Caminhos do Mar

O Parque Estadual Serra do Mar representa a maior porção contínua preservada de Mata Atlântica no Brasil, abrangendo a área de vários municípios paulistas. Justamente por isso, é dividido em vários núcleos: Caminhos do Mar (assunto deste post), Itutinga-Pilões (que envolve o núcleo Caminhos do Mar), Bertioga (onde se localiza a Vila de Itatinga), Caraguatatuba, Cunha, Curucutu (depois do bairro de Parelheiros), Itariru (no litoral sul), Padre Dória, Picinguaba, Santa Virgínia e São Sebastião. É administrado pela Fundação Florestal, instituição vinculada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

Vista de curva na Rodovia Caminho do Mar. Foto: ViniRoger

O núcleo Caminhos do Mar é o trecho da Serra do Mar que compõe a Estrada Velha de Santos. Assim, além de mirantes, que pode se observar o oceano em dias de céu limpo, e a exuberante Mata Atlântica, também é um local com muita história. Caminhos do mar de São Paulo é o nome genérico que se dá ao conjunto de vias que ligam a planície ao planalto, ultrapassando a serra do Mar:

  • Trilha dos Tupiniquins (Caminho de Paranapiacaba ou Caminho de Piaçaguera) – muito ativa no Brasil colonial, iniciava-se na vila de São Vicente, atravessava uma área alagada (hoje Cubatão) e prosseguia pela serra do Mar acima até às nascentes do rio Tamanduateí (atual Mauá) e daí ao córrego Anhangabaú na aldeia do índio Tibiriçá em Piratininga (atual Pátio do Colégio, no centro histórico de São Paulo). Veja mais sobre trilhas indígenas no post sobre Caminho de Peabiru.
  • Caminho do Padre José de Anchieta – variante aberta em 1554 como alternativa à Trilha dos Tupiniquins. Ia de Santos subindo pela serra de Paranapiacaba a Oeste do rio Perequê até encontrar o Rio Grande, terminando no chamado Porto Geral (atual rua 25 de março).
  • Calçada do Lorena – construída no final do século XVIII, em função das precárias condições do Caminho do Padre José de Anchieta. Foi o primeiro caminho pavimentado (com rochas) ligando o planalto ao litoral. Dom Pedro I a utilizava regularmente, sendo que sua viagem mais famosa resultou na declaração de independência do Brasil. Os remanescentes da calçada encontram-se preservados e abertos à visitação turística no trecho que se estende do seu início, no planalto, até ao seu terceiro encontro com a Rodovia Caminho do Mar.
  • Estrada da Maioridade – tem esse nome em homenagem à maioridade de Dom Pedro II. Ela foi construída praticamente junto com a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e era mais larga do que a Calçada do Lorena.
  • Estrada do Vergueiro – é o novo nome que recebeu a estrada da maioridade após grandes reformas entre 1862 e 1864, sob o comando do Comendador José Pereira de Campos Vergueiro, filho do Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Outro dos restauradores foi Arthur Rudge da Silva Ramos, que acabou nomeando parte do trecho do “caminho de mar” e um bairro de São Bernardo do Campo.
  • Rodovia Caminho do Mar (depois, popularmente a Estrada Velha de Santos – SP-148) – novo nome que a estrada do Vergueiro recebeu após grande reforma em 1913. Para permitir o uso de automóveis, a estrada foi macadamizada (assentamento de três camadas de pedras postas numa fundação com valas laterais para vazão da água da chuva) e logo depois pavimentada com asfalto. A Curva Do Mirante (km 44,3) proporciona uma bela vista.

No governo de Washington Luís (1926-1930), foi recuperada e construídos alguns monumentos históricos em comemoração ao centenário da Independência do Brasil:

  • Casa de Visitas do Alto da Serra
  • Pouso de Paranapiacaba (km 44, construído como parada antes/depois do trecho de serra, dele pode-se ver o mar em dias de céu limpo)
  • Ruínas do pouso (km 44,5)
  • Belvedere Circular (km 46, marca o primeiro encontro da Calçada do Lorena)
  • Rancho da Maioridade (km 47, segundo encontro com a Calçada)
  • Padrão do Lorena (km 47,2, terceiro encontro com a Calçada)
  • Pontilhão da Raiz da Serra (km 52, inicialmente marcava o fim da pavimentação com asfalto – não é de fato uma ponte, mas somente as “paredes” da ponte fincada no chão pois antes passava um rio)

E falando em monumentos, o Cruzeiro Quinhentista está localizado em Cubatão mas fora dos limites do parque, em uma rotatório no acesso à entrada do Parque. Já o Monumento do Pico está localizado dentro do Parque, mas a trilha que dá acesso a ele está fechada. Construído na mesma época dos demais mencionados, marca o início do trecho de serra da antiga Calçada do Lorena.

No final da Rodovia está a Refinaria Presidente Bernardes da Petrobrás, inaugurada em 1955. Com capacidade instalada para 170 mil barris/dia, é responsável por 11% do fornecimento de derivados de petróleo do Brasil, como gasolina (inclusive de aviação), óleo diesel, nafta, gás natural, butano, benzeno, xilenos, etc.

Com a inauguração da Via Anchieta, construída através de técnicas mais aprimoradas, a Rodovia Caminho do Mar ficou subutilizada. No período 1992-2004, a estrada foi fechada e reformada, tornando-se, atualmente, o Polo Ecoturístico Caminhos do Mar, que é formado pela estrada Caminho do Mar e por um trecho da Calçada do Lorena.

  • Rodovia Anchieta (SP-150) – liga São Paulo (aproximadamente do final da antiga Estrada do Vergueiro, hoje rua Vergueiro) até o porto de Santos. Em 1947, foi inaugurada a primeira pista da Via Anchieta; em 1953, a segunda. A Curva da Onça, situada no km 43 da pista descendente da Via Anchieta é o trecho mais perigoso do Sistema Anchieta-Imigrantes.
  • Rodovia dos Imigrantes (SP-160) – liga São Paulo (aproximadamente da região das nascentes do rio Ipiranga) até Praia Grande. Em 1974, foi inaugurada a pista norte, com 11 túneis; em 2002, foi entregue a pista sul, com 4 túneis, sendo dois deles dos mais extensos túneis rodoviários brasileiros – o primeiro com 3146 metros de extensão e o outro com 3009 metros.

Visitação

A portaria de acesso de entrada fica no Km 42 da rodovia SP-148 Caminhos do Mar, Riacho Grande, São Bernardo do Campo (SBC). A portaria de saída fica no Km 51 da rodovia SP-148 Caminhos do Mar, nas proximidades da refinaria Presidente Bernardes (Petrobrás), Cubatão. Veja o mapa:

Mapa turístico disponível também nesse link.

É necessário agendamento prévio por telefone (11 2997-5000 Ramal 356 de segunda a sexta das 08h às 17h), e-mail (agendamentocaminhosdomar@gmail.com) ou diretamente no site, com no mínimo 7 dias de antecedência. Como a procura é muito grande, geralmente só se consegue marcar a visita para alguns meses depois.

O pagamento da entrada (inteira de R$28,00 em 2017) deve ser feito em até 01 (um) dia útil antes do passeio (5 dias se for um grupo com mais de 15 pessoas), por meio de depósito identificado. Após a confirmação do pagamento, que deverá ser feita com o envio do comprovante de pagamento por e-mail, o visitante receberá um código de acesso, que será solicitado na chegada. Caso contrário, o agendamento será cancelado. Caso você queira cancelar, isso deve ser solicitado com no máximo 3 (três) dias de antecedência sem devolução do valor total do ingresso (pode ser usado como crédito em um agendamento futuro).

Os passeios são guiados com os monitores do Parque e tem início às 9h00 (mas é bom chegar já a partir das 08h30), com tolerância máxima de 10 minutos. Também existem passeios à tarde, com saída às 14h de São Bernardo (sob consulta). O período da manhã costuma ter menos neblina e ser mais fresco, além de garantir a chegada até o final do passeio ainda com boa iluminação para fotos; à tarde, é possível ver as luzes da refinaria sendo acesas, lembrando uma decoração natalina.

São 9 km de caminhada descendo a serra, de SBC até Cubatão, o que dura em média de 4 a 5 horas. Para realizar o passeio de Cubatão para SBC (subida), é necessário estar em grupo mínimo de 25 pessoas – nos outros casos, não há limite mínimo de pessoas. Existe a opção de fazer “meio percurso”, que vai até o rancho da maioridade – no caso do passeio completo, esse é o ponto de parada para lanches. Em ambos os casos, é percorrido um pequeno trecho da calçada do Lorena (entre Belvedere circular e o rancho da maioridade).

Não é permitido transitar pelo local utilizando bicicleta, moto ou carro. Ou seja, para quem vai de veículo próprio, deve deixá-lo no estacionamento. Nesse caso só se vai até metade do caminho (até o Padrão do Lorena) e dali retorna-se subindo a serra. Saída em Cubatão (passeio completo) somente havendo um veículo do solicitante disponível para buscar o grupo no final do passeio.

No caso de entrar por SBC e sair por Cubatão (ou o contrário), uma opção é o aluguel de van. Como cabem entre 14 e 15 pessoas, é interessante lotar sua capacidade para reduzir os custos. Por questões de segurança e fiscalização, não pode viajar se for com 16 ou mais pessoas. Saindo em Cubatão, também existe a opção de caminhar até a Rodoviária de Cubatão e comprar uma passagem para o Terminal Rodoviário do Jabaquara, pegando o metrô a partir de lá. No entanto, não poderá ir com o próprio carro até a entrada de SBC, devendo utilizar táxi/uber/cabify/carona.

Também não é permitido consumo de bebidas alcoólicas, levar animais domésticos, ouvir música em alto volume e transitar em trajes de banho. Não está disponível nenhum serviço de alimentação no local, sendo necessário que cada um leve o seu próprio lanche e água. Recomenda-se o uso de roupas e calçados confortáveis, próprios para caminhada, além de bonés ou chapéus, protetor solar, capa de chuva e repelente.

A incidência de chuva na região é alto (um dos lugares que mais chove no Brasil)! Por isso mesmo que, se chover fraco, o passeio vai acontecer assim mesmo – com chuva FORTE, pode haver cancelamento no local, podendo ser reagendada uma nova data, sem devolução do valor dos ingressos. Uma dica é fazer o agendamento para meses de seca (entre maio e agosto, principalmente julho e agosto) e torcer para não entrar nenhuma frente fria. Mesmo assim, é bom levar capa de chuva e guarda chuva.

Mais informações no site do Parque Estadual da Serra do Mar – núcleo Caminhos do Mar e também várias fotos no site Turismo Independente.

Existem empresas de turismo que organizam passeios para o parque com alguma regularidade, como a Passeios Baratos em SP (agora Próxima Saída Viagens). Caso queira montar um grupo e ir por conta própria, veja esse roteiro básico para organizar sua excursão:

  • Combine com as pessoas com as quais deseja fazer o passeio algumas possíveis datas (lembrando que provavelmente seu agendamento será para daqui alguns meses) e se o trajeto será até metade (basta ir de carro e deixar no estacionamento para voltar com ele) ou até Cubatão (precisará de motorista por conta dos visitantes)
  • Mande um e-mail ao Parque e pergunte qual a data mais próxima; acerte com o seu grupo e faça o agendamento o quanto antes
  • Colete o dinheiro dos ingressos (fique atento às possíveis meias entradas) e pague ao Parque para obter o código de reserva (um número contendo “dia.mês.grupo.número_de_pessoas” a ser informado na portaria no dia do passeio)
  • Caso tenha optado por fazer o trajeto todo entre SBC e Cubatão, você pode optar pelo aluguel de uma van; faça cotações com vans na sua cidade e escolha o melhor preço aliado à prontidão e atenção que tiveram ao tratar com você. As informações solicitadas para cotação: local/dia/horário para pegar o grupo (programe-se pensando em estar às 8:30 da manhã na entrada do Parque), local onde deverá ser deixado (passar endereço de uma das portarias, conforme o caso), local e horário onde o grupo deverá ser pego de volta (passar o endereço da outra portaria e o horário, sugiro 14:00) e o local/dia/horário de retorno (provavelmente o mesmo de origem). O pagamento geralmente é feito 50% como sinal e a outra metade no dia do serviço.
  • No dia do passeio, não esquecer boné, guarda-chuva/capa de chuva (olhe a previsão do tempo antes), repelente/protetor solar, comidas leves e bebidas (muita água) para o trajeto, além de vestir roupas e calçado confortáveis e adequadas para muita caminhada

Outros caminhos do mar

Além do sistema Anchieta-Imigrantes e a Rodovia Caminho do Mar, é possível descer a Serra do Mar no sentido do litoral norte paulista através de outras rodovias: Mogi-Bertioga (entre Mogi das Cruzes e Bertioga), Tamoios (entre São José dos Campos e Caraguatatuba, passando por Paraibuna), Osvaldo Cruz (entre Taubaté e Ubatuba, passando por São Luís do Paraitinga) e Paraty-Cunha (entre Guaratinguetá e Paraty, passando por Cunha, trecho da histórica Estrada Real).

Outro caminho pouco conhecido para atravessar a Serra do Mar em São Paulo é conhecido como “Estrada da Petrobrás”, pois foi construída para permitir a manutenção dos oleodutos que partem de São Sebastião. A estrada liga Salesópolis a Caraguatatuba, com aproximadamente 80 km de terra e pedras. Possui algumas cachoeiras em seu traçado e até um grande viaduto inacabado, que não faz parte da estrada. Mais informações no post do site Trilha da lente.

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