Boeings 737 da Vasp

O Boeing 737 é um avião comercial a jato, bimotor, de fuselagem estreita (narrow-body) e corredor único. O primeiro voo de um 737 foi em 1967, sendo a aeronave de maior vendagem na história da aviação civil.

As séries 100 e 200 (mais alongada) eram identificáveis pelas naceles (suporte do motor na asa) tubulares de motor, integradas às asas, com projeções à frente do bordo de ataque e atrás do bordo de fuga. Os motores dos primeiros modelos (oficialmente denominados pela fábrica como “Originals”) eram os turbofans Pratt and Whitney JT8D.

Cabine de comando do B737-200 da Vasp PP-SFI. Foto: ViniRoger/2016
Cabine de comando do B737-200 da Vasp PP-SFI. Foto: ViniRoger/2016

Em 1984, passou a usar motores de maior diâmetro. A CFM International era uma joint venture entre a Snecma e a GE para a produção dessa família de motores, utilizado também nos A320. O CFM56 era um turbofan de alta derivação (bypass), ou seja, parte do ar que o fan sopra passa por dentro do motor e a outra parte por fora dele, mas por dentro de sua carenagem. Assim, esse ar jogado por fora não é queimado junto com o combustível, apenas passa pela carenagem do motor – isso resulta em um menor consumo de combustível e motores mais silenciosos.

Em 1993, a Boeing iniciou o programa do 737-X (depois conhecido como Next Generation), que englobam os modelos 600, 700, 800 e 900, e equivalem a um total reprojeto desta aeronave que já tinha 30 anos de idade.

Vasp

No Brasil, a Vasp foi a estreante do B-737, seguindo-se pela Varig e pela Cruzeiro. Fundada em novembro de 1933 por um grupo de empresários, inicialmente a Viação Aérea São Paulo faria duas rotas ligando cidades do interior de São Paulo e outra com destino a Uberaba. Pouco tempo depois, no que seria a primeira crise financeira da empresa, o governo paulista adquiriu 91,6% das ações da companhia.

Até a década de 1980, a estatal figurou entre as maiores empresas de transporte aéreo do país, mas o governo paulista decidiu privatizá-la. Nas mãos do empresário Wagner Canhedo, a Vasp chegou a ter rotas para o exterior. Mas a empresa não resistiu aos novos concorrentes que surgiram em meados dos anos 1990 e outros problemas administrativos. Deixou de operar em 2005 e teve sua falência decretada pela Justiça de SP em 2008.

O primeiro Boeing 737 do Brasil e da América Latina foi o 737-200 PP-SMA, que voou 35 anos na Vasp. Em 18 de Julho de 1969 em Congonhas, diversas pessoas assistiram o rasante de 4 Boeings 737-200, matriculados PP-SMA, SMB, SMC e SMD. Anos depois, devido sua defasagem após a chegada do Boeing 737-300 ao Brasil, o Boeing 737-200 ficou com o apelido de Brega, pois na época a Rede Globo exibia a novela Brega e Chique, enquanto o 737-300 ficou com o apelido de Chique. Após a suspensão de operações em 2004, a aeronave foi estacionada em uma área remota no Aeroporto de Confins. Em 2013, foi leiloado.

A VASP chegou a operar 8 Boeing 727-200, 40 modelos 737-200, 26 da série 300 e 3 da série 400. Ao final da operação, a frota final de 3 Airbus A300B2, 4 Boeing 737-300 e 21 Boeing 737-200 ficaram abandonadas em diversos aeroportos brasileiros, principalmente Congonhas, Guarulhos, Salvador e Brasília, penhoradas em diversos processos de execuções fiscais, a grande maioria já sucateada. A partir de 2012, foram desmanchados e/ou leiloados – os aeroportos onde estavam, compradores e valores dos aviões leiloados podem ser vistos no post Últimos Destinos da Vasp.

Aviões da Vasp comprados em leilão e expostos em Araraquara/SP. Foto: Eliana Reis/2016
Aviões da Vasp comprados em leilão e expostos em Araraquara/SP. Foto: Eliana Reis/2016

Dos aviões leiloados da Vasp, dois estão expostos em uma área de 13 mil metros quadrados do piloto Edinei Capistrano da Silva, em Araraquara. Filho de um ex-piloto da VASP, Comandante Capistrano nasceu em Corumbá/MS. Fez a parte teórica da formação em Campo Grande e as aulas práticas de voo em Volta Redonda/RJ. Começou a carreira como piloto de voos executivos, transportando fazendeiros e políticos no Centro-Oeste. No início dos anos 1980, fez parte do grupo de pilotos da TAM por 13 anos, desde quando a empresa ainda nem voava com jatos de grande porte. Nas últimas duas décadas, após deixar a TAM e até hoje, passou a atuar novamente como piloto executivo.

PP-SFI

Este Boeing 737-200 (envergadura e 28,25 m e comprimento de 30,53 m) foi fabricado em 1979 nos EUA, sendo entregue à companhia aérea Southwest Airlines. Em 1993, passa a voar com a pitura da companhia aérea japonesa Japan Transocean. Foi trazido ao Brasil em 1998 e integrado à frota da Vasp para uso em voos domésticos. Deixou de voar em 2005, quando a Vasp interrompeu suas operações. Em 2012, o avião foi comprado em leilão, sendo transferido do aeroporto de Congonhas até Araraquara.

Interior do B737-200 da Vasp PP-SFI. Foto: ViniRoger/2016
Interior do B737-200 da Vasp PP-SFI. Foto: ViniRoger/2016

O avião foi leiloado por R$ 140 mil para o comandante Capistrano em fevereiro de 2012. Acabou gastando ao menos R$ 520 mil com o negócio, dentre avião, desmontar, transportar, remontar a aeronave e preparação do terreno para receber a pesada estrutura. O processo entre a desmontagem no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, até a montagem na chácara levou cerca de três meses. Foram utilizadas algumas equipes para fazer todo o processo, e atualmente o mecânico Armando Mendonça é responsável pela manutenção do Boeing 737-200 na nova morada. Na mesma época, um B-737 MAX 8 novo (já que o 737-200 não é mais fabricado) estava com “preço de tabela” por volta de 100 milhões de dólares.

Esta aeronave também possui classe executiva, a única da VASP configurada com duas classes. Isso foi especificado nos últimos meses de operação da Vasp, quando negociava o Boeing com um operador na África. Por dívidas junto a Infraero, a aeronave foi impedida de decolar e acabou ficando em Congonhas até o leilão.

Na aeronave, praticamente tudo está preservado: banheiros, galley, carrinhos para servir refeições, capas dos apoios de cabeça dos assentos e até os cartões com instruções de segurança nos bolsões das poltronas. No mesmo aeroporto, as outras aeronaves da Vasp foram leiloadas aos pedaços, como sucata.

PP-SMW

Fabricado em 1971, este Boeing 737-200 foi de propriedade da Southwest Airlines, sendo repassado à Vasp em 1974. Foi utilizado como cargueiro, inclusive mantendo a pintura da Vaspex – subsidiária da empresa para serviços de despacho imediato de correspondências, documentos e objetos. No início de 2014, foi transportado por estrada do aeroporto de Guarulhos até Araraquara.

Interior do B737-200 da Vasp PP-SMW convertido em restaurante. Foto: Eliana Reis/2016
Interior do B737-200 da Vasp PP-SMW convertido em restaurante. Foto: Eliana Reis/2016

Já sem algumas partes do painel de comando e sem revestimento interno, o avião cargueiro foi aos poucos sendo convertido em restaurante. Parte do revestimento foi adquirido do interior de outra aeronave, que havia sido leiloada e transportada para Curitiba. O chão recebeu piso flutuante e foram instalados assentos utilizados em Boeings 767 – mais largas e confortáveis que as do 737. Foram também instaladas mesas, ar condicionado, sistema de som e uma máquina de refrigerantes. O radar, que estava na radome, foi guardado no porão do PP-SFI.

Airport Events

As aeronaves estão dentro do projeto Airport Events, que serão abertas para festas temáticas, e estão à disposição para servir de “mock-up” para produtoras e televisão interessadas em usá-las para novelas, filmes e comerciais.

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