Por Maria Auxiliadora Roggério
Como pais, vocês já se encontraram diante de algumas destas situações?
- Estamos sempre tão exaustos, preocupados com o bem-estar das crianças que não sobra tempo ou disposição para nossas próprias necessidades em casal;
- Trabalhamos muito, então, quando estamos com nosso filho, permitimos que ele faça o que bem quiser, para compensar nossa ausência e ele sentir-se amado;
- Compramos todos os brinquedos que nossos filhos pedem; mostramos as novidades e perguntamos se eles querem. Eles nem sabem tudo o que têm e brincam só com alguns brinquedos, que parecem ser os preferidos;
- Não nos preocupamos em gastar o quanto for, sem medir esforços, para realizar os desejos dos filhos;
- Estudar é a única obrigação dos meus filhos, por isso não lhes atribuímos nenhum outro compromisso, como ajudar em serviços domésticos ou fazer algo que os aborreçam;
- Achamos que nosso filho tem personalidade forte porque ele “não abaixa a cabeça” para ninguém;
- Quando ele se joga no chão do mercado, gritando, esperneando, chorando, querendo alguma coisa, logo o atendemos, para que ele não se entristeça e crie algum trauma, e não passemos vergonha;
- Ensinei meu filho a brigar, para que ele não seja “o bobo”, o que apanha;
- Mostramos-lhes que, no mundo, manda quem tem dinheiro.
Mudam as gerações, mas o discurso de novos pais parece que sempre levará em conta a própria infância e o desejo de realizar com seus filhos tudo diferente do que seus pais fizeram. Desejam que seus filhos sejam mais livres e felizes do que eles próprios o foram e não querem reproduzir a educação que receberam, por considerarem-na autoritária, baseada em regras rígidas, inquestionáveis.
Porém, no afã pela felicidade das crianças, muitos pais acabam por se perder entre autoritarismo e liberdade total. Sentem medo de impor limites, acreditando que exigir obediência às regras sociais pode, de algum modo, comprometer um desenvolvimento saudável. Sentem-se culpados se não puderem fazer pelos filhos o mesmo que – ou melhor que– seus amigos e parentes fazem pelos seus. E criar filhos passa a representar uma competição velada, na qual os pais com maior status e poder aquisitivo, venceriam.
Mergulham, então, num dilema profundo: Como educar seus filhos com equilíbrio entre autoridade (e não autoritarismo) e liberdade, fugindo da disciplina rigorosíssima ou da total permissividade, sem repetir atitudes que condenavam em seus pais?
Muitos pais, talvez inconscientemente ou por não possuírem elementos suficientes para se embrenharem nessa empreitada, acabam transferindo o papel de educadores de seus filhos, para a escola, que deveria ser apenas uma parceira. Alguns pais, chegam a culpar a escola e responsabilizá-la exclusivamente por problemas que surgem com seus filhos.
É claro que outras pessoas como professores, parentes, amigos, etc, também podem influenciar a maneira como nos colocamos no mundo e nos relacionamos com os outros. Mas é em casa, com os pais (ou, na falta destes, com quem exerça a função de pais) que a criança adquire a base para sua formação.
As crianças esperam que os pais determinem os limites, que orientem, que sejam referência. A criança deve ser informada sobre seus deveres e direitos, entender o motivo das regras e saber que aos pais cabe a tarefa de sua educação, portanto, de criar as regras de convivência familiar. É no relacionamento familiar que a criança desenvolve a capacidade de assumir compromissos, aprende noções de disciplina, de responsabilidades.
Os pais são os responsáveis pela educação dos filhos e modelos/exemplos que os mesmos tentam imitar. Por isso, é preciso uma boa integração relacional e todos, pais e filhos, devem agir com ética, respeitando o próximo e tendo em mente a máxima: “o limite de um acaba quando o começa o do outro”. Uma criança que age sem limites não se importa com os outros, não desenvolve empatia.
Mas como ensinar limites a uma criança que parece estar sempre “testando” os limites dos pais?
São os pais que devem coordenar a relação familiar, estipular regras de convivência e criar mecanismos para que estas sejam cumpridas. E, dentro dos limites estabelecidos, a criança deve ter autonomia.
Não se pode tratar a um filho como a um “reizinho tirano”, com seus desejos e desmandos satisfeitos a qualquer custo, até porque, se mal compararmos um reinado a uma família, rei e rainha (os pais) são os que dizem como conduzir as questões do reino (a casa/a família) e como príncipes ou princesas (os filhos) devem se portar. Um reino em que cada um faz o que bem quer, sem respeitar regras, compromete todo o sistema e todos saem prejudicados.
Se vocês responderam afirmativamente a algumas das questões mencionadas no início deste texto, convido-os a pensar:
- A criança que, prontamente, tem tudo o que quer e até o que nem sonhava em ter – mas o tem, porque os pais exageram -, acaba por não sentir satisfação com o que tem. Sempre vai querer algo, mas não se realizará com nada. Então, não alcançará a felicidade que os pais almejaram.
- Se a criança puder fazer tudo o que bem quiser, a qualquer hora, em qualquer situação e lugar, poderá não aceitar ordem e disciplina, não se responsabilizará por seus atos e não saberá de limites. Então, não estará apta a viver em harmonia com os outros nem consigo mesma.
- Aprender a suportar frustrações faz parte do desenvolvimento saudável. No enfrentamento das adversidades é que nos permitimos crescer, nos tornamos cidadãos éticos, responsáveis, que respeitamos o próximo e, assim, também nos tornamos merecedores de respeito.