Antarctica – South Pole Story

“Antártica” (Nankyoku Monogatari, ou “South Pole Story” literalmente) é um filme japonês lançado em 1983 e dirigido por Koreyoshi Kurahara, que mescla aventura e drama de maneira única e emocionalmente poderosa. Baseado em eventos reais, o filme narra a luta pela sobrevivência de uma equipe de cães de trenó abandonados na gelada e implacável paisagem da Antártica. Ficou conhecido mundialmente também graças a sua trilha sonora, composta por Vangelis.

Resenha do filme

A trama se desenrola em 1958, quando uma expedição científica japonesa à Antártica é forçada a abandonar a base devido a uma emergência climática. Na pressa para evacuar, os membros da expedição deixam para trás seus fiéis cães de trenó, amarrados e sem qualquer garantia de sobrevivência. Ao longo do filme, acompanhamos tanto o sofrimento dos cães tentando sobreviver às condições extremas quanto a culpa e o desespero dos cientistas que tiveram que abandoná-los.

Cena do filme Antarctica (1983)
Cena do filme Antarctica (1983)

Uma das maiores forças do filme é a sua cinematografia. As vastas paisagens geladas são capturadas com uma beleza brutal, destacando a imensidão e a desolação da Antártica. A habilidade de Kurahara em mostrar a beleza ao lado da crueldade do ambiente natural cria uma atmosfera de suspense constante, fazendo o público sentir a imensa solidão e o perigo que os cães enfrentam.

Os cães, protagonistas de fato da história, são representados com uma profundidade emocional que humaniza seus esforços e sofrimentos. As cenas que mostram a luta dos cães pela sobrevivência são poderosas e, em muitos momentos, de partir o coração. A trilha sonora de Vangelis, com sua combinação de melodias eletrônicas e orquestrais, complementa perfeitamente as cenas, amplificando a tensão e a emoção da narrativa.

“Antártica” também levanta questões éticas sobre a exploração científica e o relacionamento entre humanos e animais. A decisão de abandonar os cães pesa sobre os personagens humanos, explorando temas de responsabilidade, culpa e sacrifício. Esses temas são abordados de forma sutil e sem julgamentos explícitos, permitindo ao espectador refletir sobre as complexidades das ações dos personagens.

No entanto, o ritmo do filme pode parecer lento para alguns espectadores, especialmente aqueles acostumados a narrativas mais dinâmicas e rápidas. A escolha de focar longamente nas paisagens e nos esforços dos cães pode ser vista como uma forma de imersão na experiência árdua dos animais, mas também pode testar a paciência de quem busca uma ação mais constante.

Em resumo, “Antártica” é uma obra cinematográfica profundamente comovente que vai além de uma simples história de sobrevivência. É um tributo à resiliência e ao espírito indomável dos cães de trenó, bem como uma meditação sobre a fragilidade e a responsabilidade humana diante das forças implacáveis da natureza. É um filme que merece ser visto, não apenas por sua beleza visual, mas também por sua profundidade emocional e ética.

Em 2006, o enredo de Antarctica foi adaptado para o remake do filme live-action americano da Disney “Eight Below” (Resgate Abaixo de Zero), que é dedicado à memória do diretor Koreyoshi Kurahara. Uma série de drama de televisão japonesa de 2011 intitulada “Nankyoku Tairiku” centra-se na primeira expedição do Japão à Antártida em 1958.

História

A expedição japonesa à Antártica durante o Ano Geofísico Internacional (AGI), de 1957-1958, foi um marco significativo na exploração polar e na cooperação científica internacional. O AGI foi um esforço internacional de cooperação científica que mobilizou 67 países para realizar pesquisas em várias áreas, incluindo a Antártica. O Japão decidiu participar e planejou uma expedição para estabelecer uma base de pesquisa no continente gelado.

A expedição foi organizada pela Sociedade Japonesa de Pesquisa Antártica (JARE), criada especialmente para coordenar os esforços do país na Antártica. O governo japonês e várias instituições científicas apoiaram a expedição. A expedição partiu do Japão em novembro de 1956 a bordo do navio de pesquisa Sōya, um quebra-gelo. A tripulação consistia de cientistas, engenheiros e membros da Força de Autodefesa do Japão. A viagem para a Antártica foi repleta de desafios, incluindo mares agitados, gelo espesso e condições climáticas adversas. No entanto, a tripulação perseverou, demonstrando grande determinação e habilidade.

Em janeiro de 1957, a expedição chegou à costa da Antártica e estabeleceu a Base Showa na Ilha Ongul Oriental. A base foi nomeada em homenagem ao imperador Hirohito (período Showa). A construção da base foi uma tarefa árdua, envolvendo a montagem de instalações de pesquisa, alojamentos e infraestrutura necessária para suportar as duras condições antárticas.

Durante sua estadia, a equipe realizou diversas pesquisas em áreas como meteorologia, glaciologia, geofísica e biologia. Eles coletaram dados valiosos que contribuíram significativamente para o conhecimento global da Antártica. A vida na Base Showa era difícil devido às condições extremas. Os membros da expedição enfrentaram temperaturas extremamente baixas, ventos fortes e isolamento prolongado. No entanto, eles mantiveram um espírito de camaradagem e dedicação à missão científica.

Em 1958, um segundo grupo foi enviado para substituir a equipe original. No entanto, condições climáticas severas impediram o navio Sōya de chegar à base para a troca de equipes. Isso levou a uma operação de resgate, na qual a maioria dos membros da expedição foi retirada por helicópteros.

Devido à pressa e às condições adversas, 15 cães da raça Karafuto-Ken (Huskies Sakhalin) foram deixados na base. Quando uma equipe retornou no ano seguinte, eles descobriram que sete cães morreram enquanto ainda estavam acorrentados, e oito se libertaram, sendo que seis corpos nunca foram recuperados. No entanto, dois dos cães, Taro e Jiro, haviam sobrevivido ao inverno antártico, um feito que se tornou lendário e destacou a resiliência desses animais.

Estátuas de Taro e Jiro em Nagoya. Fonte: Wikipedia
Estátuas de Taro e Jiro em Nagoya. Fonte: Wikipedia

O irmão mais novo, Jiro, morreu aos quatro anos de idade durante a quinta expedição em julho de 1960. Seu corpo foi taxidermizado (empalhado) e está colocado junto no Museu Nacional de Natureza e Ciência em Ueno, Tóquio. O irmão mais velho, Taro, retornou à Universidade de Hokkaido para sua aposentadoria e morreu aos 15 anos em 1970, onde seu corpo também foi taxidermizado. Eles estão expostos no mesmo museu onde Hachiko é exibido – um cão Akita lembrado por sua notável lealdade ao seu dono que continuou a esperar na estação de trem por mais de nove anos após sua morte.

A expedição japonesa à Antártica durante o AGI estabeleceu o Japão como um participante importante na exploração polar e contribuiu para o avanço do conhecimento científico sobre a Antártica. A Base Showa continua a ser uma das principais estações de pesquisa antártica do Japão até hoje. Os dados coletados e as pesquisas realizadas pela expedição japonesa foram compartilhados com a comunidade científica internacional, contribuindo para uma melhor compreensão global dos processos geofísicos e ambientais na Antártica.

Vangelis e o álbum Antarctica

Vangelis é o nome artístico do compositor e músico grego Evangelos Odysseas Papathanassiou (1943-2022). Sua carreira prolífica e diversificada se estendeu por várias décadas, destacando-se como um pioneiro na música eletrônica e nas trilhas sonoras de filmes. Ele começou sua carreira musical na década de 1960 com a banda grega de rock progressivo Aphrodite’s Child, onde obteve sucesso internacional com o álbum “666”. No início da década de 1970, Vangelis iniciou sua carreira solo, explorando sons eletrônicos e experimentais que viriam a definir seu estilo característico.

Suas trilhas sonoras para filmes, como “Chariots of Fire” (1981), vencedora do Oscar de Melhor Trilha Sonora Original em 1982, e “Blade Runner” (1982), não só cimentaram sua reputação como compositor de cinema, mas também influenciaram significativamente o gênero da música eletrônica. Além disso, Vangelis compôs para documentários, séries de televisão e eventos importantes, como o “1492: Conquest of Paradise” (1992) e a música para os Jogos Olímpicos de Sydney em 2000. Ao longo de sua carreira, ele lançou mais de 30 álbuns de estúdio e trilhas sonoras, sempre mantendo uma abordagem inovadora e emocionalmente ressonante em sua música.

O álbum “Antarctica”, lançado em 1983, é a trilha sonora do filme japonês homônimo dirigido por Koreyoshi Kurahara. O trabalho de Vangelis neste álbum destaca-se pela sua capacidade de capturar a vastidão e a desolação da paisagem antártica através de composições etéreas e atmosféricas. Faixas como “Theme from Antarctica” e “Antarctic Echoes” utilizam sintetizadores expansivos e melodias minimalistas para evocar a serenidade gelada e a solidão do continente branco. A música de Vangelis consegue traduzir visualmente a grandiosidade e a imensidão do cenário, transportando o ouvinte para um ambiente de extrema beleza natural e isolamento. “Antarctica” é uma demonstração exemplar do talento de Vangelis em criar experiências auditivas profundas e cinematográficas, reafirmando sua posição como um dos mestres da música eletrônica e trilhas sonoras.

Fontes

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.