Comissário de voo

A palavra “comissário” diz respeito ao “indivíduo que desempenha uma comissão”, ou seja, “uma tarefa”. Já que o comissário de voo deverá estar necessariamente a bordo da aeronave, o profissional também recebe o nome de comissário de bordo. Aeromoça é, na verdade, um termo cultural utilizado no Brasil e em Portugal para designar o comissário de voo do sexo feminino. Juntamente com os pilotos (e eventuais engenheiros de voo), formam a tripulação.

Entre as funções do comissário de voo, estão:

  • Fazer o possível para que o passageiro se sinta confortável durante a viagem, inclusive auxiliando na acomodação das bagagens de mão;
  • Executar tarefas administrativas, principalmente no que diz respeito à comunicação ao passageiro;
  • Estar preparado para atuar na segurança do passageiro, tanto na prevenção de situações adversas quanto nas ações de socorro;
  • Proporcionar tranquilidade em situações emergenciais;
  • Cuidar da logística de distribuição de comodidades e documentos necessários aos passageiros.

Como muitos termos e funções da aviação, o profissional “comissário de bordo” surgiu na navegação, sendo que também havia uma posição equivalente nos trens de passageiros. Da mesma, as principais funções estão em lidar com os passageiros e a sua segurança durante no transporte durante a viagem.

Heinrich Kubis servindo na sala de jantar do LZ-127 Graf Zeppelin. Fonte: Airships.net

O alemão Heinrich Kubis foi o primeiro comissário de bordo do mundo, em 1912. Kubis foi o primeiro a atender os passageiros a bordo do dirigível DELAG Zeppelin LZ 10 Schwaben. Ele também atendeu o famoso LZ 129 Hindenburg e estava a bordo quando explodiu em chamas – sobreviveu pulando uma janela quando se aproximou do chão.

Quando os aviões começaram a prestar serviços comerciais, na década de 1920, os passageiros eram atendidos pelos pilotos. O “serviço de bordo” geralmente era reduzido a chicletes (para equilibrar a pressão interna dos ouvidos), enormes chumaços de algodão (para proteger o ouvido do ruído produzido pelos motores e sacos de indisposição, de papel encerado, e, depois, de plástico.

A maioria dos voos, no começo da aviação, eram curtos, portanto, equipe de bordo não era considerada essencial nesses casos. Além disso, com aviões estreitos e de baixa potência, é primordial levar o menor peso possível. Na rota Paris-Londres, por exemplo, havia somente cinco bartenders a bordo. Ao distribuir sanduíches e bebidas e fazer comentários sobre as paisagens que podiam ser vistas pela janela, esses bartenders também ofereciam entretenimento para os passageiros.

A Imperial Airways (do Reino Unido) chamava os atuais comissários de “cabin boys” (garotos de cabine) ou “stewards” (mordomos). Nos EUA, a Stout Airways foi a primeira a empregar “mordomos” em 1926, trabalhando em aviões Ford Trimotor entre Detroit e Grand Rapids, Michigan. A Western Airlines (1928) e a Pan American World Airways (Pan Am) (1929) foram as primeiras operadoras dos EUA a empregar “mordomos” para servir comida. Os aviões Fokker de dez passageiros utilizados no Caribe tiveram administradores na era das viagens de apostas a Havana, Cuba, de Key West, Flórida.

Ellen Church fazendo serviço de bordo em um Boeing 80A. Fonte: Cultura Aeronáutica

Em 1930, o executivo da Boeing Air Transport (antecessora da United Airlines) Steve Simpson, auxiliado pela enfermeira Ellen Church, propuseram um novo tipo de atendimento. Ellen Church também pilotava aeronaves, mas logo percebeu que a empresa não iria contratá-la como piloto. No entanto, conseguiu convencer Simpson da necessidade de uma enfermeira a bordo dos aviões, para ajudar os passageiros que passavam mal, algo relativamente comum até então.

Sete outras comissárias, todas enfermeiras, foram contratadas por um período inicial de experiência de três meses: Margaret Arnott, Jessie Carter, Ellis Crawford, Harriet Fry, Alva Johnson, Inez Keller e Cornelia Peterman. Dentre suas tarefas, tinham que distribuir e recolher os saquinhos de indisposição, verificar eventualmente a pressão arterial dos passageiros, ajudar a reabastecer a aeronave, conferir os bilhetes de passagem, consertar assentos quebrados durante o voo e ajudar os pilotos a empurrar o avião para dentro do hangar, ao final da jornada.

Ellen Church, em 15 de maio de 1930. Fonte: Daily Mail

Outras companhias aéreas seguiram o exemplo, contratando enfermeiras para servir como comissárias de bordo, então chamadas de “stewardesses” (criadas de bordo) ou “air hostesses” (recepcionistas do ar), na maioria dos vôos. Nos Estados Unidos, o trabalho foi um dos poucos na década de 1930 a permitir que as mulheres trabalharem, o que foi muito necessário durante a Grande Depressão – duas mil mulheres solicitaram apenas 43 cargos oferecidos pela Transcontinental e Western Airlines em dezembro de 1935.

Antes da Segunda Guerra Mundial, a função ainda não tinha sido formalizada. A Air France tinha somente cerca de 30 aeromoças, em uniformes adaptados dos trens noturnos. No pós-guerra, motores mais poderosos tornaram possíveis voos de longa duração, como a rota Paris-Nova York, que durava aproximadamente 24 horas! O serviço de bordo precisava se profissionalizar, especialmente porque o aumento do tráfego aumentou a concorrência entre as companhias aéreas. A Air France contratou sua primeira aeromoça, de fato, em 1946.

Haviam duas classes de funcionárias, com uniformes diferentes para identificá-las entre os passageiros: uma tinha o papel de recepcionar e servir, enquanto outras deviam preparar as refeições na “cozinha” do avião e manter a limpeza da cabine. Com o tempo, ambos começaram a ter papéis muito similares em times maiores, com até 16 pessoas em um Boeing 747, por exemplo. A profissão de chefe de cabine surgiu para supervisionar a equipe em aeronaves de alta capacidade.

Brasil

As companhias aéreas nacionais, como Varig, Real e Lóide Aéreo, somente passaram a contratar comissários após a Segunda Guerra Mundial, embora algumas já tenham usado esses tripulantes experimentalmente ainda durante as décadas de 1930 e 1940. A Varig começou a contratar mulheres somente quando estava para iniciar os voos internacionais para Nova York, em 1954, pois os aviões Lockheed Super Constellation utilizados na rota tinham leitos para os passageiros, e não era conveniente que comissários do sexo masculino atendessem mulheres e crianças nesses leitos.

Uma dessas pioneira comissárias da Varig, Alice Editha Klausz, era bibliotecária até que que a Varig anunciou que contrataria comissárias. Por ser uma linha internacional, a empresa exigia que a candidata dominasse pelo menos dois idiomas, coisa raríssima na época, além da aprovação em rigorosas provas. Além de voar pela Varig, ela escreveu todos os manuais usados pelos comissários da companhia. O presidente da Varig, Ruben Berta, passou-lhe a tarefa pessoalmente e ainda colocou a sua disposição um escritório completo e várias datilógrafas.

Alice se aposentou da Varig aos 35 anos de serviço, em 1989, mas depois passou a atuar como comissária de voo nos Lockheed C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira em voos para a Antártida. Era um trabalho voluntário, sem remuneração, ela sobrevive somente da sua aposentadoria.

Veja também o post com a formatura de comissários da VASP para conhecer mais sobre essa empresa aérea e a formação desses profissionais nos anos 1960, assim como o post sobre a Transbrasil, por uma comissária.

Desde os tempos do DAC (Departamento de Aviação Civil, praticamente a atual ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil), é obrigatória a aplicação de uma prova teórica para começar a trabalhar na profissão. Não é exigido Ensino Superior, mas é necessário fazer exames e treinamentos específicos em escola homologada antes de prestar prova de certificação da ANAC, além de exames físicos. A carga horária mínima do curso é de 138 horas de aula. Se aprovado, é adquirida a licença de CMS e pode se candidatar a uma vaga. Esses cursos oferecidos fora das companhias aéreas surgiram nos anos 1980, com o aumento da procura por especialização nessa área – antes, eram restritos aos profissionais já selecionados pelas empresas.

Quando admitido, o profissional ainda receberá treinamentos sobre o avião que vai trabalhar com no mínimo 27 horas de aula e estágio em voo de 15 horas, sendo que 1 hora será para a realização de exame prático. Então, a companhia aérea solicitará para o profissional o Certificado de Habilitação Técnica (CHT). Existe uma idade mínima para exercer a profissão de comissário que é de 18 anos. Veja mais sobre a prova da ANAC clicando no link.

Fontes

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