Na madrugada de 20 de dezembro de 2019, o satélite CBERS-4A foi lançado ao espaço e colocado em órbita pelo foguete longa marcha 4B, a partir do Centro de Lançamento de Satélites em Taiyuan (China). O lançamento ocorreu às 0h22 e entrou em órbita às 0h37, quando iniciou o processo de abertura dos painéis solares. Veja um vídeo com a chegada do foguete à base e seu lançamento:
O satélite foi desenvolvido em parceria com a China, a partir de um acordo firmado entre os dois países em 1988. Nele, estão definidas responsabilidades de desenvolvimento compartilhadas entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pelo Brasil, e a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), pela China. O programa CBERS (sigla para China-Brazil Earth-Resources Satellite; em português, Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) tem como foco o desenvolvimento de satélites de sensoriamento remoto para monitoramento do clima, projetos de sistematização e uso da terra, gerenciamento de recursos hídricos, arrecadação fiscal, imagens para licenciamento e monitoramento ambiental, entre outras aplicações.
O CBERS-1 foi o primeiro satélite desenvolvido dentro do acordo e foi lançado em 14 de outubro de 1999. O CBERS-2 é tecnicamente idêntico ao CBERS-1 e foi lançado em 21 de outubro de 2003. O CBERS-2B tecnicamente construído como modelo de provas para CBERS-2 e foi aproveitado como solução intermediária enquanto o CBERS-3 não era lançado.
Os satélites CBERS-3 e 4 foram os de segunda geração. O CBERS-3 estava previsto para entrar em órbita em 9 de dezembro de 2013, mas uma falha no último estágio do foguete interrompeu a propulsão 11 segundos antes do previsto. Esse fato impediu o satélite de atingir a órbita pretendida, causando a sua reentrada na atmosfera. O CBERS-4 foi lançado no dia 7 de dezembro de 2014 e o CBERS-4A, agora em 20 de dezembro de 2019, para substituí-lo.
Todos os satélites do programa possuem a forma de um paralelepípedo de 1,8 x 2,0 x 2,2 m com um painel solar de 6,3 m de comprimento, fixado em uma das suas faces, e motores movidos a hidrazina, para estabilização. Por isso, possuem, vida útil estimada em 3 anos. Os modelos da segunda geração possuem fonte de alimentação mais potente (2.300 Watts, contra 1.100 Watts) e são mais pesados (1.980 kg, contra 1.450 kg).
A órbita do CBERS-4A é heliossíncrona (caso particular de uma quase órbita polar) a uma altitude de 628,6 km, perfazendo aproximadamente 14 revoluções por dia. Nesta órbita, o satélite cruza o Equador sempre na mesma hora local, 10h30 da manhã, permitindo assim que se tenham sempre as mesmas condições de iluminação solar para a comparação de imagens tomadas em dias diferentes. O satélite faz a cobertura da Terra em 31 dias. Esse é o tempo necessário para se terem imagens de todo o globo terrestre com suas câmeras CCD e IRMSS, que possuem campos de visada de 113 km e 120 km, respectivamente. Com a câmera WFI, que consegue imagear uma faixa de 890 km de largura, o tempo necessário para uma cobertura global é de cinco dias.
Os satélites foram lançados pela família de foguetes chineses Longa Marcha 4B. São veículos lançadores descartáveis, cujo nome provém de fatos da história da China, sobre a Longa Marcha empreendida por Mao Tse-tung e seus seguidores. Ele utiliza propelente líquido em seu primeiro estágio e cada compartimento possui um tanque de combustível (MMH – Monomethyl Hydrazine) e um tanque de oxidante (N2O4 Nitrogen Tetroxide).
O Centro de Lançamento de Taiyuan (base 25), responsável pelos lançamentos do programa CBERS, está situado na área de Xinzhou do distrito de Kelan província de Shanxi. Foi fundado em Março de 1966, atingindo a operação plena em 1968. É o segundo de três centros de lançamento chineses. Os outros são o Centro Espacial de Xichang, situado na província de Sichuan, e o Centro Espacial de Jiuquan, situado na província de Gansu – mais utilizado para o lançamento de satélites militares.
As imagens do projeto CBERS estão disponíveis no site do catálogo de imagens do INPE, sendo utilizadas no Brasil por empresas privadas e instituições como Ibama, Incra, Petrobras, Aneel, Embrapa e secretarias de Fazenda e Meio Ambiente. Também carregam a bordo repetidores para o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA). Este sistema conta com mais de 800 Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) instaladas no território brasileiro, atuando em diversas aplicações, como o monitoramento das bacias hidrográficas, previsão de tempo e estudos climáticos, estudos sobre correntes oceânicas, marés, química da atmosfera, planejamento agrícola, etc. Com o CBERS 04A plenamente operacional, os usuários terão o dobro de imagens disponíveis, já que o satélite CBERS-4 (lançado em 2014) continua em órbita.
Após 15 minutos do lançamento, o terceiro estágio do foguete liberou o satélite na órbita prevista. Outros oito satélites, de pequeno porte – um deles brasileiro, o FloripaSat-1, desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina –, foram de “carona” no lançador chinês. A primeira passagem do satélite CBERS 04A sobre o território brasileiro aconteceu na manhã do dia 20 por volta das 10h, quando as Estações Terrenas de Rastreio e Controle de Alcântara (MA) e Cuiabá (MT) receberam os primeiros dados.
Na ocasião do lançamento do CBERS 04A, foi realizado um evento no INPE (em São José dos Campos/SP) com recepção às 22h30, visitas guiadas ao LIT (Laboratório de Integração e Testes) pela passarela, retorno para o Auditório Fernando de Mendonça e acompanhamento com transmissão por áudio em tempo-real. O processo todo era narrado por um dos brasileiros responsáveis pelo programa. Não houve transmissão em vídeo por “questões de segurança” do governo chinês, mas um telão contou com uma animação temporizada para acompanhar todo o processo de lançamento e outro telão para acompanhamento da trajetória do satélite.
ATUALIZAÇÃO – Após uma semana de testes com todos os subsistemas do satélite e de uma sequência de manobras para colocá-lo em sua órbita nominal, as três câmeras do CBERS 04A foram ligadas sobre o Brasil de 10h56 a 11h07 (horário de Brasília). A estação terrena do INPE em Cuiabá, MT, recebeu e gravou os dados brutos das câmeras WPM, MUX e WFI, que foram processados em São José dos Campos, SP. Durante os três meses seguintes, serão avaliadas a qualidade radiométrica e geométrica das imagens das três câmeras – fase essa chamada de comissionamento. Após feitos todos os ajustes e emitido um relatório final, o satélite será então declarado operacional.
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