Durante o final de semana de 22 e 23 de março de 2024, boa parte de Portugal presenciou a “chuva de lama” ou “chuva de barro”. Apesar de parecer um castigo bíblico, esse fenômeno é completamente natural e relativamente comum na região. E com as mudanças de uso de solo, áreas cada vez mais em diferentes lugares do mundo estão cada vez mais sujeitas ao fenômeno, como o interior de São Paulo, por exemplo.
Em regiões de solo nu, quando venta muito forte após um longo período de seca, o solo é levantado na forma de pó e pode percorrer longas distâncias. O deserto do Saara é a maior fonte de poeira mineral do mundo. Estima-se que gere cerca de 60 a 200 milhões de toneladas de poeira por ano. As partículas maiores se precipitam rapidamente no solo, mas as menores podem ser transportadas ao longo de milhares de quilômetros, chegando à Europa e até mesmo a outros continentes conforme as condições meteorológicas – veja mais no post Nuvem de poeira do Saara chega à América.
As poeiras no ar são, em geral, provenientes do Norte de África e chegam à Europa devido a ventos fortes que, ao soprar sobre as superfícies desérticas, levantam do solo as partículas inaláveis mais leves, posteriormente transportadas através da circulação atmosférica. Este poluente tem efeitos na saúde humana, principalmente na população mais sensível, crianças e idosos. Quanto maior a quantidade de poeira em suspensão, mais opaco fica o céu, já que a visibilidade fica cada vez mais reduzida. Isso também afeta a aviação e os empreendimentos para geração de energia solar.
A poluição do ar é devido a partículas inaláveis, conhecidas por PM10, por apresentarem diâmetro inferior a 10 micrômetros. As PM10, com a exposição prolongada, acumulam-se nos alvéolos pulmonares provocando uma reação de sobrecarga pulmonar e uma diminuição da capacidade respiratória. O valor limite diário, para garantir a proteção dos indivíduos à exposição a este poluente, fixa-se em 50 microgramas por metro cúbico, mas nas zonas mais afetadas foram registados níveis perto do dobro. (fonte: CNN)
Se chover em uma das regiões atingidas por essa poeira em suspensão, a terra será levada pela chuva até a superfície, depositando-se em tudo o que for atingido. E nem precisa ser uma quantidade que o resultado é visível. Quando a água evapora, percebe-se a poeira acumulada principalmente em locais planos e lisos, como a lataria dos carros.
ATUALIZAÇÃO: alguns dias depois (30 de março de 2024), uma névoa se deslocou do Saara até a região da Suíça e da França. Esse fenônemo pode ocorrer a cada cinco anos, e um dos últimos registros foi em 2018, afetando várias cidades do leste europeu. Apesar do fenômeno ser comum, desta vez ele se apresentou com maior intensidade. A nuvem de poeira alcançou cerca de 180.000 toneladas, o que equivale ao dobro da registrada em fenômenos similares na Suíça. Devido à concentração de poeira a menos de 3.000 metros, a qualidade do ar se deteriorou desde as margens do lago Léman até o restante do país. Já no sudeste da França, “o limite de alerta” foi superado no sábado (30) em toda a região de Provence-Alpes-Côte d’Azur e em Hérault no Departamento de Gard. (fonte: UOL)