Quanto mais industrializada a comida, cada vez mais ela fica longe das suas origens, devido às misturas, processamentos e adição de conservantes, corantes, etc. Existem filmes e desenhos que mostram as sociedades do futuro se alimentando de cápsulas que contenham todos os nutrientes necessários, com sabor artificialmente igual ao natural – algo que não estamos tão distantes assim, basta olhar os ingredientes.
O filme norte-americano de 1973 “No mundo de 2020” mostra uma sociedade sofrendo com a superpopulação, cujos pobres e desempregados são alimentados com tabletes verdes chamados de Soylent Green. Somente os ricos tem acesso a carnes, frutas e legumes, então raros. No final do filme, descobre-se de que são feitos esses tabletes – e o final é tão surpreendente e chocante que nem vou contar aqui!
Principalmente por questões comerciais, alguns alimentos caros tiveram uma versão mais econômica criada e são tratados como equivalente, dificilmente diferenciáveis. Veja alguns exemplos:
Pão/biscoito integral
Alguns possuem a palavra “integral” na embalagem, devido à presença de farinha integral. Por ser menos refinada, a farinha integral preserva seus nutrientes, que incluem proteínas, minerais, vitaminas e fibras. No entanto, ela é geralmente o segundo ou terceiro item da lista de ingredientes, depois da farinha branca.
Para não ser enganado, é importante olhar o rótulo com os ingredientes. Eles estão listados de acordo com as suas quantidades, ou seja, o primeiro item é o que está presente em maior concentração e assim sucessivamente. Esse truque vale também para os “hambúrgueres de picanha”, mostarda (que tem mais aditivos do que mostarda propriamente dita), linguiça calabresa (deve ter carne somente suína), muçarela de búfala (que acaba contendo mais leite de vaca do que de búfala), etc.
Cheddar
Através das redes de fast-food americanas, chegaram no Brasil algumas versões do Cheddar Processado, um produto pasteurizado, obtido pela fusão de uma mescla de queijos com uma série de ingredientes, inclusive aromatizantes e conservadores, e que não é propriamente um queijo. O verdadeiro Cheddar é um queijo originário da vila de Cheddar (Inglaterra), onde é produzido há pelo menos onze séculos.
O queijo cheddar é produzido por meio do processo conhecido como “cheddaring”, no qual os coalhos são moldados em bolos que são empilhados um em cima do outro para drenar o excesso de soro. O processo de cortar e empilhar os coalhos é repetido várias vezes, conferindo ao queijo amadurecido uma textura esfarelada e em camadas. Existe na versão branca e alaranjada, onde é adicionado um corante para homogeneizar a cor. Isso porque a alimentação das vacas varia ao longo do ano, impactando no tom mais ou menos amarelado do queijo.
Mel
Com um preço inferior ao mel autêntico, basta a leitura do rótulo para ver que é um alimento à base de glicose ou de melado de cana, mais processados e com alto teor de açúcar.
Cerejas em calda
Geralmente são bolinhas de chuchu embebidas em groselha ao invés da fruta. A cereja de verdade pode custar cerca de R$ 45,00 e o chuchu R$ 2,00 o quilo. Para confirmar de qual caso se trata, basta ver os ingredientes. (veja mais) O mesmo acontece com as marmeladas e goiabadas, que muitas vezes contém mais chuchu do que marmelo ou goiaba. (veja mais)
Trufas
É um fungo que cresce em determinadas regiões de clima específico e apresenta coloração negra ou amarelada (chamada de trufa branca). Ela costuma ficar dentro da terra e só é encontrada por porcos e cães treinados. A trufa de chocolate revestida por cacau em pó lembra vagamente uma trufa verdadeira. O grama de uma trufa verdadeira pode custar centenas de dólares. Ela também é chamada de ganache, que é o nome da mistura de chocolate derretido com gordura láctea (manteiga ou creme de leite) e conhecida por esse nome em muitos países. (veja mais)
Chocolate
A maior parte da composição do chocolate “comum” é de gordura e açúcar, cuja combinação traz um grande prazer ao ser humano. O pó de cacau, que tem um gosto amargo, sempre vem com uma porcentagem minoritária, com exceção dos chocolates x% cacau. É preciso que o produto tenha pelo menos 25% de cacau, mas muitos não chegariam nem a 5% – nesses casos, deve ser chamado simplesmente de “bombom”. O chocolate branco está ainda mais distante, pois só tem a manteiga de cacau em vez do pó (gordura obtida das sementes durante a fabricação do chocolate), também com um percentual bem baixo de sua composição. (veja mais)
Achocolatados prontos na verdade são “bebidas lácteas”, pois o soro é misturado com leite de diferentes formas, como reconstituído e em pó, além de água e gordura vegetal, em vez do esperado leite com chocolate. Isso faz com que eles sejam menos nutritivos do que o desejado. (veja mais)
Iogurte
Podem conter soro de leite, o que faz com que sejam chamados de “bebida láctea fermentada” e tenham uma consistência mais aguada que o iogurte original.
O iogurte grego original passa por diversos processos de filtração que resultam em um produto com maior quantidade de proteína e pouca gordura. No entanto, algumas versões industrializadas podem adicionar espessantes para deixar o alimento mais cremoso.
Requeijão
O original é sólido e meio amarelado, mas geralmente só se encontra no mercado o “requeijão cremoso”, mais branco por conter creme de leite. No entanto, boa parte dos requeijões nas prateleiras tiveram boa parte de seu leite substituído por amido (mais barato, porém menos nutritivo) e gordura vegetal. Isso deve ser indicado no rótulo com destaque. (veja mais)
Manteiga de cinema
Enquanto a manteiga de verdade é feita de uma mistura de creme de leite e sal, a manteiga de cinema é composta por óleo vegetal, corante e aroma sabor manteiga.
Azeite
Suas propriedades antioxidantes somente são garantidas se não for misturado a outras substâncias. No entanto, no mercado é mais comum encontrar produtos vendidos como azeite mas que são uma mistura de óleos refinados, geralmente óleo de soja como ingrediente principal.
Isso não tem a ver com o fato do azeite ser extravirgem: quanto mais preservadas forem as características aromáticas da azeitona, mais virgem será o azeite. Se a concentração de ácido oleico for igual ou inferior a 1%, é classificado como extravirgem; entre 2,1% e 3,3%, é azeite virgem. Como o azeite refinado perde o aroma de azeitona, ele geralmente é misturado a um pouco de azeite virgem, surgindo o produto rotulado como azeite de oliva (sem adjetivo). (veja mais)
Bacalhau
Quatro tipos de peixe que são anunciados como bacalhau: Cod, Saithe, Zarbo e Ling. O Cod (Gadus morhua) é o legítimo bacalhau , proveniente do Atlântico Norte. Quando seco, normalmente, é o maior e mais largo (o que permite o corte em filés). (veja mais)
Salmão
O verdadeiro salmão é importado, por isso é um produto de alto valor no mercado. Com o crescimento da demanda por restaurantes japoneses, alguns fornecedores passaram a oferecer como alternativa ao custo, outro peixe bem semelhante ao salmão: a truta salmonada. Ambos pertencem à família dos salmonídeos e possuem gosto bastante semelhante. No entanto, boa parte das trutas é criada em cativeiro e são alimentadas com corantes artificiais para obterem a coloração avermelhada. (veja mais)
Kani kama
Comum na culinária japonesa, apesar de seu nome significar “caranguejo”, é feito com carne de peixe processada mais aromatizante e corante para imitar o original. (veja mais)
Sal do Himalaia
Não há evidências de que o sal rosa do Himalaia seja mais saudável do que usar outros tipos de sal em alimentos – lembrando que o consumo de sal em excesso não é recomendado pela maioria dos profissionais de saúde. Um estudo da Universidade McGill diz que realmente possui mais minerais, como o ferro, que o sal refinado (justamente por não ser refinado), mas a diferença é muito pequena (ambos são feitos 98% de cloreto de sódio). E o tradicional não é extraído exatamente do Himalaia: provém da mina de Khewra, situada no Paquistão, a alguns quilômetros dos contrafortes dessa cordilheira asiática.
Cerveja
Por tradição, a bebida é feita com água, malte (produzido com a cevada) e lúpulo, mas os rótulos de grandes marcas trazem o misterioso ingrediente “cereais não maltados” em sua fórmula. A legislação brasileira permite que milho possa compor em até 50%, que é mais barato que a cevada. (veja mais)
Suco
Boa parte dos sucos industrializados vendidos são compostos em sua maioria por água, depois açúcar e por último o suco da fruta (com percentuais de composição geralmente abaixo de 10%), junto com corantes e aromas artificiais. Também existem os sucos que na verdade possuem uma composição maior de maçã do que da fruta estampada na caixa – por exemplo, um suco de maçã, que parece de laranja e tem sabor de abacaxi. Os néctares são bebidas que podem ter adoçantes, corantes, conservantes e outros aditivos, e cerca de 30% de suco original da fruta. Os refrescos também podem ter esses adicionais, e são feitos a partir da diluição em água do suco de fruta, polpa ou extrato vegetal com apenas 10% de fruta ou menos. Já os sucos em pó, além serem ricos em açúcar, têm só 1% de polpa de fruta em sua composição. (veja mais)
E falando em frutas, alguns legumes e frutas que conhecemos foram “domesticadas” pelos seres humanos ao longo de várias gerações e tem uma aparência bem diferente do original. Melancia, banana, berinjela, cenoura, milho e pêssego foram selecionados para serem maiores e com menos sementes, inclusive mudando até de cor – veja as fotos no artigo Como as frutas e vegetais pareciam antes de serem domesticados. Além disso, outros são modificados geneticamente e estão presentes em diversos alimentos e no seu modo de preparo, como algumas culturas de milho, de abobrinha, de soja, de mamão papaya, de arroz e de feijão (algumas ainda em estudos), além da quimosina (uma enzima importante na coagulação de lacticínios). Até salmão transgênico já foi aprovado para consumo humano – veja mais em Conheça 10 alimentos geneticamente modificados da cadeia alimentar.
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