Um gnomo é uma criatura da mitologia europeia, descrito como um espírito diminuto e versado na alquimia e na magia. Muito ligado à natureza, especialmente à terra, compreende bem e faz proveito dos recursos naturais, sendo muito engenhoso. Suas características físicas foram reinterpretadas para atender às necessidades de vários contadores de histórias, mas é tipicamente considerado como um pequeno humanoide que vive no subsolo.
Pigmeus
A palavra vem do latim renascentista gnomus, que aparece pela primeira vez em “Um livro sobre ninfas, silfos, pigmeus e salamandras e sobre os outros espíritos” de Paracelso, publicado postumamente em Nysa (atual Polônia) em 1566. Paracelso (nascido Felipe Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, 1493/1494-1541) foi um médico suíço (pai da toxicologia), alquimista, teólogo leigo e filósofo da Renascença alemã. Também teve um impacto substancial como profeta ou adivinho, seus “Prognósticos” sendo estudados por Rosacruzes em 1600.
Quanto ao livro, Paracelso argumenta que o homem precisa usar a filosofia para obter conhecimento sobre o mundo natural, ou não será capaz de entender Cristo e apreciar a Bíblia. O mundo natural contém muitas coisas estranhas, incluindo seres elementais correspondentes aos quatro elementos clássicos: ninfas (água), sílfides/fadas (ar), pigmeus/gnomos (terra) e salamandras (fogo). Ele rejeita a visão cristã convencional de que os seres elementais são demônios, ao invés disso, argumenta que eles são partes significativas da criação de Deus, e os estuda como ele estudou o resto do mundo natural.
Os pigmeus (do grego, significa “distância do cotovelo aos nós dos dedos”) eram uma tribo da mitologia grega. Na arte, eram geralmente representados como pequenos hominídeos gordinhos e cômicos, armados com lanças e fundas, cavalgando nas costas de cabras, lutando contra pássaros grous. Posteriormente, grupos étnicos da África central receberam esse nome em referência às criaturas mitológicas gregas por exploradores europeus no século XIX, devido à baixa estatura dos tribais.
Paracelso usa Gnomi como sinônimo de Pigmeu. O termo pode ser uma invenção original dele, possivelmente derivando o termo do latim gēnomos (derivado do grego, significa “morador da terra”). Os gnomos de Paracelso foram frequentemente identificados com seres lendários pequenos que vivem na terra e no subsolo, principalmente os Zwerge (anões), os Kobolds e Wichtel (duendes, como são conhecidos na América Latina e península ibérica) do folclore alemão. Goblins são criaturas geralmente verdes que se assemelham a duendes e fazem parte do folclore nórdico: são feios e assustadores, fazem feitiçarias, estragam a comida, travam guerras contra os gnomos.
Gnomos
Paracelso os classifica os gnomos como elementais da terra – espíritos que supostamente podem ser invocados e utilizados por magos e alquimistas para controlar os elementos. Ele os descreve como tendo dois palmos (cerca de 46 centímetros) de altura, muito relutantes em interagir com humanos e são inteligentes, podendo falar a língua dos humanos e a sua própria.
Eles são capazes de se mover através da terra sólida com a mesma facilidade com que os humanos se movem no ar. Um espírito ctônico, ou habitante da terra, tem precedentes em numerosas mitologias antigas e medievais, muitas vezes guardando minas e preciosos tesouros subterrâneos (como os anões). Por isso, os gnomos se dispõem a trazer ouro e prata a quem lhes faz favores, com a condição de que não o acumulem e que o partilhem.
Após a Segunda Guerra Mundial (com referências antigas, em uso irônico, a partir do final dos anos 1930), as estatuetas diminutas introduzidas como enfeites de gramado durante o século 19 passaram a ser conhecidas como gnomos de jardim. A imagem do gnomo mudou ainda mais durante os anos 1960 e 1970, quando os primeiros gnomos de plástico de jardim foram fabricados.
Esses gnomos seguiram o estilo da representação de 1937 dos anões em “Branca de Neve e os Sete Anões” da Disney. Ele passou a ser estilizado como um homem idoso com uma barba branca e farta e um chapéu pontudo. Esta imagem está também no clássico livro infantil ilustrado “Gnomos” (1976). Escrito pelo holandês Wil Huygen e ilustrado por Rien Poortvliet, explica a vida e o habitat dos gnomos como um livro didático faria – inclusive com aspectos sócio-culturais, como a previsão do tempo usando a observação da natureza.
Nele, é dito que os gnomos são muito pequenos (pesam menos de meio quilo e têm 15 centímetros de altura) e podem viver até 400 anos. O gnomo fêmea é geralmente menor do que sua contraparte masculina e sua roupa é cinza em vez de azul. A gravidez de um gnomo dura 12 meses e eles sempre têm gêmeos, que moram com os pais há pelo menos cem anos. Eles também costumavam viver em sociedade ao lado dos humanos, especialmente na Europa, mas devido à poluição e ao desmatamento, lentamente se retiraram para suas casas secretas.
O gnomo e o clima
Lamentavelmente, não fomos capazes de compreender completamente a arte da previsão do tempo dos gnomos. Eles fazem isso com uma precisão que qualquer meteorologista profissional admiraria. Quando questionados sobre seu segredo, eles murmuram vagamente sobre “senti-lo nos ossos”, indicam que “simplesmente acontece” ou referem-se a “conhecimento antigo” e por aí vai.
Pudemos aprender, entretanto, que eles determinam a quantidade de umidade do ar e a aproximação dos sistemas de baixa pressão pela posição dos estômatos encontrados na parte inferior das folhas. Uma folha de carvalho tem 58.000 estômatos por centímetro quadrado. O gnomo, com seus olhos penetrantes, é capaz de ver, apenas olhando para a folha, se os estômatos estão abertos ou fechados e, assim, fazer seus cálculos – sem o auxílio de computadores, é claro.
Os gnomos também seguem de perto o ritmo de 11 anos das manchas solares. Uma terceira ajuda vem do estudo das correntes de ar de alta altitude, onde ocorrem as primeiras mudanças no tempo. Isso provavelmente é feito com a ajuda de pássaros.
Uma grande brincadeira deles – na esperança de nos desencaminhar, sem dúvida – era nos mostrar o que chamavam de árvore do tempo (Sertularia cupressina), que murcha com o tempo seco e renasce com o tempo úmido.
Embora o gnomo saiba exatamente como estará o tempo com bastante antecedência, ele ainda anda na chuva, granizo, neblina, calor e frio – o tempo, afinal, não faz muita diferença para ele. No frio intenso, no entanto, ele mantém as mãos sob a barba.
Assim que um centímetro de gelo se forma em lagos ou poças, o gnomo calça seus patins. Se o tempo frio continuar, são organizadas corridas de patinação.
Nas tempestades, o gnomo corre pouco risco de ser atingido por um raio, porque é muito pequeno. Se a tempestade realmente começar a cair, ele se abriga sob uma faia, porque essas árvores não atraem raios. Os gnomos conhecem a velha rima alemã para afastar os raios (o martelo de Thor)*:
“O carvalho deve ser evitado,
Não fique embaixo de um salgueiro,
O pinheiro está em perigo,
Mas a faia pode ser procurada com segurança.”Os gnomos podem prever uma tempestade de vento infalivelmente, assim como os animais. Esse conhecimento é especialmente importante para eles – sem ele, eles poderiam ser facilmente pegos e arremessados.
A neve também é prevista com precisão. Isso é necessário porque o gnomo usa muitas aberturas e buracos no solo, e se eles ficarem cobertos de neve, outros arranjos terão que ser feitos. (Já mencionamos os esquis de longa distância usados pelos gnomos após uma tempestade de neve.)
Nas montanhas, o gnomo pode prever uma avalanche com tanta certeza quanto a camurça, a raposa e o veado.
O único perigo que pode recair sobre os gnomos no inverno, especialmente em terrenos acidentados, é que, se eles estiverem caminhando, podem se enrolar em uma bola de neve natural à medida que desce colina abaixo. Muitos gnomos atordoados foram vistos se levantando dos restos de uma bola de neve que se espatifou contra uma parede ou um chalé na montanha.
* Não sei você, leitor, mas quando falou de “rima para afastar os raios”, lembrei dessa musiquinha do filme TED.
A Sertularia cupressina é um animal do filo dos cnidários, típico do Atlântico norte, mas que tem uma aparência entre alga e pequeno arbusto. Por ser uma espécie marinha, quando é levada pelas ondas para terra firme, começa a desidratar. Quanto mais seco o ar, mais rápido deve desidratar, mas como o ar junto à costa costumar ter umidade constantemente alta, não deve ser um bom indicador de umidade do ar.
Os gnomos também conseguem fazer uso da energia dos ventos ao chacoalharem ritmicamente uma árvore fina e alta para frente e para trás. Cordas no topo conectada a polias transmitem o movimento para uma sequência de engrenagens para funcionar um pilão ou movimentar uma serra, por exemplo.
“Gnomos” foi adaptado em um filme para a televisão em 1980 com o mesmo nome, dirigido pelo ilustrador Jack Zander (vídeo em inglês no link). Na Espanha, o livro foi publicado como “El libro secreto de los gnomos” em 1980 e foi adaptado para o desenho animado “David, el Gnomo” em 1985.
Gnomos no RPG
O gnomo é uma raça de vários jogos do tipo RPG, desde Dungeons & Dragons – veja mais no post Gnomos em D&D. O jogo World of Warcraft (WoW) bebeu muito dessa fonte e também contém gnomos desde o início. Ele se passa no mundo fantástico de Azeroth, introduzido no primeiro jogo da série, “Warcraft: Orcs & Humans”, lançado em 1994.
Nesse universo, os gnomos são notórios mecânicos e engenheiros, muito inteligentes. A maior parte dos gnomos foi dizimada durante a queda de Gnomeregan. Dizem que 80% dos gnomos de Azeroth sucumbiram durante aqueles terríveis tempos. Os poucos sobreviventes fugiram e fundaram a Vila da Gambiarra, onde discretamente se ocuparam de reconstruir suas forças, curar suas feridas e se preparar para retomar Gnomeregan.
Inspirado em WoW, surgiu o jogo de cartas Hearthstone: Heroes of Warcraft em 2014. Nele, jogadores constroem decks de cartas a partir de heróis que representam dez classes (inicialmente nove) do universo de Warcraft e trocam turnos jogando cards de seus decks personalizados, usando feitiços, armas ou habilidades heroicas. Uma das expansões do jogo é o “Goblins vs. Gnomos”, onde é possível usar a engenhosidade gnômica ou a astúcia goblin para criar novas estratégias exclusivas.
Curiosidade: existe um software livre para ambiente de trabalho Linux chamado Gnome (acrônimo para GNU Network Object Model Environment). Ele foi lançado em 1999 e mudou tão radicalmente de visual na versão 3 que surgiu um sucessor do Gnome 2 chamado Mate (Advanced Traditional Environment).
Fontes
- Wikipedia – Gnome, Paracelsus, A Book on Nymphs, Sylphs, Pygmies, and Salamanders, and on the Other Spirits, Pygmy, Goblin, Gnomes (book), Hearthstone
- Fandom Fantasia – Elementais, Gnomos
- World of Warcraft – Gnomo
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