Dezembrite – A Síndrome do fim de ano

Maria Auxiliadora Roggério

O final do ano é um período de festividades, encontros, muitos rituais a seguir, o término de um ciclo em que se deixam para trás meses estressantes, com projetos que não se concretizaram, para dar lugar ao ano que iniciará. Também traz momentos de reflexão nos quais se avaliam as conquistas e os fracassos, os objetivos que foram cumpridos e os que entrarão na agenda do ano seguinte.

A preparação para o novo ciclo pode desencadear sentimentos como medo, frustração, tristeza, ansiedade, desesperança, provocando um grande estresse emocional, pois nosso estado emocional é afetado positiva ou negativamente pelas expectativas sobre o futuro.

Geralmente, os rituais de fim de ano são benéficos para a maioria das pessoas que têm a oportunidade de realizar um balanço anual, participar de comemorações, encontrar parentes e amigos, e preparar-se para a renovação, ressignificando seus planos.

Mas, para pessoas em desarmonia emocional, que vivenciaram situações difíceis como, por exemplo, rompimentos pessoais, luto, dificuldades financeiras, doenças na família, ou com algum transtorno mental já existente, como ansiedade, depressão, passar por esse período com toda a pressão para rituais, compromissos e celebrações impostas, pode piorar quadros já instalados, aumentando, inclusive, o risco de suicídio.

As emoções se misturam. Os desejos e os sonhos se juntam com a tristeza e a frustração do que não foi realizado, trazendo angústia e sentimento de culpa.

Pintura no estilo Salvador Dalí de um calendário mostrando o mês de dezembro derretendo e a estátua "O Pensador", de Auguste Rodin, pintada ao lado. Fonte: DALL-E 3
Pintura no estilo Salvador Dalí de um calendário mostrando o mês de dezembro derretendo e a estátua “O Pensador”, de Auguste Rodin, pintada ao lado. Fonte: DALL-E 3

Essa situação que provoca aumento de estresse e de crises de ansiedade e depressão vem sendo chamada de Síndrome do fim de ano ou Dezembrite, por ocorrer geralmente em dezembro.

A esses sentimentos que surgem nesse período de rompimento com o passado dos últimos onze meses, somam-se a saudade dos que partiram e não mais participarão das reuniões e a sensação de que pode não conseguir dar conta de tudo.

Todos esses rituais, comemorações em família, entre amigos, com o pessoal do trabalho, troca de presentes, amigo secreto, consumismo generalizado, excessos alimentares, viagens que nem sempre cabem no bolso, caridade compulsória e clima de felicidade coletiva incentivados pela mídia de maneira ostensiva e perpetuados por todos com naturalidade, realmente, têm a necessidade de acontecer, se não for algo prazeroso, da vontade pessoal?

A “obrigação” de estar bem e feliz no fim de ano, pode provocar exatamente um efeito contrário e ter como algumas consequências, maior desgaste emocional, baixa autoestima e infelicidade. Sobretudo, quando a ideia de felicidade surge como uma imposição sociocultural, em que a mensagem é de que deve ser alcançada a qualquer custo, ignorando a natureza transitória desse sentimento.

Falta de energia e de tempo, alguma ansiedade e estresse, fadiga, tristeza, insônia, solidão, podem ocorrer em qualquer época, inclusive nesse período, com o aumento de variadas demandas. É preciso conhecer-se, refletir sobre as próprias necessidades e desejos, seus limites, investir no bem-estar pessoal. Confiar que esse fenômeno passará e as adversidades serão superadas.

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