Uma tempestade pode congregar algumas das maiores forças da natureza. Foi durante uma dessas que nasceu o gnomo Skorlun, o que de certa forma faria seu destino estar entrelaçado aos fenômenos da atmosfera e aos conhecimentos druidas.
O nascimento
Era uma noite tão escura que somente os relâmpagos traziam luz para o caminho dos pais de Skorlun, cuja mãe ainda o carregava no ventre. Apesar do vento muito forte e em cisalhamento, eles seguiam a pé de volta para casa cruzando a densa floresta. Embora os gnomos saibam exatamente como estará o tempo com bastante antecedência, eles ainda andam na chuva, granizo, neblina, calor e frio.
Ao passarem próximos de um grande carvalho, um raio acertou seu galho mais alto, que foi derrubado no chão com bastante força. O casal de gnomos imediatamente caiu para trás. A mãe começou a sentir as dores do parto. O pai tentou ajudar, enquanto grandes gotas de granizo recém-descongelado começaram a cair. Poucos segundos depois, uma chuva torrencial despencou como uma coluna de água do céu. Suas roupas ficaram ensopadas, mas isso nem foi percebido diante daquele clima de grande comoção.
O caminho que seguiam era junto de um riacho, cujo volume de água cresceu assustadoramente em poucos segundos. Na tentativa de subir com a mulher para um ponto onde poderiam ficar mais seguros, descuidou-se e foi levado pela forte correnteza. Com o marido arrancado pela violência das águas, a mãe se viu sozinha para enfrentar um parto difícil após uma gestação de 12 meses.
Esse lugar relativamente isolado era próximo ao lar de um druida ermitão. A situação extrema o trouxe para se envolver e ajudar. Após torturantes minutos que pareciam horas, o gnomo finalmente nasceu. A mãe desmaiou, em um sono tão profundo do qual não houve mais volta.
O velho druida
Os gnomos surgiram como elementais da terra, ou seja, espíritos capazes de se mover através da terra sólida com a mesma facilidade com que os humanos se movem no ar. Por isso, eram invocados por magos e alquimistas para controlar os elementos. Com o passar dos tempos, os gnomos formaram uma raça de seres muito engenhosos e protetores do equilíbrio da natureza.
Devido a essa ligação com a natureza, em especial após seu nascimento, o druida ermitão acolheu o pequeno gnomo. Antes mesmo de suas primeiras palavras, ele foi estimulado a se integrar com a natureza. Em sua infância, começou a receber os primeiros ensinamentos druídicos.
Apesar da pouca idade, ele apresentava serenidade e clareza na realização de seus estudos. Logo descobriu uma vocação em juntar pedaços de paus, pedras e cordas para criar brinquedos. Por causa dessas qualidades, o gnomo recebeu o nome de Skorlun, que significa “sábio engenhoqueiro” no idioma gnomônico.
Já em sua juventude, começou a se integrar com indivíduos de uma comunidade não tão distante de lá. O druida era respeitado por todos, mas também temido. Assim, o garoto conquistou poucas mas boas amizades. Saindo para explorar com um amigo, visitaram uma caverna com um estreito por onde eventualmente ocorriam rajadas de vento. Em uma dessas rajadas, Skorlun perdeu o equilíbrio e caiu em um buraco.
No local da queda, encontrou um rasgo na pedra com uma abertura que curiosamente recebia iluminação do exterior por uma estreita e longa rachadura. Nele, havia sido colocada uma rocha obsidiana com tamanho por volta de 10 centímetros em sua maior dimensão, em formato de prisma retangular e finamente lapidada, o que revelava uma intervenção de alguma raça.
O gnomo foi resgatado somente algumas horas depois. Ao levar o objeto para casa, percebeu que suas medidas seguem a proporção de 1:4:9. Apesar de curiosa, a pedra foi guardada com algumas bugigangas, que incluíam apetrechos para viagens, e por lá ficou durante um alguns anos.
Um determinado dia, o druida e Skorlun seguiram para um dos raros cultos druídicos, onde todos se reúnem para comungar e trocar conhecimento. O local de encontro era uma clareira entre árvores, com o chão coberto por pequenas pedras e gramíneas. Monolitos de rochas graníticas com uns 3 metros de altura e esculpidos em formato de prismas retangulares estavam dispostos em um círculo.
Durante um evento de comunhão com a natureza conduzido por um velho druida, Skorlun mexeu com a obsidiana displicentemente com uma das mãos. Depois de jogar a pedra algumas vezes para cima, uma lufada de ar acabou desviando sua trajetória para o chão. O som de uma pedra batendo em outra ecoou no local, atraindo a atenção de todos.
O velho druida pediu para observar a obsidiana de perto. Ao tocá-la, seu rosto exibiu uma feição cujas rugas no rosto revelavam que há muito tempo não era apresentada. Ele seguiu para o centro do círculo, ergueu a pequena pedra negra e prismática e fez a seguinte revelação:
“Esse pequeno monolito que nosso irmão trouxe vem de um povo muito avançado, cuja comunicação é feita sem som ou visão. Sabe-se que os humanos tiveram contato com um deles em tempos imemoriais e que lhes trouxe grande evolução. Parte desse conhecimento foi transmitido oralmente, de geração em geração, formando parte da cultura druídica. Esse monolito representa a ligação entre nós e um conhecimento tão distante no tempo para nós que só conhecemos sua invocação e seus efeitos, mas sem entender como ou porque acontece. É o que chamamos de magia.”
Virando-se para Skorlun, o velho druida ainda avisou:
“Meu jovem, quis a natureza, através do elemento ar, lhe entregar essa pedra. Esse é um sinal de que ela está em você, além de você estar nela. Por alguma razão por nós desconhecida, você e a atmosfera estão profundamente conectados. Considere esse pequeno monolito negro como a conexão entre você e o mundo da magia.”
Ao retornarem para casa, Skorlun fez um cajado para alojar o monolito em sua ponta, firmemente preso. A madeira usada era a do mesmo carvalho que foi atingido por um raio na noite de seu nascimento. Assim, seu novo cajado tornou-se seu foco druídico: o objeto usado na conjuração de magias.
Este capítulo faz parte da série Skorlun, o gnomo druida – sumário no link.
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