Antigos sinais de previsão do tempo

Depois de assistir a essa vídeo no canal Papo de Meteorologia, descobri algumas curiosidades sobre um dos pioneiros das previsões meteorológicas, o que me levou a saber mais sobre um curioso sistema de avisos de tempo futuro a navegantes, mas que acabou entrando em desuso com o avanço das telecomunicações.

Posto da Guarda Costeira que ainda exibe o cone de tempestade (Polruan station). Fonte: NCI
Posto da Guarda Costeira que ainda exibe o cone de tempestade (Polruan station). Fonte: NCI

O britânico Robert FitzRoy (1805-1865) ficou famoso por ter sido o capitão do navio HMS Beagle (1831-1836) durante a famosa viagem de Charles Darwin. Devido ao seu grande interesse em Meteorologia, equipou seu navio com barômetros e outros aparelhos e também desenvolveu um método próprio de previsão do tempo e de avisos meteorológicos. Ele progrediu bastante em sua carreira naval, sendo nomeado Diretor do Escritório Meteorológico em 1854 – o primeiro do atual Met Office.

Entre 25 e 26 de outubro de 1859, ocorreu a que foi considerada a tempestade mais severa a atingir o Mar da Irlanda no século 19, com mais de 800 mortos. Os ventos atingiram a força 12 na escala Beauforte, ficando acima de 160 km/h. Ficou conhecida como “Real Chart Storm”, devido ao navio Royal Charter, que foi impulsionado pela tempestade na costa leste de Anglesey (País de Gales), com a perda de mais de 450 vidas.

Após esse episódio, FitzRoy fez lobby para obter permissão para estabelecer um Serviço de Alerta de vendaval para a proteção do transporte marítimo. Organizou uma rede de 40 estações meteorológicas ao longo das costas irlandesa e britânica, que lhe forneciam relatórios meteorológicos diários por telégrafo.

Sentindo que “prediction” e “foretelling” soavam muito anticientíficas para um processo baseado na ciência em desenvolvimento da meteorologia, então ele cunhou o termo “weather forecast. Sua primeira previsão do tempo por seu próprio punho foi publicada no Times em 1º de agosto de 1861: “General weather probable during next two days: North – Moderate westerly wind; fine. West – Moderate south‐westerly; fine. South – Fresh westerly; fine“.

Primeira previsão do tempo para 1 dia. Fonte: Met Office
Primeira previsão do tempo para 1 dia. Fonte: Met Office

Embora tivesse recebido apoio do governo para estabelecer um serviço de alerta de vendaval, FitzRoy não tinha permissão para estabelecer previsões públicas. No entanto, elas eram muito populares. A rainha Vitória costumava entrar em contato com FitzRoy para as previsões alguns dias antes de fazer viagens para a Osborne House, na Ilha de Wight. De fato, no último dia em que compareceu ao escritório, era para telegrafar uma previsão à rainha.

FitzRoy também criou um novo barômetro para uso em portos de pesca, mais fáceis de ler e interpretar. Eles foram colocados onde todos pudessem vê-los e salvaram centenas de vidas. Alguns barômetros sobrevivem in situ em portos de pesca ao redor das Ilhas Britânicas, incluindo Mousehole em Cornwall. Ele pagou por muitas delas ele mesmo, esgotando sua própria fortuna pessoal.

Seu livro “The Weather Book: A manual of practical meteorology“, escrito durante umas férias de verão em 1863, foi um trabalho de liderança em ciência e técnicas meteorológica e marcou o início de uma era de grandes avanços na meteorologia e guiou a ciência nas décadas seguintes.

Gráfico produzido por FitzRoy representando as massas de ar e suas diferenças de temperatura. Fonte: Met Office
Gráfico produzido por FitzRoy representando as massas de ar e suas diferenças de temperatura. Fonte: Met Office

Suas previsões foram criticadas por muitos, incluindo cientistas, astro-meteorologistas e a mídia, com o público incansavelmente apontando quando as previsões estavam erradas, ao que ele constantemente sentiu que tinha que responder por meio da página de cartas do Times.

“Nem preciso repetir, senhor, o que tantas vezes foi explicado, que as ‘previsões’ são expressões de probabilidades – e não previsões dogmáticas.”
Robert FitzRoy, ao receber críticas por usas previsões de tempo

No fim da vida, amargado pelas frustrações a ele impostas, por dificuldades financeiras, e sofrendo a tempos de transtorno bipolar depressivo-compulsivo, suicidou-se, cortando a própria garganta com uma navalha. Após sua morte, as previsões foram interrompidas até 1 de abril de 1879, altura em que a Royal Society, que controlava o Gabinete Meteorológico, as considerou suficientemente confiáveis.

Sinais meteorológicos

Quando ventos fortes eram esperados, avisos eram telegrafados para portos em todo o país, e dentro de 30 minutos, os sinais apropriados eram exibidos em terra para transmitir a mensagem aos navios que passavam. Esse sinais eram do tipo semáforo, içados em um mastro alto em terra para permitir que os marinheiros vissem.

Se ventos fortes eram esperados em uma direção (geralmente ao norte), um cone preto de 3 pés de altura e 3 pés de largura na base seria erguido no mastro: um “Cone Norte”. Se os vendavais eram esperados ao sul, era içado um cone com seu ápice apontando para baixo: um “Cone Sul”.

Sistema de alerta de tempestade de FitzRoy. Fonte: Met Office
Sistema de alerta de tempestade de FitzRoy. Fonte: Met Office

Outros padrões tinham significados que rapidamente se tornaram padronizados e amplamente compreendidos. Um “tambor” (ou cilindro), por exemplo, às vezes era usado para indicar vendavais sucessivos de várias direções. À noite, luzes vermelhas eram usadas para indicar a forma relevante – um triângulo de luzes para formar um cone e quatro luzes dispostas em um quadrado para indicar um tambor.

Em todos os casos, o sinal era alterado quando o vento diminuía de força, desde que não fossem esperados novos vendavais em seis horas. Um sinal ainda em evidência após a redução do vento, no entanto, deve ser interpretado como um sinal que qualquer diminuição era apenas temporária.

Os “Storm cones” (cones de tempestade) continuaram sendo usados ​​regularmente em portos e postos da guarda costeira na Grã-Bretanha (e em outros lugares do mundo) até o início dos anos 1980, com o melhoramento das telecomunicações. No entanto, os cones ainda são exibidos ocasionalmente por iates clubes de forma voluntária para a informação do passante casual – ou mesmo no posto da The National Coastwatch em Polruan. Eles são responsáveis ​​pela fraseologia curiosa ouvida até há relativamente pouco tempo nas previsões marítimas britânicas que avisavam, por exemplo, que “South cones are being hoisted” (cones do sul estão sendo içados).

Sistema com bandeiras

Posteriormente, o sistema acabou sofrendo alterações e recebendo lanternas para funcionamento noturno, conforme imagem a seguir:

Cones e lanternas em sistema semelhante
Cones e lanternas em sistema semelhante

Em outra ocasião, foi criada uma linguagem através de bandeiras para condições gerais do tempo e temperatura. São três bandeiras para tempo:

Bandeiras para tempo aberto, fechado e instável, respectivamente
Bandeiras para tempo aberto, fechado e instável, respectivamente
  • bandeira branca para tempo aberto;
  • bandeira azul para tempo fechado;
  • bandeira com faixa branca em cima e azul embaixo para tempo instável.

Uma flâmula triangular preta indica a temperatura:

Flâmulas de temperatura normal, forte queda e forte aumento, respectivamente
Flâmulas de temperatura normal, forte queda e forte aumento, respectivamente
  • flâmula isolada no mastro indica temperatura estável;
  • flâmula acima da bandeira de tempo indica temperatura subindo;
  • flâmula abaixo da bandeira do tempo indica temperatura caindo.

Caso a oscilação seja muito forte, a flâmula preta é substituída por uma bandeira branca com um quadrado no centro:

  • quadrado preto, forte queda de temperatura;
  • quadrado vermelho, forte aumento de temperatura.
Exemplos de uso conjunto: tempo bom e temperatura subindo (esq.), tempo instável e temperatura em forte queda (dir.)
Exemplos de uso conjunto: tempo bom e temperatura subindo (esq.), tempo instável e temperatura em forte queda (dir.)

No material (utilizado para treinamento em escotismo) que encontrei essa outra simbologia, afirma-se que esses símbolos foram usado em estações e postos meteorológicos também do Brasil. No Rio de Janeiro, seriam mostrados no Forte de Copacabana, Edifício Mesbla, Ilha das Cobras, Forte Gragoatá (Niterói), entre outros.

O código internacional de sinais utilizado pela navegação marítima serve de comunicação entre dois ou mais navios, podendo ser representado por código Morse ou um conjunto de bandeiras. Nesse site, estão disponíveis as flamulas (pennants) alfabéticas, numéricas, de resposta e indicativas, com link para os significados especiais e de avisos: International Marine Signal Flags (veja também essa figura com um resumo).

Fontes

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