Por Maria Auxiliadora Roggério
Quando nos relacionamos com o outro e com a natureza, vivenciamos emoções e sentimentos, ou seja, reagimos afetivamente aos acontecimentos e não há como evitar reações agradáveis ou penosas, de prazer, dor ou raiva. As emoções e sentimentos não precisam de nosso consentimento para nos afetar; quando algo nos toca de modo especial, nos emocionamos.
Nossa mente está programada para assumir o controle, tendo como meta as crenças e normas sociais. Buscando explicações para o que nos está acontecendo, para compreender a realidade, resolver problemas, apelamos à razão. A razão nos fornece meios para essa compreensão. Quando necessitamos de algo – como, por exemplo, alimento, abrigo ou amor, carinho, reconhecimento dos outros – , desejamos alcançar. Queremos satisfazer nossas expectativas e tentamos evitar a fome, o desamparo, o sofrimento, a dor, a solidão.
Fundamentalmente, a racionalidade caracteriza a natureza humana, mas, também, somos seres desejantes. É o desejo que põe o mundo em movimento. O desejo (ou necessidade, ou motivação) orienta o comportamento para um objetivo. O que foge ao nosso controle nos causa ansiedades e temores. Pensar que estamos no controle de nossas ações, de certo modo, nos impede de nos mantermos abertos e disponíveis a viver as emoções.
As emoções são espontâneas; podem ser explicadas como reações afetivas breves, envolventes e intensas, com componentes fisiológicos, comportamentais e cognitivos, em geral desencadeadas por estímulos internos ou externos, conscientes ou inconscientes.
A reação afetiva é uma resposta que damos em nossas relações com o mundo e com outras pessoas, considerando o momento e as circunstâncias de cada situação da vida. Quando um indivíduo sintoniza com o ambiente, como exemplo, alegrando-se em festividades, ou entristecendo-se em eventos dolorosos, demonstra capacidade de ser influenciado afetivamente por estímulos externos; a essa capacidade denominamos sintonização afetiva. Se o indivíduo faz com que os outros sintonizem com seu estado afetivo momentâneo, dizemos que ele tem capacidade de transmitir e contaminar os outros; é a chamada irradiação afetiva. Na impossibilidade ou no desinteresse de sintonização ou irradiação, o indivíduo não reage afetivamente aos estímulos nem causa reações afetivas nas pessoas; a essa condição chamamos de rigidez afetiva.
A afetividade faz parte de nossa existência. Seja intensamente como nas emoções, seja em forma de sentimentos, que nos vinculam com o próximo.
Mas as diferenças entre emoções e sentimentos não podem meramente serem explicadas por indicadores quantitativos. O modo como um indivíduo interage com as outras pessoas, com objetos e consigo mesmo, a qualidade dos relacionamentos interpessoais, revelam que a manifestação e a expressão dos sentimentos sofrem influência do contexto sociocultural, que condiciona com seus valores e determina sua forma de estar no mundo. Os sentimentos surgem em resposta às emoções. A diferença está no significado de nossas vivências.
Um sentimento é uma espécie de vínculo, positivo ou negativo, que um indivíduo experimenta por algo ou por alguém. É como um estado, uma disposição afetiva estável, mais brando que a emoção e mais associado a conteúdos de ordem moral ou intelectual. Assim, perguntamo-nos quais valores implicam determinado sentimento, quando o experimentamos.
Em nossos relacionamentos interpessoais experimentamos os mais variados sentimentos. É comum seguirmos pelo viés positivo, da simpatia e da valorização do outro, ou negativo, da antipatia e consequente desvalorização do outro. Embora características da personalidade de cada um possam fazer pender mais numa ou noutra direção, todos os sentimentos sofrem influência da dinâmica inter-relacional e do contexto sociocultural.
São sentimentos que dirigimos ao próximo:
- na direção positiva, da simpatia e da valorização: afeição, amor, admiração, confiança, compaixão, estimação, empatia, gratidão e consideração e respeito;
- na direção negativa, da antipatia e da desvalorização: aversão, rejeição, ódio, decepção, desconfiança, desprezo, inveja;
- há também os sentimentos de ciúme e ressentimento, que são sentimentos ambivalentes;
- a indiferença.
Simpatia e antipatia são as formas mais comuns de nos relacionarmos com os outros.
Muitas vezes confundidos, os sentimentos de simpatia e empatia, são distintos.
A simpatia pode ser considerada uma conformidade de gênios, aproximação e sintonia com o outro; alguma forma de identificação com o outro, afinidade de interesses, mesmos gostos, valores, necessidades, sentimentos; um “estar ao lado de”. Quanto maior a identificação, maior a simpatia.
Tanto na simpatia como na empatia, há um movimento de aproximação, porém, na empatia, a aproximação é um pouco mais profunda, colocando-nos na perspectiva do outro. Ainda assim, essa capacidade para ser empático não permite que um indivíduo sinta o mesmo que o outro; somente quem sente, sabe como está sendo afetado.
No cap. VII de Psicologia de Grupos e Análise do Ego (1921), Freud emprega o termo empatia como a capacidade de sentir em si, de sentir-se dentro do outro através de identificações projetivas e introjetivas.
A empatia é um sentimento de compreensão e interação emocional com alguém. Pressupõe um certo grau de envolvimento, um atitude de respeito e de apreço pelo outro. Assim, um sofrimento sentido por uma pessoa é, em alguma medida, vivenciado por outra pessoa que se empatiza com ela.
A empatia não é uma emoção, mas a capacidade de perceber, compreender e sentir dor ou prazer como se fosse a outra pessoa. Quando há um entendimento empático, é possível captar a perspectiva psicológica do outro, sem julgamentos, e comunicar esse estado emocional.
Uma pessoa que tem capacidade empática diante de alguém que está sofrendo, tem tendência a ser solidário. Colocar-se no lugar do outro torna mais fácil compreender o lado emocional da pessoa.
Quando uma pessoa que recebeu ajuda demonstra gratidão, alegria, a pessoa que ajudou pode sentir-se recompensada e experienciar alegria empática. Esse é um processo inconsciente e, do mesmo modo, pode sentir-se motivada a repetir o comportamento de ajuda em outras ocasiões para voltar a sentir alegria empática.
Algumas pessoas não conseguem situar-se no lugar do outro. Por serem muito egoístas (quando têm um olhar prioritário e excessivo às próprias necessidades, sem consideração aos interesses alheios) ou egotistas (quando há uma tendência de supervalorização de si mesmo e desinteresse pelos demais), mostram pouco ou nenhum senso de empatia.
A compaixão surge quando nos apiedamos de alguém e nos dispomos a ajudar; não pode ser fabricada, acontece sem que percebamos. A vontade de ajudar ao próximo e o reconhecimento do outro como nosso semelhante, faz surgir a solidariedade. Quando somos solidários e participamos ativamente na vida dos outros que sofrem, deixamos de lado um pouco do egoismo que rege parte de nossas ações. Um pouco de benevolência e temos a oportunidade de tornar mais leve a vida em sociedade.
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