Em 21 de dezembro de 2020, Saturno e Júpiter estarão alinhados com a Terra, fazendo com que eles nos pareçam uma única estrela brilhante no céu. A data será o pico de aproximação visual entre os dois planetas no céu, sendo que ainda permanecerão próximos nos outros dias da segunda metade do mês em que acontece o Natal – por isso, muitos estão a chamando de “Estrela de Natal”.
Apesar de parecerem próximos no céu, os planetas estão separados por centenas de milhões de quilômetros. Cada um possui uma órbita própria ao redor do Sol, nas quais Júpiter leva quase 12 anos terrestres para dar uma volta ao redor do Sol e Saturno, esse 29 anos terrestres. A conjunção (ou alinhamento) corresponde ao momento em que as posições dos planetas ficam alinhadas com a Terra.
Devido à periodicidade das translações, o fenômeno se repete a cada 20 anos em média. Dessas vezes, nem todas os planetas ficam visualmente tão próximos como agora. Somente em 15 de março de 2080 teremos outra oportunidade mais parecida com essa.
Os dois planetas podem ser facilmente vistos a olho nu, logo após o pôr do sol. Estique o seu braço na direção oeste (onde o Sol se põe) com o dedo mindinho e dedão esticados e os outros dedos fechados (sinal de “hang loose”). Colocando o mindinho no horizonte e o dedão para cima, verá os dois astros: Júpiter, com um brilho branco mais forte, e Saturno, mais alaranjado e menos brilhante.
Na data da maior aproximação, os dois astros brilhantes estarão tão próximos que, se olharmos com pouco cuidado, podem parecer um objeto só. Por isso e por acontecer perto do Natal, muitos estão chamando o fenômeno de “Estrela de Natal”. Mas isso não passa de coincidência.
Mesmo assim, é um belo e raro fenômeno astronômico que pode ser observado a olho nu, mesmo de grandes cidades. Ele pode ser melhor apreciado com o auxílio de um binóculo e localizando-se em um lugar alto e escuro. Busque um local assim com a região oeste/sudoeste do céu desobstruída e torça para não aparecerem muitas nuvens.
A Estrela de Natal
Muitas tradições religiosas atuais se originaram de culturas antigas que relacionavam fenômenos astronômicos a divindades ou elementos sobrenaturais. Alguns pesquisadores que estudam a bíblica “Estrela de Belém” acreditam que ela pode ter sido uma conjunção planetária, um cometa, ou até uma Supernova.
Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.
Mt 2:1-2
Esta passagem bíblica faz referência à Estrela de Belém, o objeto celestial que teria guiado os Três Reis Magos até a manjedoura em que estava o menino Jesus. Dessa forma, poderiam prestar homenagem ao novo rei que nascia e cuja chegada já havia sido anunciada nas profecias. Posteriormente, essa data de nascimento de Jesus ficou definida como sendo 25 de dezembro e conhecida como Natal – veja mais no post A história de Natal que não se conta.
A Estrela de Belém pode ter sido fruto de um trio de conjunções entre os planetas Vênus e Júpiter que aconteceu entre os anos 3 e 2 antes de Cristo. As duas primeiras conjunções naquela época eram extremamente próximas, a última separada por cerca de 1°. Todas as três ocorreram não muito longe de Regulus (estrela alfa da constelação de Leão), e todas estavam similarmente no alto de o céu.
Os dois planetas são os mais brilhantes no céu, porém Vênus só é visível próximo ao nascer e ao pôr do Sol, devido à sua proximidade com nossa estrela. No entanto, certas vezes suas posições convergem noite após noite até atingirem um máximo de proximidade visual que faz parecê-los um só astro, mais brilhante. A órbita de Vênus é inclinada apenas 3,4° em relação à da Terra, Júpiter, a 1,3°. Portanto, essas conjunções fechadas estão destinadas a ocorrer.
ATUALIZAÇÃO (imagens do evento)
Boa parte do Brasil teve céu nublado, então muitas pessoas acompanharam por transmissões ao vivo. A montagem a seguir contém imagens obtidas via transmissão do canal do Youtube do CEAAL (Centro de Estudos Astrônomicos de Alagoas) com diferentes ganhos e exposições – como Júpiter é mais brilhante, para enxergar Saturno precisa aumentar o ganho de luz, o que é necessário também para enxergar os satélites, mas acaba “estourando” os astros mais brilhantes.
Para localizar os astros, segue a imagem do Stellarium em Maceió também no mesmo horário, diferindo somente na orientação devido ao ângulo de posicionamento da câmera no telescópio. Foram usado diferentes Fields of View (FOV), que é o campo de visão. Ou seja, foi dado um “zoom” cada vez maior para sair da imagem a olho nu, passando por um binóculo e chegando a de um telescópio similar ao usado (quanto menor, mais perto parece). Assim, é possível notar que, o que parecia somente um ponto bem luminoso, na verdade é uma conjunção de dois pontos bem brilhantes e bem próximos, mais alguns menos luminosos.
Interessante observar noite após noite, no mesmo horário, os planetas ficando mais próximos no céu até essa data e depois se afastando entre si. Dificilmente esses astros podem ser vistos com tamanha proximidade em uma mesma área do céu.
Fontes