Antártida

O nome Antártica (ou Antártida) vem do grego e significa “oposto ao Ártico”. Assim é conhecido o menor dos continentes da Terra e que atualmente ocupa a região mais meridional da Terra, mas que já fez parte do antigo supercontinente Gondwana há aproximadamente 100 milhões de anos em regiões mais tropicais. Essa é somente uma das surpresas que existem no continente mais inóspito da Terra.

Geleiras na Antártida

A Antártida é o continente mais frio, mais seco (precipitação média anual fica entre 30 e 70 mm), com a maior média de altitude (2 mil metros) e de maior índice de ventos fortes do planeta. A temperatura mais baixa da Terra (-89,2 °C) foi registrada na Estação Vostok em 12 de janeiro de 1983. Ventanias com velocidades de aproximadamente 100 km/h são comuns e podem durar vários dias (ventos de até 320 km/h já foram registrados na área costeira).

Muitas vezes ocorre de cristais de gelo permanecerem suspensos na atmosfera e cintilarem ao refletir a luz do sol, fenômeno esse conhecido como pó de diamante. Outros fenômenos atmosféricos bem famosos que acontecem na região polar são as auroras, as nuvens noctilucentes, nuvens nacaradas (ou estratosféricas) e nuvens lenticulares (clique nos links para ver vídeos e saber mais sobre eles). Basicamente, a aurora polar é um fenômeno óptico composto de um brilho observado nos céus noturnos nas regiões polares, em decorrência do impacto de partículas de vento solar e a poeira espacial encontrada na via láctea com a alta atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético terrestre. Já as nuvens noctilucentes são nuvens muito altas formadas por cristais de gelo, que brilham muito (mesmo a noite) e que só podem ser vistas próximas dos pólos, enquanto que as nuvens estratosféricas ou nacaradas possuem formação relacionada ao buraco na camada de ozônio. As nuvens lenticulares são formadas devido aos fortes ventos que geram turbulência dos rotores que as acompanham abaixo, após passar pelo topo de morros. Uma medida meteorológica relacionada com a visibilidade horizontal muito utilizada na Antártida é o contraste de horizonte (ou horizon contrast).

Aproximadamente 98% da Antártica está coberta por um manto de gelo, que possui em média dois quilômetros de espessura, sendo 4.776 metros sua espessura máxima. Essa cobertura de gelo tem um volume estimado em 25,4 milhões de quilômetros cúbicos, contendo 70% de toda a água doce do planeta. O lago Vostok, maior lago do continente, está selado pelo manto de gelo há 30 milhões de anos. Os icebergs são blocos de gelo flutuante formados pela neve, desprendidos das geleiras ou das plataformas de gelo (as vezes alguns bem grandes desprendem-se e viram notícia). Embora seja lar de muitos vulcões, apenas uma cratera na ilha Decepção e o monte Érebo expelem lava atualmente, a primeira desde 1967.

Monte Érebo, vulcão ativo da Antártida
Monte Érebo, vulcão ativo da Antártida

Diatomáceas e algas da neve, algas microscópicas que crescem na neve e no gelo dando-lhes coloração, são abundantes nas regiões costeiras durante o verão. O krill é muito importante para a maior parte das teias alimentares, servindo de alimento para lulas, baleias, focas, como a foca-leopardo, pinguins e outras aves (existem registos de aglomerados de krill com 10 000 a 30 000 indivíduos por metro cúbico). As aves mais comuns são os pinguins, os albatrozes e os petréis, onde somente 13 espécies fazem seus ninhos em terra firme, geralmente no litoral, e partem para regiões mais quentes no inverno. Enquanto todas as demais migram, duas espécies de pinguim permanecem e migram para o interior: o pinguim-imperador, a maior espécie, e o pinguim-de-adélia. Por volta de abril, machos e fêmeas dos pinguins-imperador migram cem quilômetros para o sul, as fêmeas voltam para o litoral para se alimentar, só voltando em julho e os machos se agrupam para se aquecerem. A saga é contada em um documentário muito interessante, “A Marcha dos Pinguins”. Em regiões com profundidade de cerca de 200 metros abaixo da camada de gelo e em plena escuridão, acreditava-se que existiam apenas micróbios, mas, conforme anúncio feito pela NASA em 16 de março de 2010, também podem ser encontrados o crustáceo Lyssianasid amphipod e uma espécie de água-viva*.

penguins

Dentre as pesquisas realizadas na Antártida, astrofísicos podem estudar o céu e a radiação cósmica de fundo em micro-ondas por causa do buraco na camada de ozônio e do ambiente seco. Em 1985, três cientistas britânicos que trabalhavam com dados que haviam recolhido na Estação Halley descobriram a existência de um buraco na camada de ozônio, cuja área abrange todo o continente. O buraco na camada de ozônio é atribuído à emissão de clorofluorcarbonetos, ou CFCs, para a atmosfera, que decompõem a camada de ozônio em outros gases.

O gelo antártico serve como meio de proteção para o maior telescópio de detecção de neutrinos do mundo, construído dois quilômetros abaixo da estação Amundsen-Scott. Dentre os meteoritos encontrados, o que mais causou polêmica é o ALH 84001, um meteorito de origem marciana com 4-5 bilhões de anos, crê-se que tenha sido lançado ao espaço quando Marte foi atingido por um meteorito. Em 1996, pesquisadores estudaram o meteorito ALH 84001 e reportaram características que atribuem a micro-fósseis deixados pela vida em Marte. Algumas semanas após a coletiva de imprensa, cientistas apresentaram evidências de que os sinais de vida eram querogênio produzido pela contaminação terrestre.

Várias expedições aproximaram-se gradativamente do continente sem, no entanto, ter-se a certeza de que se tratava realmente de um continente ou de um conjunto de ilhas, até às expedições de James Cook, o primeiro a circum-navegá-lo entre 1772 e 1775 sem o avistar, devido à névoa e aos icebergs. A ocupação humana propriamente dita começa na primeira metade do século XIX, quando navios baleeiros chegavam à região das Ilhas Sandwich do Sul. No início do século XX, os exploradores se voltam para a conquista do polo Sul. Ernest Henry Shackleton organizou uma expedição em 20 de outubro de 1908, sendo obrigado a retornar sem atingir o polo. Seguem-se a ele Roald Amundsen e Robert Falcon Scott em uma verdadeira corrida, pois partem com apenas duas semanas de diferença em outubro de 1911 a partir da plataforma de Ross. Em 17 de janeiro de 1912, depois de enfrentar durante mais de um ano as intempéries antárticas, o oficial da Marinha britânica Robert Falcon Scott chegou ao Pólo Sul e constatou que o norueguês Roald Amundsen, com menos homens e recursos econômicos, havia estado ali um mês antes, tornando-se o primeiro a pisar ‘o último lugar da Terra’. Famintos, atacados pelo escorbuto e exauridos pelo esforço de arrastar sua própria carga, Scott e seus homens morreram no caminho de volta e foram transformados em mártires do espírito heroico britânico. Amundsen atingiu o pólo em 14 de dezembro de 1911, retornando em janeiro.

Norueguês Roald Amundsen e equipe no pólo sul. Fonte: Wikipedia

Sobrevoos da Antártica (que não aterrissam) vindos da Austrália e Nova Zelândia eram realizados até o acidente do voo 901 da Air New Zealand em 1979 no monte Érebo, tendo sido recomeçados da Austrália na metade da década de 1990. Os aviões precisam de esquis ou rodas para pousar na Antártida. As pistas de pouso e decolagem dos aviões e os heliportos têm que ser mantidas livres de neve para assegurar pousos e decolagens seguras. O continente tem 32 aeroportos, mas não há aeroportos abertos ao acesso público ou instalações de pouso. As pistas de pouso e decolagem em 15 locais são feitas de cascalho, banquisas, gelo azul ou neve compactada apropriados para pousos de aviões com pneus. Dentre as dificuldades encontradas na aviação polar estão as baixas temperaturas, mudanças frequentes de condições meteorológicas, noite polar (noite que dura mais de 24 horas), trabalho incerto da bússola, dificuldades na comunicação por rádio e falta de pontos de referência.

Juridicamente, a Antártica está sujeita ao Tratado da Antártida, pelo qual as várias nações que reivindicavam territórios no continente (Argentina, Austrália, Chile, França, Noruega, Nova Zelândia e Reino Unido) concordam em suspender as suas reivindicações, abrindo o continente à exploração científica. Por esse motivo, e pela dureza das condições climáticas, não tem população permanente, embora tenha uma população provisória de cientistas e pessoal de apoio nas bases polares, que oscila entre mil (no inverno) e quatro mil pessoas (no verão). A Alemanha nazista também manteve uma reivindicação chamada Nova Suábia, entre 1939 e 1945. Ela estava situada entre 20°E e 10°W, sobrepondo a reivindicação da Noruega. Hoje, 29 países possuem bases científicas na Antártica: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Bélgica, Bulgária, Chile, China, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Estados Unidos, Federação Russa, Finlândia, França, Índia, Itália, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Polônia, Reino Unido, República Checa, Romênia, Suécia, Ucrânia e Uruguai.

Mapa da Antártida (fonte: site Mega Arquivo)
Mapa da Antártida (fonte: site Mega Arquivo)

Nas coordenadas 82° 06′ S 54° 58′ E existe uma antiga estação de pesquisas da União Soviética chamada Polyus Nedostupnosti, que na época da sua inauguração, acreditava-se ser o polo de inacessibilidade (local mais distante da costa) da Antártica. No local existe um busto do antigo líder da União Soviética, Vladimir Lenin, o qual está direcionado exatamente no sentido de Moscou. Dentro da construção onde está o busto de Lenin, existe um livro de visitantes que registra a passagem dos aventureiros que conseguem chegar até o local.

Busto de Lenin na antiga estação soviética Polyus Nedostupnosti. Fonte: Wikipedia

Brasil na Antártida

O Itamaraty chegou a publicar dois trabalhos advogando a entrada do Brasil na Antártida nos anos 1950. Na década seguinte, o assunto foi levantado no Congresso pelo deputado Cunha Bueno. Posteriormente, o deputado Eurípedes Cardoso de Menezes propôs que o Brasil anexasse território antártico seguindo a teoria do setor polar, proposto pela geógrafa Terezinha de Castro. Nela, projetar-se-ia o litoral brasileiro por mais de 4.000 km até a Antártida.

No ano de instituição do PROANTAR (1982), o Brasil adquiriu o navio-polar dinamarquês “Thala Dan”, que foi renomeado “Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) Barão de Teffé”. Naquele ano, a embarcação procedeu ao reconhecimento hidrográfico, oceanográfico e meteorológico de porções do continente Antártico, com o objetivo de selecionar um local para a instalação de uma base brasileira. Em 12 de setembro de 1983, como resultado desta primeira expedição (designada “Operação Antártica I”), o Brasil foi reconhecido como Parte Consultiva do tratado da Antártica.

Estação Antártica Comandante Ferraz. Fonte: Wikipedia

A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) é uma base antártica pertencente ao Brasil localizada ilha do Rei George, a 130 km da Península Antártica, na baía do Almirantado. Começou a operar em 6 de fevereiro de 1984, levada à Antártica, em módulos, pelo navio “Ary Rongel” (H-44) e diversos outros navios da Marinha do Brasil. São realizados sete vôos anuais com aeronaves C-130 Hercules. Até 2004, a composição modular chegou a sessenta habitáculos com capacidade de viverem confortavelmente 48 pessoas, parecendo uma pequena vila em meio ao gelo antártico. A estação opera durante todo o ano. A estrutura é composta por depósitos, oficinas, biblioteca, salas de lazer e estar, enfermaria, sala de comunicações, ginásio de esportes, cozinha e refeitório.

O Criosfera 1 é o primeiro módulo de pesquisa do Brasil a operar de forma autônoma e remota na Antártica Central. Ele é dotado de sistemas eólico e solar que permitem mantê-lo em funcionamento ininterruptamente durante verões e invernos. Também possui uma estação meteorológica onde são monitorados a temperatura do ar e na neve, a pressão atmosférica, a umidade relativa, a acumulação de neve e dados de vento e radiação solar global. Dados sobre o desempenho de energia do módulo são enviados via satélite para o Brasil em tempo quase-real.

Para saber mais

Documentário “Antártica – A Última Fronteira” (vídeo acima), produzido pela rede Manchete. Solange Bastos, repórter na Operação Antártica III (1983/1984) apresenta a ida da tripulação do navio de apoio oceanográfico Barão de Teffé à Base Brasileira Comandante Ferraz, instalada na ilha rei George no verão anterior. No vídeo, é realizada uma excursão na neve e acampamento, apresentando aspectos de sobrevivência na neve. Essa excursão teve como objetivo a inspeção para construir uma pista de pouso. São mostrados os trabalhos para ampliação da Estação Comandante Ferraz, o primeiro ser humano (um chileno) a nascer na Antártida e uma casa abandonada com estação meteorológica e cemitério.

Outra dica é o livro de Roland Huntford, “O último lugar da Terra: a competição entre Scott e Amundsen pela conquista do Pólo Sul” da Companhia das Letras (2002).

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