Atlas de nuvens

As nuvens evoluem continuamente e aparecem em uma variedade infinita de formas. No entanto, existe um número limitado de formas características frequentemente observadas em todo o mundo, nas quais as nuvens podem ser amplamente agrupadas em um esquema de classificação. O esquema usa gêneros, espécies e variedades – como transições entre gêneros, nuvens especiais e de nível superior (acima da troposfera).

A nefologia é um ramo Meteorologia que estuda as nuvens, de modo a permitir a classificação e descrever sua formação. Essa página tem foco na classificação delas. Para conhecer mais sobre a formação de nuvens ou mais detalhes práticos de classificação através de uma Oficina de Identificação de Nuvens, clique nos respectivos links.

Em 1803, o inglês Luke Howard apresentou um novo sistema de classificação de nuvens à Askesian Society, um clube de pensadores londrino que teve reuniões entre 1796 e 1807 – posteriormente, o grupo foi dissolvido e seus membros fundaram sociedades mais especializadas, dentre elas a Royal Society of London. Veja mais sobre a publicação original de Howard no post Poesias dos tipos de nuvens.

Em 1887, o sistema foi aperfeiçoado por Abercromby e Hildebrandsson. De acordo com a aparência, podem ser inferidas várias propriedades das nuvens, como possibilidade e tipo de precipitação, constituição, estado físico, turbulência, estabilidade/instabilidade da atmosfera, etc.

Muito parecido com o Sistema de Classificação dos Seres Vivos, proposto pelo naturalista sueco Carl von Linné no século XVIII, as nuvens podem ser classificadas em gênero e espécie, com nomes em latim (idioma “universal” usado pela ciência no passado). Conforme o arranjo dos elementos das nuvens, podem ser classificadas em uma ou mais variedades. Também podem ser encontradas nuvens anexas e características suplementares, assim como indicar seu processo de formação (genitus) e transformação (mutatus).

As nuvens encontram-se na troposfera, mas também na estratosfera (nacaradas) e mesosfera (noctilucentes) e níveis variados (contrails ou trilhas de condensação, agora conhecidos como Cirrus homogenitus).

O Atlas também descreve uma distribuição vertical das nuvens, conforme pode ser visto na tabela e na imagem a seguir (uma outra versão em HTML está disponível nesse link:

NívelGêneroRegiões polaresRegiões temperadasRegião tropical
AltoCirrus
Cirrocumulus
Cirrostratus
3 – 8 km
(10 000 – 25 000 pés)
5 – 13 km
(16 500 – 45 000 pés)
6 –18 km
(20 000 – 60 000 pés)
MédioAltocumulus
Altostratus
Nimbostratus
2 – 4km
(6 500 – 13 000 pés)
2 – 7 km
(6 500 – 23 000 pés)
2 – 8 km
(6 500 – 25 000 pés)
BaixoStratus
Stratocumulus
Cumulus
Cumulonimbus
Da superfície da Terra até 2 km
(0 – 6 500 pés)
Da superfície da Terra até 2 km
(0 – 6 500 pés)
Da superfície da Terra até 2 km
(0 – 6 500 pés)
Ilustração com os gêneros de nuvens e posições relativas. Fonte: Cloud Atlas
Ilustração com os gêneros de nuvens e posições relativas. Fonte: Cloud Atlas

O Atlas Internacional de Nuvens é uma publicação da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Originado no final do século XIX, teve várias revisões; a última foi publicada em 2017, com a inclusão de uma nova espécie (volutus), algumas características suplementares (fluctus, cavum, asperitas, murus, cauda, flumen) e novas nuvens-mãe e especiais (Homo, Silva, Cataracta, Flamma). O quadro atual vem a seguir:

GêneroEspécieVariedadeNuvens anexas e características suplementaresNuvens-mãe e especiais – GenitusNuvens-mãe e especiais – Mutatus
Cirrusfibratus
uncinus
spissatus
castellanus
floccus
intortus
radiatus
vertebratus
duplicatus
mamma
fluctus
Cirrocumulus
Altocumulus
Cumulonimbus
Homo
Cirrostratus
Homo
Cirrocumulusstratiformis
lenticularis
castellanus
floccus
undulatus
lacunosus
virga
mamma
cavum
Cirrus
Cirrostratus
Altocumulus
Homo
Cirrostratusfibratus
nebulosus
duplicatus
undulatus
Cirrocumulus
Cumulonimbus
Cirrus
Cirrocumulus
Altostratus
Homo
Altocumulusstratiformis
lenticularis
castellanus
floccus
volutus
translucidus
perlucidus
opacus
duplicatus
undulatus
radiatus
lacunosus
virga
mamma
cavum
fluctus
asperitas
Cumulus
Cumulonimbus
Cirrocumulus
Altostratus
Nimbostratus
Stratocumulus
Altostratustranslucidus
opacus
duplicatus
undulatus
radiatus
virga
praecipitatio
pannus
mamma
Altocumulus
Cumulonimbus
Cirrostratus
Nimbostratus
Nimbostratuspraecipitatio
virga
pannus
Cumulus
Cumulonimbus
Altocumulus
Altostratus
Stratocumulus
Stratocumulusstratiformis
lenticularis
castellanus
floccus
volutus
translucidus
perlucidus
opacus
duplicatus
undulatus
radiatus
lacunosus
virga
mamma
praecipitatio
fluctus
asperitas
cavum
Altostratus
Nimbostratus
Cumulus
Cumulonimbus
Altocumulus
Nimbostratus
Stratus
Stratusnebulosus
fractus
opacus
translucidus
undulatus
praecipitatio
fluctus
Nimbostratus
Cumulus
Cumulonimbus
Homo
Silva
Cataracta
Stratocumulus
Cumulushumilis
mediocris
congestus
fractus
radiatusvirga
praecipitatio
pileus
velum
arcus
pannus
fluctus
tuba
Altocumulus
Stratocumulus
Flamma
Homo
Cataracta
Stratocumulus
Stratus
Cumulonimbuscalvus
capillatus
praecipitatio
virga
pannus
incus
mamma
pileus
velum
arcus
murus
cauda
flumem
tuba
Altocumulus
Altostratus
Nimbostratus
Stratocumulus
Cumulus
Flamma
Homo
Cumulus

Veja esse glossário com o significado de cada um dos termos do quadro com uma breve descrição, o que é fundamental para a classificação. A sigla de cada nuvem é dada pela letra inicial de cada componente (se for composta de duas palavras) ou das duas primeiras letras – a exceção é a Cumulonimbus, cuja sigla é Cb devido à grafia manual dar ambiguidade entre Cn e Cu (Cumulus). As espécies e nuvens mãe/especiais tem sigla dada pelas três primeiras letras, enquanto as nuvens anexas e características suplementares tem sigla pelas duas primeiras letras.

Gêneros

  • Cirrus – Ci: aparência fibrosa/cabelo (cristais de gelo) em níveis altos
  • Cirrocumulus – Cc: acumulados pequenos (cristais de gelo) sem sombreamento, com lacunas claras, em uma camada em níveis altos
  • Cirrostratus – Cs: camada larga quase transparente (cristais de gelo geram halo) em níveis altos
  • Altocumulus – Ac: acumulados/montantes ou rolos de nuvem, mostrando sombreamento distinto, e com lacunas claras entre eles, em uma camada a níveis médios
  • Altostratus – As: camada larga cinzenta ou esbranquiçada (deixa Sol/Lua embaçado) em níveis médios
  • Nimbostratus – Ns: camada espessa e cinzenta (chuva moderada a forte de maneira regular e prolongada)
  • Stratocumulus – Sc: acumulados alongados e rolos de contornos bem definidos, com lacunas distintas e sombreamento intenso em níveis baixos
  • Stratus – St: camada baixa e cinzenta sem contornos definidos (nevoeiro quando junto do solo)
  • Cumulus – Cu: acumulados grandes em níveis baixos
  • Cumulonimbus – Cb: grande desenvolvimento vertical (chuvas fortes, granizo e raios), base esfarrapada, escura quando olhada por baixo

Espécies

  • fibratus – fib: possui fibras/filamentos, sem ganchos
  • uncinus – unc: em forma de gancho
  • spissatus – spi: espesso/condensado, densa (aparece cinza quando visto em direção ao Sol)
  • castellanus – cas: serrilhada em cima (como torres de castelo, que se elevam de uma base em comum)
  • floccus – flo: flocos/tufos individuais, bases irregulares, às vezes com virgas
  • stratiformis – str: aparência espalhada horizontalmente
  • nebulosus – neb: enevoado/nebuloso/opaco, sem estrutura
  • volutus – vol: alongada em forma de tubo
  • lenticularis – len: forma de lente/disco, estacionária no céu
  • fractus – fra: frações/pedaços, bordas e base esfarrapadas
  • humilis – hum: próximo ao solo/baixo/pequeno tamanho, pequena extensão vertical (mais larga do que alta)
  • mediocris – med: tamanho vertical mediano/intermediário
  • congestus – con: empilhado/amontoado, grande desenvolvimento vertical e contornos bem definidos
  • calvus – cal: topo calvo/liso de nuvens em crescimento vertical
  • capillatus – cap: topo cabeludo/com fiapos de nuvens em crescimento vertical; podem aparecer Cirrus perto

Variedades

  • intortus – in: torcido, curvo
  • vertebratus – ve: linhas de nuvem que parecem costelas, vértebras ou ossos de peixe
  • undulatus – un: ondulações distintas (vento é perpendicular às “ruas” de nuvens)
  • radiatus – ra: parece irradiar de um ponto no céu (vento é paralelo às “ruas” de nuvens)
  • lacunosus – la: com buracos/lacunas, nuvem fina com furos regularmente espaçados, aparecendo como uma rede
  • duplicatus – du: repetido (duas camadas em alturas diferentes)
  • translucidus – tr: nuvem translúcida, através da qual a posição do Sol ou da Lua é visível
  • perlucidus – pe: extensa camada com lacunas, através da qual o céu azul, o Sol ou a Lua são visíveis
  • opacus – op: espesso/obscuro, nuvem grossa que esconde completamente o sol ou a lua

Nuvens anexas e características suplementares

  • fluctus – flu: ondas (Kelvin-Helmholtz)
  • cavum – cav: buraco
  • flumen – flu: nuvem pequena que acompanha uma maior
  • cauda – cau: parte horizontal que sai da nuvem (rabo)
  • murus – mur: parede de nuvens
  • asperitas – asp: rugoso/áspero
  • incus – inc: bigorna
  • mamma – mam: seio/sino abaixo da base da nuvem
  • virga – vir: ramo, precipitação que não chega ao solo
  • praecipitatio – pre: precipitação que chega ao solo
  • arcus – arc: arco/proa (de navio)
  • tuba – tub: funil/tubo vertical
  • pileus – pil: capacete/chapéu em cima do topo da nuvem
  • velum – vel: véu extenso e fino, através da qual as nuvens mais vigorosas podem penetrar (parece um traço no céu quando visto de lado)
  • pannus – pan: tecido rasgado/esgarçado, fragmentos irregulares de nuvens (stratus fractus) sob a maior massa de nuvens

Até a edição de 1956 do Atlas, utilizava-se o conceito de “família” para dividir as nuvens em família A (as nuvens altas: cirrus, cirrostratus e cirrocumulus), B (nuvens médias: altostratus e altocumulus), C (nuvens baixas: Stratus, Nimbostratus, Cumulus, Stratocumulus) e D (nuvens de desenvolvimento vertical: Cumulonimbus, Cumulus). Na edição seguinte (1975), o termo “família” caiu em desuso, permanecendo a ideia de separá-las conforme sua posição vertical (étage, estágio/altura em francês).

Símbolos de nuvens utilizados em cartas sinóticas. Fontes: NOAA e Pouncy (2003)
Símbolos de nuvens utilizados em cartas sinóticas. Fontes: NOAA e Pouncy (2003)

Um site que fala bastante sobre a classificação das nuvens com boas descrições é o What’s this cloud. Para cada caso (variedades, nuvens anexas, etc), existe um desenho esquemático, o que ajuda a entender melhor cada um. Ele também possui uma escala para cor da nuvem (do branco ao cinza escuro), potencial de precipitação, percentual típico de cobertura do céu e frequência de aparição, para cada tipo.

Aglutinação de palavras em latim

A palavra “cumulonimbus” é formada a partir da aglutinação de duas outras palavras latinas: “cumulus” e “nimbus”. Quando as duas palavras são combinadas, algumas mudanças ocorrem na grafia para formar a nova palavra. A eliminação da letra “s” em “cumulus” ocorre devido a um processo de simplificação de consoantes finais em latim. Na gramática latina, era comum a eliminação de consoantes finais não acentuadas, que não influenciavam a pronúncia da palavra. Nesse caso, a letra “s” final em “cumulus” foi eliminada para formar “cumulo-“. A letra “o” foi adicionada para suavizar a transição entre “cumulo-” e “-nimbus” e criar uma palavra com uma sonoridade mais agradável. O mesmo processo ocorre nas palavras cirrocumulus, sirrostratus, nimbostratus e stratocumulus.

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