através das lentes dos romances de cavalaria que leu, ignorando as evidências concretas que contradizem suas crenças. No caso das fake news, a percepção subjetiva dos indivíduos é moldada por preconceitos, medos e desejos preexistentes, o que os torna mais suscetíveis a acreditar em informações falsas que reforçam suas visões de mundo.
As ações de Dom Quixote, guiadas por suas ilusões, frequentemente resultam em caos e mal-entendidos, tanto para ele quanto para aqueles ao seu redor. As fake news também têm consequências significativas, podendo levar a decisões políticas equivocadas, desconfiança institucional, e até violência. Ambos os casos mostram como crenças distorcidas podem ter impactos profundos e potencialmente perigosos na sociedade.
Dom Quixote busca uma verdade imaginária, uma nobreza e justiça idealizadas que ele sente faltar no mundo real. As fake news, de certa forma, também oferecem uma “verdade” alternativa, apelando para narrativas que parecem mais confortáveis ou emocionantes do que a realidade. Essa busca por uma verdade alternativa pode ser vista como uma fuga das complexidades e ambiguidades da vida real, tanto no passado quanto no presente.
Miguel de Cervantes, através de sua obra, oferece uma crítica à incapacidade de distinguir fantasia de realidade e aos perigos dessa confusão. Hoje, a luta contra as fake news envolve a promoção da consciência crítica e da alfabetização midiática, capacitando as pessoas a questionar e verificar a veracidade das informações que consomem.
Embora separados por séculos, Dom Quixote de La Mancha e o fenômeno das fake news compartilham uma essência comum: a batalha entre realidade e ilusão. Ambos servem como lembretes poderosos da importância de uma percepção clara e informada do mundo. Em um tempo onde as fake news proliferam, a lição de Dom Quixote sobre os perigos das ilusões e a necessidade de discernimento crítico continua sendo mais relevante do que nunca.
