Combatendo mitos

Muitas vezes as conversas caminham para situações que parecem fazer sentido, e que podem ser verdade ou não. Essas histórias podem surgir e serem repassadas propositalmente ou sem intenção, por ignorância. Quando repassadas muitas vezes, mesmo sem serem comprovadas ou até mesmo já desmentidas, ficam conhecidas como mitos ou lendas.

mitos

Alguns mitos são muitos conhecidos, como a história de o homem nunca ter ido à Lua, triângulo das bermudas, o rosto humano em Marte, entre outros – veja a explicação desses e outros mitos clicando no link. Porém, certas vezes os mitos surgem em coisas do cotidiano, como dicas de emagrecimento rápido, achar que somente um jogador resolve uma partida ou que tal político é “bonzinho” ou “malvado” em tudo o que faz e que tudo é culpa dele.

Uma notícia falsa costuma ser generalizada e bombástica, sem data/lugar/nomes, não aparece em outros site ou aparece várias vezes exatamente com o mesmo texto, etc. Veja esses 7 passos para detectá-la nesse vídeo: nada é verdade, informação vaga não é informação, não confie em manchetes, fontes são importantes, nem toda a fonte é confiável, procure as pessoas que entendam do assunto, você não precisa ser especialista em tudo.

Gostaria de colocar aqui uma postura a ser tomada frente a histórias que você não sabe a verdade: a postura racional. Veja um exemplo de como usar a razão para entender a relação entre o fenômeno da paralisia do sono e suas outras interpretações culturais (como possessão e abdução):

Não devemos acreditar em qualquer coisa que nos falam. Da mesma forma que você investiga todos os detalhes para comprar um carro ou algo de grande valor material, sem acreditar em qualquer coisa que o vendedor fale, você deve tomar essa atitude cética e investigativa para solucionar problemas e adotar opiniões sobre os assuntos.

O livro O mundo assombrado pelos demônios fala muito sobre a importância de nos educarmos para questionar e pensar por conta própria, assim como ferramentas e práticas úteis para se detectar mentiras – clique no link para ver mais detalhes. Colocar emoção e uma pessoa com autoridade para falar de um assunto são formas comuns de tentar enganar as pessoas.

Falácia

Falácia é algo aparentemente lógico mas que não existe, utilizando algum argumento inválido. Por exemplo, criar um cenário caótico de algo que pode acontecer caso todos andassem armados, onde qualquer briga seria resolvida com tiros, haveria anarquia e seria uma guerra de todos contra todos. Todas as consequências do fato de andar armado não existem, mas o cenário caótico criado pela possível existência dessas consequências já assusta, ou seja, trabalha no emocional das pessoas e entra em um campo onde as pessoas não tem o conhecimento (no caso, de uma previsão).

Se as pessoas tivessem o conhecimento, o espaço de atuação da parte emocional seria mais restrito. Outro exemplo de falácia: “a previsão de tempo sempre erra”. Devido ao lado emocional, as pessoas tendem a contabilizar mais as vezes em que a Meteorologia erra as previsões e produz um efeito desagradável, criando um viés subjetivo na avaliação dos resultados das previsões de tempo.

Veja alguns exemplos de falácias:

Falsa dicotomia
Se o argumento não pertence a um grupo, então é de outro, pois só existiriam essas duas opções.
Ex.: Ou você me apóia e é meu amigo ou é meu inimigo.
O vídeo a seguir ilustra esse tipo de falácia muito comum em redes sociais, onde as pessoas são divididas em dois grupos, mesmo que existam outros, e o aumento de opiniões extremas:

Argumentum ad hominem (ataque pessoal)
Em vez de atacar o argumento, atacar a pessoa.
Ex.: Quem é você para falar se o que eu fiz é certo ou errado? Você roubou uma maçã!
Ou atacar um grupo inteiro.
Ex.: Se ele é corinthiano, ele é ladrão. Se ele é petista, ele é ladrão – tome cuidado com a sua carteira quando passar por perto.

Petitio principii (petição de princípio)
Demonstrar uma tese partindo do princípio de que já é válida.
Ex.: É fato que a Bíblia é infalível, portanto todos devem buscar nela a verdade.
Que premissas levam à conclusão de que a Bíblia é infalível e permitem que se use essa conclusão como uma nova premissa?
Trata-se de usar uma premissa sem dizer de onde ela saiu.

Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância)
Tentar provar algo a partir da ignorância quanto à sua validade.
Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus existe, logo ele não existe.
Ou o contrário.
Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus não existe, logo ele existe.

Apelo ao pobre
Essa é a falácia de assumir que, apenas porque alguém é mais pobre, então é mais virtuoso e verdadeiro.
Ex.: Joãozinho é pobre e deve ter sofrido muito na vida. Se ele diz que isso é uma cilada, eu acredito.

Apelo à autoridade
Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para comprovar a premissa.
Ex.: Se Aristóteles disse que o Sol gira ao redor da Terra em uma das esferas celestes, então é certamente verdade.
É como se um especialista pudesse acertar em tudo o que diz, mesmo sendo algo fora da sua área de especialidade. Essa falácia consiste em usar as opiniões de especialistas em áreas nas quais eles são leigos, como um físico se pronunciando sobre antropologia. A opinião dele só vale dentro da física. No caso acima, Aristóteles não tinha meios de testar essa teoria astronômica, no tempo dele não havia recursos para isso. Entretanto, as teses dele em metafísica certamente podem ser consideradas porque não dependem de instrumentos e experimentação, somente do raciocínio típico de um filósofo.

Veja mais categorias e exemplos de falácias no link Falácias da Wikipédia (selecionei alguns que achei bem interessantes) e no podcast Dragões de Garagem #60 Falácias. O site “Your logical fallacyis” possui um poster em português com várias falácias para download.

Memória seletiva

Os animais (inclusive nós) muitas vezes sofremos de um fenômeno conhecido como condicionamento, quando é criada uma relação de causa e efeito. Veja esse exemplo: o cachorro recebe comida toda vez que fizer cocô no lugar certo para ficar condicionado a sempre fazer cocô naquele lugar; se fizer errado, recebe um castigo. Note que não é porque ele faz cocô naquele lugar que ele recebe comida, mas ele está condicionado a essa situação. Da mesma forma que falamos “toda vez que escuto jogo no rádio, meu time ganha”.

Segue um vídeo do canal Nerdologia explicando como as simpatias funcionam e outras falsas relações de causa e efeito que permeiam nossas vidas:

Essa relação descoberta pode ser reforçada por um efeito chamado viés da confirmação (ou memória seletiva). Nesse caso, as pessoas tendem a lembrar mais da relação quando dá certo e esquecem quando dá errado. Sempre buscamos evidências daquilo que acreditamos. Por exemplo, se a pessoa não gosta de um determinado político, sempre vai ressaltar suas más ações e não lembrará das boas, deixando de ter uma opinião imparcial e racional.

Medicamentos alternativos (que não passaram por métodos científicos) geralmente são utilizados em doenças que tem momentos bons e ruins. Se a pessoa acredita no remédio, somente vai associar suas melhoras ao uso do medicamento. Da mesma forma, quando se acredita no horóscopo, são lembradas as vezes que acertou e são dadas várias desculpas para dizer porque ele errou. Segue um vídeo falando mais sobre como funciona a Astrologia, que muitas vezes gera previsões vagas e contraditórias:

Mesmo na mídia acabamos sendo manipulados por comerciais e pelos noticiários (veja mais clicando nos links). Você pode ver mais sobre o método científico e o pensamento científico no SciCast clicando nos respectivos links.

Saiba mais e não seja enganado

O programa de televisão Os Caçadores de Mitos (“MythBusters“), produzido para o Discovery Channel e também transmitido pela TV Cultura, usam elementos do método científico para testar a validade de rumores, mitos urbanos, cenas de filmes, provérbios, vídeos da internet e histórias novas. Um site especializado em resolver farsas que circulam pela internet é o e-farsas. Mesmo o programa O mundo de Beakman apresentou alguns mitos.

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