Vickers Viscount

A Vickers foi uma empresa britânica de engenharia, que adquiriu fama como fabricante de artefatos militares, desde armas e munição, até navios, tanques, dirigíveis e aviões. Durante a Segunda Guerra Mundial, produziu bombardeiros Lancaster e Halifax, adaptando-os para uso civil no pós guerra no modelo Viking. Fundada em 1828 por Edward Vickers como Naylor Vickers & Co, foi passando por várias reorganizações, mudanças de nome e propriedade ao longo dos anos. Permaneceu ativa até 1999, sendo que o nome Vickers foi abandonado completamente em 2004.

Antigo avião Viscount da VASP no alto de morro em Araçariguama-SP. Foto: ViniRoger
Antigo avião Viscount da VASP no alto de morro em Araçariguama-SP. Foto: ViniRoger

Para modernizar suas aeronaves, trabalhou no modelo Viscount, lançado comercialmente em 1948. O avião inglês Vickers Viscount é um turbo hélice dos mais bem sucedidos da geração pós-guerra, tendo sido construídas 445 unidades. Sua velocidade ultrapassava os 500 km/h. Providos de motor turbo-hélice Dart da Rolls-Royce e painéis que se abriam expondo o motor por inteiro (facilitando inspeção e manutenção). Com quase 25 metros de comprimento e mais de 8 metros de altura, tinha grandes janelas ovais ao lado das poltronas. Tinha velocidade de cruzeiro de 507 km/h, com acomodação para 3 tripulantes e 44 passageiros.

Os primeiros modelos Viscount chegaram ao Brasil no final dos anos 1950, sendo inclusive o modelo 701 usado como avião presidencial na época de Juscelino Kubstchek. A Vasp encomendou 5 unidades da série 800, que em 1958 foram as primeiras aeronaves com motor a reação a voar no Brasil. Anos depois, encomendou mais 10 unidades da série 700.

FAB – Aviões presidenciais

Em 1954, foram entregues dois aviões Vickers Viscount, que ficaram designados como VC 90 2101 (exposto no MUSAL) e VC 90 2100 (sofreu perda total após colidir o trem de pouso com as pedras da cabeceira da pista do Aeroporto Santos Dumont em 1967 transportando o presidente Arthur da Costa e Silva, e acabou desmontado – fonte: Cultura Aeronáutica). Sua configuração contava com 71 assentos e 4 motores Rolls-Royce Dart. Carregou 8 presidentes e foi desativado na gestão do presidente João Figueiredo. Veja mais sobre o MUSAL e outros aviões presidenciais clicando no link.

VASP – Araçariguama/SP

Esse Viscount 701 do vídeo (prefixo PP-SRJ) foi originalmente entregue em 1953 à British European Airways e vendido à Vasp em 1962. Em 1969, já com mais de 25 mil horas de voo, foi retirado de serviço e estocado em Congonhas. Foi doado à prefeitura de Piracicaba em 1974, permanecendo em um parque público até 2002. Em 2006, foi adquirido pela Prefeitura de Araçariguama (SP) para ser transformado no Cine-Avião JK.

O Cine-avião JK permaneceu um tempo desativado até ser reinaugurado na segunda metade de 2017. Recebeu nova pintura, rampa de acesso, poltronas e novo sistema de som e projeção de filmes.

Nota: Apesar de vários lugares (inclusive no site da Prefeitura de Araçariguama) mencionarem-no como um dos aviões presidenciais, os dois únicos Viscount que voaram pela FAB tiveram os seguintes destinos: o VC 90 2101 está exposto no MUSAL e o VC 90 2100 foi desmontado após um acidente. O avião de Araçariguama somente foi adquirido da BEA (British European Airways) pela VASP em 1962 – ano seguinte ao fim do mandato de Juscelino Kubitschek. Ou seja, apesar de ser do mesmo modelo que o avião presidencial, não é o mesmo avião.

VASP – Bebedouro/SP

O PP-SRO foi inicialmente entregue à British European Airways (BEA) em 1955 e vendido à Vasp em 1962. Voou para o Brasil no ano seguinte, junto com o PP-SRN. Permaneceu na Vasp por quase 6 anos e foi desativado em 1969 com 24.369 horas de voo. Foi doado ao Museu Eduardo Matarazzo em 1974.

Ainda existe outro Viscount (PP-SRL) que está na entrada da Fazenda Matarazzo, na mesma cidade (clique no link para ver sua localização e fotografia por imagem de satélite).

VASP – Pedreira/SP

O Viscount V701C (prefixo PP-SRN), original de 1954 da BEA – British European Airways, foi vendido à VASP em 1962, desativado e estocado em Congonhas (1969) e doado para o Aeroclube de São Paulo/SP, no Campo de Marte. Em Pedreira, acabou incendiado por vândalos em 1993. Veja esse vídeo feito quando estava lá no morro:

Os outros Viscount da Vasp sofreram acidente (PP-SRD, PP-SRE, PP-SRG, PP-SRQ e PP-SRR) ou foram desmontados e vendidos como sucata (PP-SRC, PP-SRI, PP-SRM, PP-SRP). Os aviões PP-SRF e PP-SRH foram vendidos à empresa aérea uruguaia Pluna: o SRF estava abandonado no “cemitério de aviões” do Aeroporto Carrasco, em Montevidéu – inclusive foi retirado de seu lugar em 2015 para restauro e deve fazer parte do acervo do Museu Aeronáutico – enquanto que o outro virou sucata. Veja mais informações no artigo Os Viscount da VASP: pioneiros turboélices no Brasil.

Viscount da Vasp doado ao Museu Eduardo Matarazzo. Foto: ViniRoger
Viscount da Vasp doado ao Museu Eduardo Matarazzo. Foto: ViniRoger

Veja mais também sobre outros aviões antigos da VASP no post Últimos destinos da VASP.

Caçada ao PP-SRS

No site Vickers Viscount Network , está estava registrado que o avião registrado como PP-SRS (c/n 182) foi doado em janeiro de 1971 pela Vasp para a Fundação Museu de Tecnologia, em São Paulo. No entanto, o site Aero Transport Data Bank mostra o último status da aeronave como desmontado no Aeroporto Bebedouro/QAU (Museu de Armas e Veículos), em São Paulo. Para aumentar ainda mais o mistério, a porta do trem de pouso do nariz do PP-SRO possui a inscrição “SRS”, possível de visualizar devido à marca feita na sujeira.

A Fundação Museu de Tecnologia foi fundada em 1970, possuindo sede ao lado da USP (universidade de São Paulo) e está em processo de encerramento. Todo o seu acervo, que começou a ser doado em 1972, está exposto no Catavento Cultural e Educacional. Em 2003, visitei o museu quando ainda estava ao lado da USP e em 2016 visitei o endereço onde está a documentação e fotos da Fundação. Em seus registros de atas de assembleias e fichas de acervo, nada consta sobre um avião Viscount pertencer ou ter pertencido ou ter sido exposto. O único avião que encontrei foi um DC-3, que pode ser visto no link e que está exposto no Catavento.

Visitando o acervo do Catavento, é possível visualizar um motor Rolls Royce de um Viscount utilizado pela Vasp, com 990 kg e potência de 1800 HP. Na ficha patrimonial da fundação, ela consta como fabricada em 1960 e foi adquirida através de compra em janeiro de 2002 de um particular. Mas nada de avião completo no Museu de Tecnologia.

Quanto ao Museu de Armas, Veículos e Máquinas Eduardo André Matarazzo, em Bebedouro/SP, estive lá em 2016 e encontrei somente um Viscount, o PP-SRO (c/n 64), que pode ser visto no vídeo mais acima. Uma foto aérea com a correspondência de cada aeronave exposta no museu pode ser vista nesse link: Aviação no Museu Eduardo André Matarazzo. A dissertação de Mara Angélica Pedrochi publicada como “A coleção de automóveis de Eduardo André Matarazzo: o processo de institucionalização de uma coleção” (disponível no link) fez um trabalho baseado em atas de assembleias. Lá, consta que foi solicitado somente um Viscount (PP-SRO) no final de 1973, que viria a ser transportado para o Museu no ano seguinte para fazer parte do acervo até hoje.

Ao que tudo indica, o mais provável é que o Viscount registrado como PP-SRS foi desmontado no próprio aeroporto de Congonhas (CGH), já que voava na ponte aérea Rio – São Paulo. Quanto à inscrição “SRS” na porta do nariz do trem de pouso do PP-SRO, provavelmente é fruto de uma substituição de peça, que inclusive está meio apagada.

4 comments

    1. Olá Carlos, que bom que gostou do conteúdo, obrigado pela mensagem! Realmente é imprtante nos atermos aos fatos, apesar de algumas histórias romantixadas parecerem mais interessantes, os fatos comprovados é que devem prevalecer.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.