O município de Paulo Afonso está localizado no extremo norte baiano, no semi árido nordestino. Cortada pelo rio São Francisco, as quedas d’água do “Velho Chico” promoveram a construção do maior complexo de usinas hidroelétricas da região nordeste.
Histórico
A região era inicialmente ocupada por índios mariquitas e pancarus. Com a chegada dos portugueses, em meados do século XVIII, iniciou-se o cultivo de lavouras e a criação de gado.
Em 3 de outubro de 1725, o sertanista Paulo Viveiros Afonso recebeu, por alvará, uma sesmaria medindo três léguas de comprimentos por uma de largura. Situada na margem esquerda do rio São Francisco, abrangia as terras alagoanas da cachoeira – conhecidas como “Sumidouro”. Com o tempo, o donatário ocupou também terras da margem direita.
Entre os séculos XIX e XX, o sertão nordestino foi palco do movimento conhecido como cangaço. Grupos armados vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança pela falta de emprego, alimento e cidadania, causando desordem na rotina dos camponeses e grandes fazendeiros.
Um dos principais líderes do cangaço foi Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), vulgo Lampião, que foi companheiro de Maria Gomes de Oliveira (1911-1938), conhecida como Maria Bonita após sua morte. Maria Bonita é natural da região. Sua casa de infância está localizada na zona rural do município (atual povoado de Malhada da Caiçara), restaurada em 2006 para se tornar o Museu Casa de Maria Bonita.
A região já era um expressivo núcleo demográfico do município de Glória quando o Governo Federal, em 15 de março de 1948, criou a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), com a finalidade de aproveitar a energia da Cachoeira de Paulo Afonso. O acampamento de obras localizou-se nas terras da Fazenda Forquilha, em torno do qual cresceu a cidade. A emancipação ocorreu em 28 de julho de 1958 do município de Glória/BA.
Usinas Hidroelétricas
A cachoeira de Paulo Afonso é um conjunto de quedas d’água de até 80 metros, que se espalham por rochas entrecortadas em plataformas e que alimentam uma série de usinas do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso. Como chove muito pouco no local, seu volume é muito baixo durante a maior parte do ano – só aumenta quando chove muito nas nascentes, no centro-sul de MG.
Ela foi retratada numa pintura a óleo sobre madeira pelo pintor de paisagens holandês Frans Post em 1649. Além disso, o poeta baiano Castro Alves publicou o poema “A Cachoeira de Paulo Afonso“, parte integrante da obra Os Escravos, em 1876. Nele, é traçado um paralelo com a mitologia grega, para dar a dimensão grandiosa da queda d’água.
Em 26 de janeiro de 1913, um dos pioneiros da industrialização no Brasil, Delmiro Gouveia (1863-1917), inaugurou a primeira usina hidrelétrica do Nordeste e a segunda do país, a Usina de Angiquinho – antecedida somente pela Usina de Marmelos (Juiz de Fora/MG). Tinha como objetivo fornecer energia elétrica a uma grande indústria têxtil chamada de Companhia Agro Fabril Mercantil localizada na cidade de Pedra (hoje Delmiro Gouveia).
O Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso é formado pelas usinas PA I, PA II, PA III e PA IV e Apolônio Sales (Moxotó), além da pequena usina Piloto (PCH). Foi necessário controlar e reverter o fluxo do Rio São Francisco para iniciar-se o processo de construção da barragem da primeira usina (Paulo Afonso I), inaugurada em 1955 para gerar 120 MW. Na ilha artificial formada pelo canal, construiu-se a vila de operários, que foi um novo núcleo inicial de formação da cidade de Paulo Afonso.
PA II começou a operar em 1961 com 6 unidades geradoras acionadas por turbinas tipo Francis. PA III foi inaugurada em 1970. PA IV, construída no outro braço do rio e entrou em operação em 1979. Ela pode ser vista da ponte Dom Pedro II, mais conhecida como ponte metálica: construída toda em metal na década de 1950, liga os estados da Bahia e Alagoas. Para não deixar o carro no acostamento, existe um ponto informal de paradas do lado alagoano, junto a um comércio – a ponte treme bastante ao passar algum veículo pesado.
A Usina Hidrelétrica de Moxotó, construída em 1971 e inaugurada em 1975, está localizada a cerca de três quilômetros a montante do barramento das Usinas Paulo Afonso. Em 1983, passou a ser chamada Usina Apolônio Sales, em homenagem a Apolônio Jorge de Faria Sales (1904-1982) que foi ministro do Governo Getúlio Vargas, senador da República e presidente da Chesf.
Visitação
O complexo Angiquinho foi desativado e, posteriormente, transformado em sítio histórico – apesar de restaurado, está fechado para visitação. Conta com onze edificações, entre elas as casas de máquinas e bombas, que abrigam as turbinas da antiga usina, a linha férrea, a casa usada por Delmiro Gouveia quando visitava o local e a vila operária, oferece ao visitante uma viagem ao tempo. Descer o penhasco pelas estreitas escadas de ferro até as salas das máquinas é uma pequena aventura.
As usinas PA I, II e III podem ser visitadas através de guia credenciado no Núcleo Atendimento ao Turista, a bordo de carro próprio. Dentre os pontos mais interessantes da visitação, estão:
- Modelo Reduzido de Paulo Afonso (atualmente fechado)
- Lago e comporta do Capuxu
- Mirante do leito do rio São Francisco
- Sala de comando
- Túnel de ventilação (acesso às turbinas)
- Caverna das turbinas (uma das maiores do mundo, com 210 metros de extensão, 24 de altura e 55 de largura)
- Ponte interna (famosa por ter sido cenário da novela global Senhora do Destino, onde a personagem Nazareth Tedesco se tira para a morte)
- Mirante circular
- Teleférico (desativado, mas ainda presente)
- Ilha do urubu, com placa comemorativa da visita do imperador Dom Pedro II em 1859
- Mirante para cachoeira de Paulo Afonso, usina de Angiquinho e Furna do Morcego (que não foi esconderijo do grupo de Lampião, pois eles não passavam por lá)
- Monumento a Castro Alves
- Aquário com Tambaquis (em manutenção)
- Túnel sob a represa
- Monumento “O Touro e a Sucuri” (simboliza a inteligência do homem vencendo a força do rio para a construção de usinas)
- Parque Belvedere (junto ao reservatório da represa)
Junto ao monumento, está o recém inaugurado Parque Balneário Abelardo Wanderley, com letreiro com o nome da cidade. Como atrações turísticas, a cidade também possui a Praça das Mangueiras, a Igreja de São Francisco de Assis, a Estação Ecológica Raso da Catarina (onde encontram-se espécies ameaçadas de extinção como a arara-azul-de-lear e a pomba-avoante), Serra do Umbuzeiro, passeio de catamarã pelo cânion do Rio São Francisco e a prainha (no lago formado pela represa, junto à ponte da BA-210, fora da ilha).
O catamarã oferece pelo menos três roteiros diferentes: o primeiro, Paulo Afonso/Xingozinho, o segundo, Xingó/Paraíso do Talhado, em um dos trechos mais interessantes do canyon, e o terceiro, Xingó/Paulo Afonso. Os roteiros duram em média de 3 a 5 horas e são oferecidos de terça a domingo, com direito a banho no rio.
A cidade é acessível por estrada pavimentada partindo de Salvador, Aracaju (mais próxima capital), Maceió e outras cidades. Atualmente, existem poucos voos partindo de Recife para Paulo Afonso operados pela Azul.