O Vento, de Ray Bradbury

John foi perseguido por todo o mundo por uma mortal força da natureza após ter visitado e descoberto seu local de origem. Assim como os contos “A chuva interminável” e “O dia que choveu para sempre“, esta é outra história de Ray Bradbury com forte inspiração na Meteorologia, e dessa vez o antagonista é o vento.

Arte conceitual de "O Vento". Fonte: Weird Tales
Arte conceitual de “O Vento”. Fonte: Weird Tales

Ray Bradbury (1920-2012) teve vários de seus textos adaptados para o cinema e para séries de TV. Na década de 1980, adaptando seus próprios contos, o escritor colaborou com a produção de “O Teatro de Ray Bradbury“. Sua abertura dá a entender que as histórias do autor partem de coisas simples do dia a dia – como a chuva e o vento. Um de seus episódios mais famosos é o “Safári no passado” (“A sound of thunder”), que apesar do título original falar de trovão, não tem inspiração nesse fenômeno meteorológico – fala sobre uma caçada no tempo dos dinossauros e como uma pequena alteração no passado pode alterar o presente após uma viagem no tempo.

O conto “O Vento” (“The Wind”) foi inicialmente publicado em março de 1943 na revista “Weird Tales” – uma cópia digital do conto completo pode ser vista no link. O episódio da série “O Teatro de Ray Bradbury foi pela primeira vez ao ar em 28 de julho de 1989 e está disponível no Youtube a seguir (dublado em português):

O conto fez parte de um compilado em 1947, o livro Dark Carnival, com 27 contos no total. Desses, 15 foram reimpressos no livro The October Country em 1955, incluindo “O Vento”, resultando em um total de 19 contos.

Resumo

John Colt, amigo de Herb Thomson, afirma que enquanto ele estava no Tibete durante a guerra, ele descobriu o que chama de Montanha dos Ventos. Lá, ele se viu no meio de neve, chuva, granizo e vento, tudo ocorrendo simultaneamente. Ele está convencido de que enfureceu os ventos descobrindo sua origem e que agora os ventos buscam vingança contra ele.

“Ouvi falar de uma montanha chamada montanha dos ventos; o espaço onde os ventos sombrios de toda a terra se reúnem uma vez ou outra. É uma grande montanha do mal, cinza e saliente; rocha dura e óssea sem um local para apoio. Seria uma blasfêmia tocá-la.”

Quando a história começa, John tem certeza de que esta noite é a hora que os ventos escolheram liquidar suas dívidas com ele, pois o vento o seguiu até sua casa e foi aumentando gradualmente de intensidade, seguido de leves sussurros. Na esperança de apoio moral, John faz ligações telefônicas frequentes para o amigo a noite toda, descrevendo as atividades mais recentes do vento vingativo. Ele diz a Herb que o vento tirou o poder da vida e o intelecto de milhões de pessoas ao longo dos anos,e agora está perseguindo o dele. Herb, no entanto, não fornece ajuda para John, porque ele acredita que seu amigo está apenas se entregando à fantasia – inclusive, onde Herb está, o tempo está calmo.

Quando as ligações frequentes de John cessam subitamente, Herb tenta fazer uma ligação, mas ouve a telefonista dizer que ela não pode conectar a ligação porque todas as linhas telefônicas estão inativas como resultado de uma tremenda tempestade de vento naquela área. Mais tarde, quando Herb ouve a voz de John do lado de fora da porta, ele dá um suspiro de alívio. Ao abrir a porta, no entanto, ele é recebido pelo vento.

Resenha

O protagonista afirma ter descoberto que a origem dos ventos está em uma região do Tibete, a Montanha (ou Vale, no episódio) dos Ventos. No entanto, o vento pode surgir em qualquer lugar.

De modo geral, o ar começa a se movimentar devido a uma diferença de temperatura e pressão da atmosfera. Quanto maior a temperatura, mais suas moléculas se movimentam e mais elas se distanciam umas das outras. Assim, mais reduzido será o número de moléculas em um volume de ar e menor será o peso do ar aquecido, resultando em uma menor pressão atmosférica. A diferença de pressão entre diferentes regiões da superfície gera uma força (chamada de força do gradiente de pressão) que causa a movimentação do ar, ou seja, o vento.

Em regiões montanhosas, é comum existirem ventos mais fortes. Um dos motivos é a menor existência de obstáculos que façam o movimento do ar perder energia ao atritar e colidir com a superfície terrestre. Além disso, existem os ventos catabáticos e anabáticos.

Quando a superfície de uma região mais alta esfria, o ar também perde energia e fica mais denso, descendo para regiões de vale e aquecendo adiabaticamente (sem trocar calor com o ar ao redor, somente devido ao aumento de pressão). Esse ar frio que desce e fica quente é o vento catabático. Já o vento anabático sobe a encosta de uma montanha devido ao aquecimento da mesma gerada pela insolação.

Assim, é bem compreensível que uma região de altas montanhas, como o Himalaia, possa ser considerado informalmente como o berço dos ventos, por ser uma região com fortes movimentações de massas de ar. Por ser uma região difícil de ser explorada, mantém-se selvagem e serve como fonte de muitas lendas e histórias de ficção.

“De todos os lugares altos e selvagens que vi, esse foi o mais aterrorizante. No seu pico, uma fenda de vale através da qual uma maré de vento soprava berrando; não um vento, mas milhões, pequenos e grandes, leves e esfumaçados. Neve, chuva, aguaneve e granizo ecoavam nas rochas. O corpo agudo do monte sustentava tudo, e eu percebi isso de um lugar protegido. Oh, como as nuvens passavam por lá, no alto como pedaços cremosos arrancados de uma enorme e intrincada pele de lã. Que barulho, que visão, que força e violência.”

Nesse conto, o vento é personificado como um ser sombrio e sinistro, simbolizando uma ameaça. Já o protagonista representa as pessoas que às vezes se vêem sozinhas e incompreendidas mesmo na presença de amigos. Assim, a história também apresenta o medo de uma pessoa frente a uma ameaça, que busca o conforto em amigos, mas a solidão acaba prevalecendo e a adversão, vencendo.

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