Controle climático em museus

Um museu é, na definição do International Council of Museums (ICOM, 2001), “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade”. No entanto, pinturas com cores esmaecendo, mofo, rachaduras, buracos causados por insetos e outros danos denunciando que sua coleção está sofrendo por causa do edifício.

Ameaças e proteções

Para permitir a conservação de seu acervo (peças históricas, obras de arte, etc), visitação pública e o desenvolvimento das outras atividades a que se propõe, o prédio não deve ser pensado em separado de sua coleção. O edifício do museu pode suavizar, ou agravar, as condições climáticas externas. É muito importante o controle da umidade e da temperatura. Existem acervos especiais, como os de fotografias, filmes, e acervos arqueológicos, que precisam de um controle mais rigoroso.

Por exemplo, um edifício antigo, de paredes muito grossas, parece ser um lugar seguro das intempéries do ambiente externo. Aproveita-se a inércia térmica dessas paredes para que o clima proporcionado pelo edifício seja o mais estável possível. No entanto, se tiver uma coberta bastante estragada, vai ser extremamente úmido no seu interior. Inclusive, estudos já realizados em museus que ocupam edifícios antigos que não foram bem restaurados ou não chegaram a ser restaurados, mostram que as condições do lado de fora desses edifícios são melhores que as condições internas. Note que não adianta restauro se a obra estiver em um ambiente inóspito a sua preservação.

Museu Nacional (rio de Janeiro/RJ). Foto: VIniRoger

A orientação do prédio deve ser a mais adequada para permitir a ventilação, conforme a direção predominante do vento na região. Paredes voltadas para o mar ou fontes de poluição tendem a ficar mais úmidas e carregadas de detritos. O porão possui aberturas nas paredes opostas que facilitam a ventilação cruzada, mantendo a umidade, ali, naquele espaço, para que ela não suba. Também cria um obstáculo a mais para o avanço de insetos até o interior do prédio. Com a ventilação, os esporos não conseguem se assentar e sempre há evaporação da umidade na superfície, portanto não há água livre nos substratos (do papel, couro, ou da pintura) para que os fungos germinem.

Deve-se também evitar a incidência solar direta, tanto pela cobertura quanto lateralmente, segundo as direções de nascimento e por do sol. Beirais, venezianas, cobogós e outros elementos vazados geram sombra e permitem a ventilação.

O isolamento térmico da coberta também é muito importante. No caso dos edifícios tradicionais, é aconselhado o uso da telha cerâmica – existem telhas esmaltadas e metálicas que são extremamente reflexivas, ajudando a evitar um ganho maior de calor. Para evitar o acúmulo de água e infiltrações em regiões com muita chuva, recomenda-se usar lajes com bastante inclinação ou bem impermeabilizadas com boa drenagem.

Os materiais, principalmente os orgânicos, reagem às mudanças climáticas através da perda e ganho de umidade. O clima quente e úmido é extremamente propício à deterioração causada por microrganismos, fungos e bactérias, e insetos. Por exemplo: o couro de um conjunto de cadeiras que já tinha se adaptado ao seu ambiente foi transportado para uma reserva técnica extremamente quente e seca; o couro se distorceu, perdeu umidade e rachou. Madeira, tintas frescas e colchões também exalam substâncias durante muitos anos.

Nos trópicos, recomenda-se não usar nenhum material impermeável no interior do edifício. É preciso que as paredes sejam porosas e que absorvam a umidade produzida internamente, seja pela respiração, perspiração, ou pelas atividades humanas. Uma parede impermeável pode provocar condensação, sobretudo em ambientes com ar-condicionado. A redução da temperatura facilita a passagem do vapor d’água ambiente para água líquida sobre essas superfícies mais frias.

Na parte externa, o azulejo atua na impermeabilização, pois é um material que não deixa a água passar, e é reflexivo, não deixando o calor entrar dentro do edifício. Muito comuns na arquitetura portuguesa, os azulejos foram substituído pela cerâmica.

Monitoramento

É importante realizar medições higro térmicas (ou seja, de temperatura e umidade) usando um termo higrômetro (mecânico ou digital, mas automáticos) ou mesmo um psicrômetro (manual, devendo-se realizar medições pelo menos três vezes ao dia: logo de manhã, quando a umidade está mais alta, às duas da tarde, quando a umidade relativa é mais baixa, e no final do dia).

Essas medições devem ocorrer por um tempo considerável do exterior do prédio e de seu interior, em diferentes pontos. Isso permite definir um comportamento médio da atuação do prédio com relação ao meio e de suas áreas mais estáveis ou instáveis. Além disso, permite mapear os pontos para abrigar diferentes partes do acervo e melhorias que podem ser realizadas. Por exemplo: materiais mais sensíveis e frágeis devem ficar em salas mais estáveis e menos úmidas, enquanto que metais e cerâmicas podem ficar mais expostos, com mais luz e mais calor.

Além disso, é importante fazer uma avaliação de riscos, como infiltração de água, inundação (por chuva ou por rompimento de um cano de água), risco de incêndio (objetos mais combustíveis), intensidade de luz (natural e artificial) e presença de insetos.

Acertos

O controle climático pode ser feito através de um ar condicionado, no caso de criar um microclima controlando temperatura e umidade em uma sala inteira, um desumidificador, para manter uma temperatura maior, ou mesmo um ventilador, para promover uma ventilação forçada. Para um espaço menor, pode-se usar uma vitrine, com sílica gel e carvão ativado. No entanto, deve-se ter em mente a regularidade da atmosfera interior: desligar equipamentos durante a noite para religar de dia aumenta o stress dos materiais (perda de elasticidade, rachaduras, etc). Algumas soluções construtivas minimizam a necessidade de um sistema auxiliar de controle ambiental, como a promoção de ventilação natural, melhorando as condições físicas do edifício e gastando menos energia.

Fonte

Esse texto é um apanhado de alguns dos aspectos sobre preservação de acervo discutidos na publicação “O controle climático em museus quentes e úmidos“, de Franciza Toledo, pelo Museu Victor Meirelles. Lá você poderá encontrar as referências das pesquisas e mais informações. Veja mais sobre conforto térmico e refrigeração no link.

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