Brasil sob queimadas

No final de agosto de 2024, queimadas em várias regiões do país resultaram na formação de densas nuvens de fumaça que se espalharam por diversas áreas, especialmente no interior de estados como São Paulo, Goiás e Rondônia. A presença de fuligem nesses locais impactou negativamente a qualidade do ar. Especialistas indicam que a fumaça pode demorar dias para se dissipar completamente, e que altas temperaturas em cidades como Manaus podem agravar as queimadas em curso e gerar novos focos de incêndio.

Corredor de fumaça se espalhou e alcançou território do RS. Fonte: Reprodução/NOAA
Corredor de fumaça se espalhou e alcançou território do RS. Fonte: Reprodução/NOAA

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam milhares de focos de calor (4.928 somente no dia 23/08) relacionados às queimadas em todo o Brasil. O estado de São Paulo registrou um número elevado de incêndios, superando inclusive a quantidade de focos na Amazônia. Biomas como o Cerrado, a Amazônia e a Mata Atlântica foram os mais afetados pelas queimadas. Em um contexto mais amplo, o Brasil já enfrenta um ano desafiador, com mais de 109 mil focos de incêndios até agora em 2024, representando um aumento de 78% em comparação ao ano anterior.

A situação é especialmente crítica em várias áreas do estado de São Paulo, onde a maioria das regiões enfrenta focos ativos de incêndio. Ventos fortes, associados à chegada de uma frente fria, espalharam o fogo e a fumaça, além de causar tempestades de poeira em algumas cidades. Em Ribeirão Preto, as aulas da rede municipal foram suspensas devido ao acúmulo de fuligem nas escolas. Alguns moradores precisaram evacuar suas casas por causa da proximidade do fogo e da poeira.

A fuligem proveniente dos incêndios atingiu até mesmo os céus de Brasília e Goiás, provocando o desvio e o cancelamento de voos nesses estados, e a qualidade do ar caiu drasticamente em diversas regiões, sendo declarada insalubre em estados como Amazonas, Acre, Rondônia, Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal.

Do azul ao cinza: queimadas transformam o pôr do sol paulistano - 23/08/24. Fonte: Clima ao Vivo
Do azul ao cinza: queimadas transformam o pôr do sol paulistano – 23/08/24. Fonte: Clima ao Vivo

Nos próximos dias, a previsão é de que a incidência de novos focos de calor diminua, com uma massa de ar seco e frio ajudando a baixar as temperaturas e, em conjunto com as chuvas, apagando focos de incêndio em algumas áreas. A dissipação da fumaça deve ocorrer gradualmente, mas em Manaus, as altas temperaturas previstas podem desencadear novos incêndios e intensificar os que já estão em andamento.

Condições meteorológicas extremas também foram observadas, com neve registrada em municípios de Santa Catarina ao mesmo tempo em que o fogo se espalhava em São Paulo. Durante o inverno e o início da primavera, o risco de queimadas tende a aumentar no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, devido à combinação de temperaturas elevadas e clima seco. No entanto, esse cenário muda durante o verão, quando a maior incidência de chuvas contribui para a redução das queimadas.

A professora Isabel Belloni Schmidt, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), alerta que “a única fonte de ignição natural é o raio, se houver qualquer fogo em um período que não tenha raios, foi provocado por humanos. Ou seja, não tem chuva, não tem raio, é gente. Não existe fogo espontâneo, a matéria orgânica para queimar tem que atingir mais de 300° C”, conforme noticiado no g1.

Autoridades continuam investigando a possibilidade de que a maior parte dos incêndios tenha sido provocada intencionalmente. A ministra Marina Silva também disse que suspeita que os incêndios possam ser criminosos: “Tem uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem do fogo (…) Em São Paulo não é natural, em hipótese alguma, que, em poucos dias, você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios. Mas obviamente isso aí são as investigações que vão dizer.”

A Polícia Federal abriu várias investigações para apurar as causas dos focos em diferentes regiões do Brasil, concentrando os esforços principalmente na Amazônia e no Pantanal. Em Goiás, um homem foi preso por incendiar propriedades rurais, sendo apontado como responsável por vários focos na região. A polícia de São Paulo prendeu três pessoas.

Segundo projeção da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado em boletim divulgado dia 26 de agosto, as queimadas registradas no interior de São Paulo causaram um prejuízo inicial de R$ 1 bilhão a diferentes segmentos da agropecuária paulista. De acordo com a pasta, as cadeias produtivas mais afetadas foram bovinocultura de corte, bovinocultura de leite, produção de cana-de-açúcar, fruticultura, heveicultura (cultivo de seringueiras) e apicultura.

Fontes

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